A mente universal, una, esclarecida, o Caos. Os gregos dizem ter sido o primeiro Deus, mas os gregos escolheram contar a totalidade talhando-a, seccionando-a, conferindo-lhe forma, de preferência, divina.
O Caos a que me refiro é informe, está para além dos conceitos, arquétipos e de mitos, é a simplicidade, a desagregação derradeira.
Caos, o espaço aberto, amplo, imenso e a visão profunda, lúcida, irradiante e abrangente do todo cristalino e incomensurável; compaixão absoluta, fusão perfeita de toda a antinomia, o final dos paradoxos e paradigma último. Pureza inigualável, intemporal. Infinito vazio de forma e número: o inumerável, onde tudo, tudo é, nada sendo - oco dilatado e profuso, fértil, fonte inesgotável de todos os fenómenos de todas as possibilidades, feliz orgia da forma, som, cor, luminosidade e textura mergulhados em inércia total. Discernimento total mas indiscriminado. O caos é um diamante, uma jóia preciosa, um estado de equilíbrio profundamente instável só dificilmente alcançado. Aqui, só um Buda pode permanecer.
Atingido este patamar, o mais fácil é obrar ( obrar?... Sim, produzir, agir, construir, defecar ) Deus... Acto falhado...Basta que uma mãozinha sabichona se soerga do todo, que algo nomeie a beleza transparente e sublime deste momento para que todos os universos eclodam. Deus é o orgulho de posse que se ergue desse estado de amplexo primevo, é um vespão com a mania que é perspicaz! Deus destacando-se do todo. Aplaudindo-se! Deus, o estupor, que em mim, gosta de classificar e enumerar, determinar e analisar. Deus é o narciso cristalizado que assim criou todas as coisas verdadeiras, mais o diabo, Alter ego com que se desculpa quando a coisa dá para o torto!
6 comentários:
Saúdo este texto certeiro e revejo-me na foto !
Porquê esta raiva contra Deus !?... E este pôr-se ao seu nível... Que orgulho !
O orgulho é imaginar que há um Deus para nos criar e ao mundo !... Encontrar uma justificação para esta terrível ilusão de óptica de haver alguma coisa !... Mas isto cura-se...
Sobre o orgulho nada mais há a acrescentar.
Sobre a raiva resta-me esgotá-la escrevendo, esfregando-a na cara sem vergonha. Enquanto a sentir terei que escrever; outra coisa, dela,não sei fazer, desde que comecei a vos amar mais que a mim própria, desde que descobri que a compaixão começa por me amar a mim mesma.
Gostei ! Gostei muito deste texto, Ana !
Mas, também dos teus comentários "anónimo" que são o mesmo está lá a marca !
Obrigada a ambos.
Raiva de ser, raiva de não ser... Não serão a mesma... ilusão !?...
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