O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sábado, 9 de fevereiro de 2008

Mística do desacordar

Vida da Veneravel Soror Madre Joanna de Albuquerque, folium 60v-r
(aguarda edição essencial de Joana serrado e introdução supra-existencial de Paulo Borges)


e assim estando em oraçaô em prezença deste amante Deoz, meparecia que estava elle despedindo desi huns incêndios rayos deSeu puríssimo e Divino amor, osquais meferiaô comtanta vehemencia, que me sentia abrazar, e depois deestar desfeita em nada, tornava arenascer denovo em as danças daquelle mesmo amor, oqual me fazia unirtanto ao mei Deos, que me fazia a mesma couza com elle, edepois de me perder de mim, me parecia que me tomava a coroaçaô e olevava consigo, e ficando eu em hum desmayo de amor Suavíssimo desacordada de mim me achava muitas vezes em huma regiaô muitas vezes diferente desta, aonde memetiaô em huma caza , e davaô-me aentender, que hera huma adega de vinho, do qual me davâo a beber, ehera elle taô superior, que quanto mais delle bebia, mais me crescia aSede, e âo mesmo passo crescia aquel (60r) aquelle incendio deamor comtanto ímpeto que se medava aentender que estava louca, e fernetica de amor

5 comentários:

Paulo Borges disse...

Joana, a sério, este texto é tão bom que você não pode não levar até ao fim o seu estudo e edição ! Há outras pérolas destas ? E o Querubim, sempre terá asas para voar até Lisboa ?

Ana Margarida Esteves disse...

Fantastico, uma Teresa de Avila Lusitana!

Por favor Joana, estuda esse texto e edita. Uma perola dessas nao pode permanacer obscura. Tem de vir a dominio publico.

Paulo Borges disse...

A mística como fruição absoluta: dançar, amar e embriagar-se com o absoluto, não em ideia mas em experiência total, da carne-espírito e mais além ! É isto que falta à nossa civilização castrada, que para nos tornar proprietários de nós mesmos e de coisas nos rouba à sagrada volúpia do arrebatamento no divino nada !

Ana Moreira disse...

À bem soada caza adega de viño!
À - mãe... Santa Joana Princesa ex-(et)ilada!

Anónimo disse...

obrigada pelas vossas palavras. Isto vai indo, devagarinho, aos soluços. AS vezes desespero, mas agora estou a voltar ao bom caminho. O querubim vai voar entao. Vai ser a sua leitura da Quaresma. As Anas, um beijinho grande. Da Santa Joana e da Joaninha de Jesus.