O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Quão narcisista sou

Penso que a cidade me faz sentir falta de amor e de proximidade com os outros. Nunca sentiram isso? Ninguém se conhece e está-se tudo um pouco marimbando para os outros. É um meio que existe por pura necessidade e um antro de ambição e ganância. Tem também os seus centros de cultura, que de resto deveria estar mais disseminada pelo país, mas repletos do snobismo citadino característico. Entre uma vida em paz, numa vila ou aldeia, sem os desejos escondidos que alguém tenta desvelar em mim, e mesmo mais ignorante, e uma vida na cidade, repleta de indíviduos com expressões feias e uma pseudo-cultura, prefiro sem dúvida a primeira. O problema é que não posso: não há trabalho nas vilas ou aldeias, porque lá também há compadrios. Guardo, em mim, uma réstia de optimismo, já que a espiritualidade se me foi, que me diz que tudo há-de acabar bem, como se a vida fosse um filme hollywoodesco... não é. Penso que a cidade não tem remédio, porque é um covil disfarçado de ampla luminosidade, mas as nossas vidas. Nesse sentido, sou completamente individualista, porque penso que cabe a cada um de nós - mais uma banalidade - mudar as suas próprias condições de vida, de forma a aproximá-las o mais possível do que sonhou. De resto, isto até está de acordo comigo, que não pertenço a partidos, clubes, associações, grupos... Mas um post deste género só serve para mostrar quão narcisista sou. Hehehe. A minha espiritualidade, que talvez seja demasiado fraca, morre quando entro na cidade e renasce no preciso momento, que é dos mais poéticos que já vivi, em que me preparo, na estação de camionetas, para embarcar rumo à vila... é tão poético, ver todas aquelas pessoas em fluxo, de malas aviadas, prontas para partir na noite para lugar nenhum, para as suas casas, para longe das mesmas... não há nada mais poético do que gares de camionetas, aeroportos, portos de embarque. Nada. Nem o pôr-do-Sol, que é mais místico. Amor.

3 comentários:

Anónimo disse...

Anónimo

As diferenças entre a cidade e o campo são realmente necessárias para vermos o que á de melhor
em nós.
Cabe não ficarmos apenas nesse saudosismo e descobrimos nos centros urbanos o olhar atento do horizonte, as matizes alagam os nossos sonhos.
A felecidade também se encontra na pobreza.

Ana Margarida Esteves disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ana Margarida Esteves disse...

Ja pensaste em abrir o teu proprio negocio no campo? Ou juntares um grupo de amigos e fundar uma ecovila?