O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Paris



Paris é um Sol de outono.

Um Sol que se pode sentir no irrespirável calor de verão
e na noite mais escura de um vigoroso inverno. E em qualquer ponto do mundo.
É um état d’esprit:

uma certa nebulosidade confortável do mistério humano que invade sem ferir, trazendo uma introspecção amorosa e melancólica e uma feliz contemplação das emoções desprendidas do tronco das inquietudes, como folhas pelo vento;
uma frescura que inspira ao aconchego de um pensamento aveludado,
ao calor romântico do existir,
ao questionamento sentimental,
à sensualidade da alma,
ao enroscar no corpo.

Um Sol outonal, delicado,

um arrepio que a luz conforta numa cadência própria e imperturbavelmente precisa.

6 comentários:

Anónimo disse...

Paris tem nuvens que trazem símbolos de eras e eras de beleza que nunca vimos e só pressentimos; Paris tem os quadros de Chagall disseminados nos olhares das pessoas e nos poetas e nos pintores e tem ruas onde se ouvem embriagados os maiores escritores e onde se encontram os passeios de Rilke, e tem o frio e o sol, e tem o rio e as pontes, a catedral, os bosques, versos pendurados nos ramos das árvores das avenidas, tem nevoeiro que fumega nas nossas bocas quando falamos e sentimos o céu entranhar-se na composição do corpo e ser uno connosco. Sermos nevoeiro, qualquer coisa que é múltiplas formas, e tem livrarias sem fim, e tem margens e música, tem passado e passado e isso cobre os ombros e dá o calor que nenhum outro sol oferece. E agora, Paris, tem este texto teu. E vou saltitar como se estivesse lá de boina na cabeça e luvas e casaco quente e te escrevesse isto com formas de nevoeiro a sairem pela boca.
Depois vou sentar-me em frente a um bosque, neste, e ficar à espera que neve, por entre as árvores secas, mas não mortas. E recordar as capas dos livros de quase todas as editoras que são lindas e moradas para o meu inconsciente.

Esta imagem está no "Paris" e é linda de me roubar daqui.

nas asas de um anjo disse...

eu não tenho o privilégio de conhever Paris, fisicamente, mas voei um pouco por estas palavras e penetrei na imagem linda, outonal...obgda!

Paulo Borges disse...

Belíssimo, Luiza e Isabel!

Grato

Anónimo disse...

"Paris não vale um pensamento" - São Tomás de Aquino.

luizaDunas disse...

Estive com São Tomás de Aquino, e ele disse-me que nunca disse tal coisa, e se o disse foi antes ou depois, nunca durante a sua santidade. Conceição, é uma brincadeira. Sorrio-te.

Anónimo disse...

Que Deus te abençoe, minha filha.