O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

o império




o império verdadeiro
é o que se levanta nos estarmos acesos
o pendão bem alto
o chão acossado pela vontade de todos os caminhos
a perdição que rasga a pele do tempo
e do sangue o calor ao rubro
de ser homem sem ter que ser
a escuridar-se em oração
já sem escravos ou deserdados
sem penas nem perdão
já só aqui e agora sempre
sem mandamentos ou salvação
e o paraíso não é um jardim
e o infinito cabe-me na mão
onde na pele assomam as inconsistências da vontade
e o eu se esboroa na dormência da posse
sou porque sou
vivo porque vivo
irmão porque irmão
barco porque barco
porque a razão do que somos é o que somos
libertos das amarguras de termos que ser
ninguém tem que ser o que é
cada um é porque é
essa a alegria
que toca a rebate
na soltura da Hora

1 comentário:

Anónimo disse...

Porque é que a Hora é sempre e nunca é ?