O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sábado, 23 de fevereiro de 2008

Perda ou despedida



Até à data tenho um registo sentido de perda real por morte, muito penosa na altura por ter sido fruto de um atropelamento incompreensível. Perdi aquela minha Irmã Querida. As emoções são as do desassossego, das memórias, da incompreensão. No entanto, não me despedi, o Fim é coisa que não sinto, o que sinto é uma presença. Leve, comunicante até.

Mas não é unicamente a morte de alguém querido que pode trazer a sensação de perda,
há partidas “em vida” de quem nos acompanhou por algum período e de quem nos separamos a dada altura. Partem. Partimos.
Quer sejam partidas com gosto a antecipadas ou demoradas, fica-se sem saber se de facto a vida com eles se cumpriu ou se os perdemos.
Fica-se na ignorância que porventura virá a ser ciência após sacudida a saudade de tudo o que erroneamente consideramos ser nosso ou findo.

E nós?... em contínuas transformações, estamos em frequente perda ou até despedida de nós próprios.
Ninguém pisa duas vezes a mesma água do rio?…
ai que perdição.

3 comentários:

Luar Azul disse...

A morte é permanente, tal como o nascimento, ou, como diz a velha frase, só o impermanente é permanente. daí que tudo se cumpra e nada se cumpra; não há despedidas pois tudo o que temos próximo é o que amamos e isso seria impossível que se afastasse de nós.

No fundo tudo é o mesmo, eu sou tu e tu és eu, e quanto mais íntegra, mais próxima estarás e vice-versa, e de tudo, de tudo...

Luar Azul disse...

PS - também eu sinto essa presença comunicante dos que partem , e por isso só compreendo os dramas dos funerais por cegueira, apetece-me dizer «então mas se lhe queres falar, está mesmo aqui!! porque tens os olhos cerrados?, de choro e solidão?» é que por vezes apetece dizer: "foi desta para melhor". Embora não seja propriamente "melhor" porque as portas sempre estiveram abertas e o Paraíso nunca começou, sempre esteve em toda a parte.

No fundo é sempre a eterna frase, dita de modo cada vez mais profundo, até à indistinção com a vida: não há longe nem distância (mesmo do Paraíso).

Beijinhos Minha Querida (lanço-te um sorriso ao luar)

luizaDunas disse...

Querido Luar,

"Não há Longe nem Distância" é uma experiência E.terna ...

Abraço.te