sábado, 31 de dezembro de 2011
Votos de um 2012 radical
Desejo-vos o que me desejo, pois bem disso careço: Revolução interior, abolição da ficção do ego, explosão de amor e compaixão por tudo e por todos!
Só assim faremos a Diferença e seremos a Alternativa que este fim de ciclo de civilização pede de todos nós. Só assim seremos credíveis obreiros de um Outro Portugal, uma Outra Europa e um Outro Mundo, em nós erguidos das ruínas deste canto de cisne tecnocrático, economicista e financeiro, que esgota todos os balões de oxigénio da natureza e da Vida.
Conto encontrar-vos, com espírito não-violento, pacífico e positivo, na manifestação de 10 de Janeiro, às 18.30, no Rossio, em Lisboa, contra a venda da EDP, mas sobretudo a favor de ética na política. Uma manifestação que não é contra os chineses nem contra ninguém, mas acima de tudo contra a nossa apatia e a favor de uma nova sociedade e civilização, fundada na consciência, no amor e no respeito por todas as formas de vida.
Bem hajam!
sábado, 24 de dezembro de 2011
BOAS FESTAS
mesmo ao multimilionário RICARDO DIMAS
e a todos os milionários do mundo
que conseguiram fortuna pelos seus métodos
BOM NATAL também ao José SÓCRATES
e ao deputado da atual Assembleia da República
que desejava felicidades a todos os emigrantes
à exceção
do que tinha emigrado para Paris
para estudar Filosofia
BOM NATAL aos norte-coreanos
que ainda agora hão de chorar
a morte do seu GRANDE CHEFE Kim Jong II
mais do que todos os cristãos
alguma vez choraram a crucificação de CRISTO
e acreditam na sua santidade
pela neve e trovoada que tombaram sobre Pyongyang
no decurso
das exéquias funerárias
e porque as águas de um Lago sagrado se cindiram
e porque uma montanha rochosa enorme
num minuto se tornou urbano montículo de lixo
BOM NATAL a todos os católicos
que acreditam que Jesus subiu aos Céus ressuscitado
libertando-se de um pesado inviolável túmulo de pedra
e aos muçulmanos todos
para quem Maomé também subiu aos Céus
chegado aí cavalgando a sua pura égua Kamsa
BOM NATAL aos Budistas todos - adoradores do gorducho e sempre sorridente Buda
aos hindus de Brahama
e de seu TRIO
aos crentes em todas as Tríades da História
:
- triunviratos
- trindades
- adoradores da própria TROIKA
BOM NATAL aos animistas todos
aos que adoram o Sol o Sado e os golfinhos
mas também as menos simpáticas taínhas
dos cais de Setúbal e de Troia
Bom Natal aos chineses que nos invadem o Comércio
e aos que não emigram e ficam por lá
a construir barragens e a semear os campos
e a ganhar dinheiro
para nos comprarem as nossas EDPs
aos que cultivam o ópio no Afeganistão
a coca na Colômbia no Chile no Perú
cannabis em Marrocos Argélia África por inteiro
até nos quintais de Albufeira
ou onde reste uma leira de terra das couves e dos nabos
BOM NATAL a todos os drogados
e a seus familiares a vida inteira de ressaca
sem alguma vez terem experimentado a droga
BOM NATAL também aos traficantes
e aos dealers
e aos barões que têm os filhos a estudar em Londres
e nas melhores Universidades da América
e têm apartamentos no Dubai em que todos os metais
para uniformizar são ouro
BOM NATAL aos que produzem toda a droga
arriscando a vida porque eles próprios são pobres que nem JOB
aos mineiros que escaparam no Chile do fundo de uma mina
e a todos os milhares de milhares de companheiros
que esgaravatam a terra com perícia de toupeiras
BOM NATAL a todos os que têm casa nos 5 continentes
mas também áqueles
para quem o cemitério será
sua não última mas primeira moradia
se me permitem - aos SEM e CEM abrigos
BOM NATAL a todos os com defeitos físicos
aos invisuais
porque não conseguem ver
mas também aos cegos
que não vêem porque não lhes agrada ver
aos acamados aos doentes terminais
às enfermeiras e aos médicos
aos que trabalham e aos que estão em greve
aos que acreditam
que houve Jesus Cristo filho de Deus e de Maria
que foi menino
e nasceu mesmo neste dia 25
ou teria sido 24?
há 2011 (ou serão 2012?) anos
mas sobretudo um BOM NATAL
aos que mesmo não acreditando em nada disto
são bons
e honestos
e justos
e solidários
e pacíficos
e simples
capazes de todos os milagres
como se fossem CRISTO
penhamata
emana, irmana o perfume de cedros e montanha
na pele as rosas e os musgos,
o fado a chama, a chamada
os melros, os cerros, e a montada
na lunação do véu uiva a aurora,
a sede, acende, ascende, nascente.
Mensagem de Natal
Há cerca de três anos não conhecia sequer os blogues e o Facebook. Circunstâncias várias aqui me trouxeram e, sobretudo o meu envolvimento com o PAN, fez com que no Facebook rapidamente me visse a gerir várias páginas e com uma comunidade de muitos milhares de amigos e apoiantes. Nesta passagem das actividades mais espirituais e culturais a uma acção mais pública, em prol de causas que de todos são conhecidas - direitos humanos, direitos dos animais, ecologia, universalismo cultural e diálogo inter-religioso - , tenho feito muitas amizades e diminuído ou perdido outras, o que tem sido raro. Tenho também encontrado adversários e até inimigos, como é natural. E muitos indiferentes, como também é natural.
Seja como for, nesta véspera de Natal, em que se comemora, consciente ou inconscientemente, a possibilidade de em nós nascer um Homem Novo, quero desejar a todos, e mesmo a todos - pensem, digam e façam o que pensarem, disserem e fizerem e gostem ou não de mim e do que penso, digo e faço - , toda a Felicidade do mundo e agradecer-vos por vos conhecer e pelo privilégio de partilhar convosco a aventura desta existência. Digo isto sobretudo aos meus adversários e inimigos.
Quero também dizer-vos que vejo hoje confirmar-se o que desde criança pressentia: que iria assistir a grandes coisas e a grandes mutações na história do mundo e que iria ter parte activa nelas. Estamos na verdade num momento dramático, crucial e decisivo da história de Portugal, da Europa e do planeta, em que somos confrontados com grandes dificuldades, a maior das quais é a de enfrentar as consequências da devastação que a humanidade tem causado na Terra, nos animais e em si mesma, bem como o novo obscurantismo que sobre todos nós se abate, sob a forma da ditadura económico-financeira de um capitalismo selvagem sem quaisquer princípios éticos que visa reduzir a população mundial a um novo exército de escravos ao serviço da avidez e ganância das forças obscuras que se ocultam por detrás de governos e partidos do poder. Isso é mais imediatamente evidente em Portugal, um país e uma cultura milenar de gente boa que está a ser destruído por sucessivos governos, a ser ocupado pela banca mundial e a ser colonizado por potências obscuras como a China.
Cabe-nos a todos sermos Resistência e Alternativa, criar práticas culturais, sociais e económicas que sejam o embrião da sociedade futura, construir a ponte entre uma civilização que morre e outra que aflora à luz do dia. Para tal somos todos necessários: movimentos de cidadãos, forças políticas e culturais independentes do poder estabelecido e que não visem mais do mesmo, indivíduos conscientes. Temos de nos unir, organizar e agir. É necessário inverter o processo que tem afastado da política as pessoas boas e competentes, com princípios e valores, com sentido do bem comum, para a deixar nas mãos dos medíocres, corruptos e vendidos a quem mais lhes paga. Política haverá sempre: se não queremos ser vítimas dela, temos de a exercer em prol da justiça e arrancá-la ao domínio dos grupos económico-financeiros. Não nos espera tarefa nada fácil, dado o poder e a violência das forças da ignorância e da ganância que se abatem sobre humanos e não-humanos e devastam a Terra. Temos todos de nos superar, indo buscar energias que agora desconhecemos, mas que são desde sempre e já presentes no mais íntimo de quem somos. Muitas tentações surgirão, como a de desistirmos, nos acomodarmos e dividirmos. Vencê-las-emos se nos motivarmos pensando no socorro dos que mais sofrem e na importância de assegurarmos um futuro para a Terra, para os nossos filhos e netos, esquecendo fins e interesses pessoais, de modo a que possamos morrer com a consciência do dever cumprido. Só assim seremos a Diferença e brilharemos, sem orgulho, como um relâmpago eterno na mais escura noite. Só assim assumiremos as grandes responsabilidades que nos esperam, estrelas cravadas no firmamento das nossas vidas.
Beijo-vos e abraço-vos, uma a uma, um a um
Boas Festas!
Que nasça Hoje e Sempre em nós uma consciência ética universal, que nos leve apenas a pensar, dizer e fazer o que vise o Bem de tudo e de todos, humanos e não-humanos!
Paulo Borges
24.12.2011
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
Procuro o ponto de fuga.
Desenho o luar em cada noite escura.
Despeço-me do sol.
Na monotonia do amarelo, deito-me e sonho
com o mar que caminha para a montanha,
até que a terra encontre o céu e o azul tome conta da cor.
Descubro no gesto o sentido.
Entre a mesa e a janela, da minha casa
Mora teimosa uma parede amarela
Cansada, debotada na cor,
Delicada, encosto meu corpo
Apoio no ombro a vontade de ser
Abro a janela, abraço a liberdade.
No horizonte - vida.
domingo, 18 de dezembro de 2011
JARDIM ZOOILÓGICO
só partículas atómicas
mesmo essas gravitam
em movimentos apenas aparentemente
determinísticos
segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
domingo, 27 de novembro de 2011
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
peace inducing landscape II
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
terça-feira, 22 de novembro de 2011
domingo, 20 de novembro de 2011
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
domingo, 13 de novembro de 2011
P´RA PULAR
sábado, 12 de novembro de 2011
terça-feira, 8 de novembro de 2011
domingo, 6 de novembro de 2011
banquete filosófico: do amor platónico (e de outras coisas que nos fazem suspirar)
2500 anos depois, regressa o Symposium
«Para alguns intérpretes, o conceito de amor em Platão em O Banquete é irracional e explicado pela natureza.»
e para si, o que é o amor?
venha partilhar connosco. garantimos boa disposição e um menu confeccionado pelas mãos do grande chef José Besteiro.
sábado, 5 de novembro de 2011
terça-feira, 1 de novembro de 2011
"When injustice is law, resistance is duty" Thomas Jefferson
Falta pouco até que todas as capitais se juntem numa só marcha
Pelo Respeito e pela Verdade! O nosso conhecimento jà é demais,
Vemos pelos satélites quanto custou o que voces deitam fora
Que nós poderiamos provar de bom grado, e saborear juntos, se
Nao tivéssemos de nos agarrar ao emprego de que nao gostamos!
Mas nao somos preguicosos nem nunca seremos mentirosos!
Podem ficar com vossos iates e vossos aquàrios em quarentena
Longe da presenca de pessoas normais cujas maos vos dao,
Indirectamente, de comer, enquanto là especulam nós festejamos
Com o emocionalmente necessàrio de que precisamos para ser felizes!
Jà vos demos décadas de chances para sairem desse buraco negro
Porque sabemos tudo que sempre se tem passado, mas parecem nao
Querer ouvir que estao errados e existe honestidade neste mundo
Que usa o coracao como arma para defender a imortal alma humana,
Em vez da vossa infantil ganancia presuncosa dum estatuto jà podre!
Nao existem ofertas à vista, sò promocoes para enganar ceguinhos
Que là se deixam escravizar esperando as proximas eleicões – Eles
Atè do lixo dos supermercados nos fecham à chave, com lixivia ou
Vidros espalhados como presente de Natal para enregelares sem
Telhado onde chorar as misérias que o despedimento te faz passar!
Foi jà à muito esquecido o que diziam que tinhas tanto jeito para fazer,
Tiveste de crescer, trabalhar para ajudar a familia, sacrificar talento
Pela elite que os economistas alimentam como se fosse direito feudal,
Trocar neo-liberalismo por ética pessoal e ver-se consumido pelo bicho
Acumulativo, dinheiro-dependente, mandando outro milhao para a veia!
Nós culpamos o sistema como se este nao fosse comandado por pessoas
Que se maltratam e se burlam pelas hipócritas costas mal querem e podem,
Cobaias dentro do mesmo obscuro jogo egoista por lucro e mais-valia,
Brincando com o escalpe das nacoes e as reformas dos nossos pais por
Algum orgulho obtuso de ser o perverso que quer sempre ficar por cima!
Fui e voltei das compras, està tudo mais caro e todos perguntam porque?
A lei dos politicos è devota aos bancos que definem a mesada dos paises!
Queria sonhar com bombas que matem só aqueles que nao sabem partilhar
Porque nunca precisaram, era o mordomo que ia às reunioes da escola,
Nunca conheceram a visao de uma migalha de pao servir de refeicao…
…mas conhecerao! Jà que nada faz sentido e o ouro foi trocado por papel,
Quero que roubem, que se manifestem, que recusem cada injustica diaria
Tal como a militarizacao da vossa liberdade imbuida na iliteracia da policia
Que em vez de proteger, persegue, e em vez de servir, manipula e decide!
O amor da maioria jà cintila por revolucao, independencia e bom senso!
Basta de gozarem e escarrarem nas esperancas dos que vos fazem ricos,
Ouco os passos mortiferos do cadafalso aproximarem-se silenciosamente
E imparàveis por serem protegidos pela Razao e guiados pela Vinganca!
Outubro 2011
Tallinn
domingo, 30 de outubro de 2011
banquete filosófico: do amor platónico (e de outras coisas que nos fazem suspirar)
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
sábado, 22 de outubro de 2011
finalmente OUTONO
para as lavar
estão aí
sábado, 15 de outubro de 2011
segunda-feira, 10 de outubro de 2011
PARABÉNS
domingo, 9 de outubro de 2011
O Casaco Bege. Divórcio
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
VALE A PENA
quarta-feira, 5 de outubro de 2011
terça-feira, 4 de outubro de 2011
Do fundo sem fundo de Todo o Mundo vimos
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
SISIFO
domingo, 2 de outubro de 2011
VÁ PARA OS BRAÇOS DE MORFEU
“A terra dos sonhos foi localizada em algum lugar no submundo, provavelmente perto do domínio da Noite e seus filhos. Poetas muitas vezes se referiam a dois portões principais do reino dos sonhos. Um portão tinha molde de marfim serrado, o outro de chifre polido. Sonhos falsos passavam pelo portão de marfim, enquanto verdadeiros sonhos proféticos asavam a sua saída pelo portão de chifre. Houve também quem disse haver um olmo murcho no domínio de Morfeu, sobre o qual os sonhos tratados pelo Onírico eram pendurados, com o semblante de asas-fantasma-forma saindo para a noite para se suicidarem, esgotados pelos desejos humanos.”
Um cansaço bíblico chega, qual mastodonte correndo pela planície durante meses a fio. E baloiça com seu momentum cansando homens e mulheres que tiram as roupas encharcadas de trabalho persistente
Acendem cigarros, enrolados por mãos tremebundas, cansados como retratos de gente cansada
Sacodem a roupa, acendem o último cigarro
Cansados como retratos de gente cansada cristalizando por arquétipos, esfaimados com raiva cega por absurdos. Atiram-se a suas enxergas, como os mastodontes desfalecendo no fim do caminho; e se encasulam para renascer na dobra de lençóis com piolhos
Sendo certo que por tais momentos, as paisagens se reconstroem placidamente... Açucaram-se em monumentalidades estupradas por gargalos de garrafas e enroladas nos últimos cigarros tremidos
Coros silenciosos colam na epiderme baça, choram um uivo, rezam um consolo despenteado nas dunas desses lençóis. Se abafam num sono de papel para comprovar a nação de maravilhas onde querem alternar
São os cansados que dormem num caixão de veludo masturbando a saudade em várias formas. Um pesadelo ou acontecimento faustoso não tem diferença para o ideal consumo do ópio em pratos invisíveis
Mas no seu sono ainda são sonâmbulos, pálidos restos desdobrados em ridículos teatros de mastodonte e lençol. Vasculham alegrias mirradas pela voragem dos dias nos caixotes de lixo das coisas imateriais...
Onde vão comprando caro as fantasias melifluas sob a lua amarelada, em sentido, falsa. Prosseguindo o estado repetido de asas de não-sei-quê a bater na cara.
sexta-feira, 30 de setembro de 2011
Miguel Sousa Tavares ou A Queda de um Anjo
Confesso que resisti muito tempo a escrever alguma coisa sobre o ainda recente comentário de Miguel Sousa Tavares na SIC sobre a abolição das touradas na Catalunha. Resisti porque os argumentos de MST se refutam a si mesmos e, sobretudo, porque tenho pudor em acrescentar alguma coisa aos vários tiros que o comentador deu em público na sua própria imagem pública. E cada vez mais, agora, ao ver as reacções e insultos de que é objecto por parte de muitos cidadãos, justamente indignados com o que disse (embora não me reveja na violência de muitos ataques pessoais), sinto pena deste homem. Sinto pena de um homem que entrou na fase de estrela decadente, tanto mais baça e em queda acelerada quanto mais pretende brilhar à custa de atacar causas justas e de defender o indefensável. Sinto pena por mais esta “Queda de um Anjo”, para recordar o romance do grande Camilo Castelo Branco.
Não me quero alongar sobre o que disse MST, que já teve no Facebook várias respostas à altura, entre as quais a de Lucília São Lourenço, de Mário Amorim (CAPT) e do meu cunhado Richard Warrell. Noto apenas, com tristeza, a incapacidade, de MST e dos que apoiam as touradas (ou a caça e todas as formas de violência sobre animais), de se colocarem na perspectiva e no lugar do outro, que neste caso é o animal, violentamente sujeito ao sofrimento para diversão do homem. Não ser capaz de se colocar no lugar do outro, não ser capaz desta exigência indispensável de toda a ética, e não perceber que é esta a razão pela qual há tanta e cada vez mais gente que se opõe às touradas - e não uma simples questão subjectiva de gostar ou não gostar de um espectáculo - , é uma terrível limitação da sensibilidade e da inteligência. Mas MST e os que pensam como ele, como o autarca Moita Flores, sem perceberem que porventura se estão a ver ao espelho, têm ainda o desplante de afirmar que são os outros que têm “falta de cultura” e que seguem o “caminho da estupidez”… Isto é triste. Muito estúpido e triste.
Muito estúpido e triste também, mas grave, muito mais grave, é a comparação da violência nas touradas, imposta pelos homens aos animais indefesos, com os perigos voluntariamente assumidos pelos participantes nos combates de boxe e nas corridas de automóveis (ou ainda o considerar a parvoíce de um programa televisivo, que se pode desligar a qualquer momento, mais violenta do que as touradas). Este raciocínio, além de só mostrar desonestidade ou falta de rigor intelectual ou as duas coisas, o que tenta é branquear a violência dos mais fortes contra os mais fracos reduzindo-a a desporto. Isto é preocupante, pois nesta ordem de ideias o que nos impede de considerar desporto as violações, os assassínios e todo o tipo de atentados contra a integridade dos seres humanos? Se obviamente repugna a todos nós considerar que as mulheres, as crianças e as vítimas de violação e homicídio participam de um espectáculo desportivo, se não aceitamos ser saudável ou estar no pleno uso da sua razão quem assim pense, o que dizer dos argumentos de MST?...
Mas isto não acaba aqui, não acaba na existência de ideias como as de MST. A gravidade de tudo isto continua e aumenta na promoção das pessoas que defendem estas ideias a “opinion makers”, a pessoas influentes na opinião pública, transmitidas em directo no horário mais nobre de um noticiário televisivo para milhões de espectadores, sem uma voz que exerça a função do contraditório e perante a manifesta impotência ou desistência da jornalista Clara de Sousa quanto ao exercício dessa função. E depois vem MST acusar os opositores das touradas de atentarem contra a “liberdade” e a “democracia”, quando ele é o primeiro beneficiário destes atentados que privilegiam sistematicamente na comunicação social os aficionados e silenciam quase por completo as vozes opostas!...
É isto que hoje mais me preocupa e não tanto a existência de pessoas com as ideias de Miguel Sousa Tavares, Moita Flores e outros que, sem se renovarem interiormente, arriscam-se a ter atingido e ultrapassado o limite do prazo de validade, em termos de sensibilidade humana e probidade intelectual. Espero que assim não seja, mas temo que deles já não haja nada a esperar, a não ser uma deterioração cada vez mais acelerada. O que me preocupa é que, num país e num mundo onde cada vez mais ganha volume uma nova corrente e movimento de opinião, que exige um tratamento ético dos animais (humanos e não-humanos) e se insurge contra as violências a que são sujeitos – corrente e movimento que vejo como o embrião de uma nova cultura e de uma nova civilização - , os nossos órgãos de comunicação social continuem a dar voz apenas aos mesmos de sempre, com os graves preconceitos e ideias aqui expostos. São estas as figuras públicas que nos representam? É este o Portugal que queremos?
Termino pedindo aos leitores que não lancemos mais pedras a MST, Moita Flores e outros. Tenhamos por eles a mesma compaixão que pelos touros e por todos os seres sencientes, humanos e não-humanos. Quem pensa, fala e age em defesa da violência, ou a pratica, não pode estar bem. Peguemos antes nessas pedras e lancemo-las àquilo que em nós houver também de ignorância, preconceito e insensibilidade. E que seja por compaixão por todos – incluindo toureiros, aficionados e todos os que praticam ou apoiam a violência sobre outros seres - , e não movidos pelo ódio e pela raiva, que continuemos a manifestar a nossa justa indignação e a lutar por um mundo onde o direito de todos os seres sencientes à integridade e bem-estar físicos e psíquicos seja consagrado na lei e integralmente respeitado.
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
se a pomba está ao teu alcançe
abraça-a com ternura
como se a mim abraçasses
e se ela foge e recua
canta que ela regressa ao encanto
se for branca, a pomba-rola
coloca em seu bico, uma rosa vermelha
segreda-lhe a minha morada
e se eu tiver partido
com destino desconhecido
entrega a pomba-rola
a rosa vermelha ao mundo
Da consciência do sol nascente
- Henry Miller, in Carta Aberta a Todos os Surrealistas do Mundo
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
EPIFANIA
terça-feira, 20 de setembro de 2011
Setembro
"Setembro sente-se morno no seu manto de terra fogo aconchegado.
E segue ouvindo o cair das folhas, cantando o colher dos frutos.
E sopra o silêncio que afaga o tempo de gotas e o espaço de ar."
Sónia Gomes Costa
DO OUTONO
despidas de vento;
nas asas das aves
voa
para longe
o
Estio.
As folhas
adormecem a terra.
Tíbio, o Sol
caduca o Verão.
Brando o calor,
no Outono tinto
colhido em cachos.
No vagaroso impregnar,
o áureo odor,
silencia.
No leito de Morpheu,
suspende a vida.
Ainda demora
que a Terra expire.
(Sentir e Ser - 2011)
A Dança de Ícaro / Cena II
“Quantas tentativas fizeste para alcançar o sol? Qual o valor do teu esforço? Bem vejo como trocas facilmente o simples e o verdadeiro pelas loucuras dionisíacas! Eu sou o rosto da sabedoria e da justa medida. Todos me veneram porque sou o verdadeiro Deus e tu sempre foste, até hoje, o meu maior seguidor: Ícaro, o conquistador do sol!”
Imune aos pensamentos de Apolo, Ícaro prossegue com a sua dança. E com ela abraça o mundo! Ícaro sabe que a vida está cheia de altos e baixos, ora se cai, ora se levanta… Este momento é de ascensão! Ícaro eleva-se nos céus com Pégaso e as bacantes, acima dos campos e dos rios, e das âncoras dos homens… E à medida que sobe cada vez mais alto, observa as casas, com os seus jardins e cercas, as estradas e as pontes. E como nunca compreendeu o seu lugar nesse mundo, sorri por o ver tão pequeno e distante. Recorda o momento em que o sol sobre as asas de cera parecia ter ditado o seu fim. Frágil e exposto, caiu dos céus em rodopio de pena solta. Após o embate do corpo na terra seca, seguiu-se um longo período de silêncio que tocou a eternidade. Depois, o coro gritou em uníssono: “Ícaro, o irrealista!”; “Ícaro, o ambicioso!”; “Ícaro que queria chegar aos deuses!”; “Ícaro que caiu dos céus e se desfez em mil pedaços!”; “Ícaro!”… “Ícaro!”… “Ícaro!”…
Mas ao Ícaro que dança não pode ser atribuída nenhuma designação. Até porque não se sabe bem se ainda pertence a este mundo. O Ícaro que dança não segura nenhuma máscara e, por isso, perde o seu lugar na comunidade dos heróis trágicos!”
SIBILA