domingo, 10 de fevereiro de 2008
Êxtase Musical e Erótico
"O meu supremo querer, esta vontade persistente, íntima, que me consome e esgota, seria de nunca regressar dos estados musicais, de viver exaltado, enfeitiçado e perdido numa embriaguez de melodias, numa ebriedade de divinas sonoridades, de ser eu próprio uma música das esferas, uma explosão de vibrações, um canto cósmico, o voo em espiral de ressonâncias. [...] E a minha felicidade é tão frágil, rodeada de chamas, atravessada de turbilhões, quietudes, transparências e desesperos unidos em élans melódicos que me transporta numa beatitude duma intensidade bestial e duma originalidade demoníaca. Não se poderá viver até ao âmago o sentimento musical da existência se não se pode suportar este inexprimível tremor, estranhamente profundo, nervoso, tenso e paroxístico. Tremer até ao ponto em que tudo se torna êxtase. Este estado não é musical se não é extático. O êxtase musical é um regresso à identidade, ao original, às raízes primeiras da existência. Não há mais nele senão o ritmo puro da existência, a corrente imanente e orgânica da vida. Escuto a vida. Daí nascem todas as revelações.
Não é senão na música e no amor que sentimos uma alegria em morrer, este espasmo de volúpia em sentir que se morre de não poder mais suportar as nossas vibrações interiores. E regozijamo-nos com a ideia de uma morte súbita que nos dispensaria de sobreviver a estes instantes. [...] O remorso de não morrer nos cumes do estado musical e erótico ensina-nos quanto temos a perder vivendo"
- Cioran, Le Livre des Leurres, in Oeuvres, Paris, Gallimard, 1995, pp.114-115.
Não é senão na música e no amor que sentimos uma alegria em morrer, este espasmo de volúpia em sentir que se morre de não poder mais suportar as nossas vibrações interiores. E regozijamo-nos com a ideia de uma morte súbita que nos dispensaria de sobreviver a estes instantes. [...] O remorso de não morrer nos cumes do estado musical e erótico ensina-nos quanto temos a perder vivendo"
- Cioran, Le Livre des Leurres, in Oeuvres, Paris, Gallimard, 1995, pp.114-115.
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2 comentários:
...e assim se morre...
de tanto viver. pelas aragens da música. pelo sagrado ofício de in.viver à sombra do êxtase.
.
e eis como a palavra sobre à montanha.
:abraço.
ai ai ai...
Errata: " sobe " e não sobre...
desculpas.
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