Vê. Que perfume vem do não ter sido
Que alvoradas te semeiam de espanto
No centro do teu peito está a luz
Essa luz que me traz anoitecido
A mesma luz que brilha no meu pranto
tudo em mim transfigura essa luz
Vê. Sempre essa luz alva e dançarina
Sempre sem mácula e alucinante
Tudo é na luz pouco mais que neblina
Uma vaga impressão um breve instante
Vê. O tempo é um voo para além
Não existe o que resiste à mudança
Não há morte. Vê. Que perfume vem
Do Longe que nenhum olhar alcança?
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(Para o Luís. Quando eu tinha 16 anos o seu irmão morreu quase sozinho no hospital Pulido Valente. Só lá estava eu e o meu medo sem nome. No sábado passado lembrei-me do olhar vazio do Zé e do sorriso triste do Luís. Minutos depois soube da sua morte. Uma morte do mundo.).
4 comentários:
Paulo,
É com sentida comoção que leio o sentimento grandioso, enorme que se desprende do belíssimo poema. "...um perfume que vem do longe e que toca as sensíveis cordas do instante. Mágnífico.
Fecho os olhos e imagino essa "morte do mundo", em luz profunda.
Um abraço, um aperto no seu braço.
Tão belo, apesar de triste!
Paulo, este belo soneto é seu? O mundo sempre morre na morte de quem o percepciona como tal.
"Tão belo, apesar de triste"... Como pode a beleza não ser triste, neste desterro que somos!?...
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