quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
Monstros
Ser humano: Quanto mais intelectualizado, mais ridículo e monstruoso.
Volto a casa depois de uma palestra com um conhecido sociólogo Norte-americano (vou dar um troféu áquel@ que, de entre vocês, nunca tenha ouvido falar de nenhum@ sociólog@. É sinal de saúde).
O senhor, na sua boa vontade, propôs mais um modelo para compreender a complexa realidade das dinâmicas de grupo e instituições humanas.
Dei por mim a olhar para o palestrante e para a audiência e a achar tudo ridículo, absolutamente ridículo, incluíndo eu mesma e a minha presença alí (que mal agradecida que eu sou, a sentir-me ridícula e a achar tudo ridículo na ocasião em que tenho o privilégio e a honra de ouvir o Prof. X, há tanta gente gostaria de estar no meu lugar). Quem somos nós para julgar que podemos conceptualizar, medir e prever o comportamento humano? Não fazemos mais nada do que criar consruções mentais, castelos no ar que nos aprisionam dentro das masmorras da mente e nos impedem de usufruir do mundo com plenitude ...
O senhor apresentava o seu modelo com um toque de ironia, um humor que, mesmo que sorridente e galhofeiro, não conseguia disfarçar um certo toque de tristeza.
A uma dada altura reconheceu que todos os que estavam na sala, salvo raras excepções, devem ter sido os "nerds" do seu liceu, e que continuavam alí, aos vintes e tais, trintas e tais, quarentas, cinquentas, a exorcizar a saudade dos amores de adolescentes que não tiveram, das tardes de sol que não aproveitaram, da rebeldia que não exprimiram por medo, conformismo ou pela perspectiva de recompensas dos professores, dos pais e dos futuros empregadores.
Saudade esta que motiva as tiradas cínicas que muitos universitários dão aos desportistas, estrelas de cinema, "hippies", ricaços, místicos dos quatro pontos cardeais, meninas apaixonadas, políticos, meninos libidinosos, mães-galinhas, libertinos e "bom-vivants" de toda a espécie.
E que os impulsiona a passar o resto da vida a criarem modelos mentais para justificar a sua própria existência.
Ironia esta que mal disfarçava dúvidas sobre a utilidade de todos nós enquanto intelectuais, profissionais e seres humanos.
Ache que não é coincidência que o primeiro ano de um programa de Doutouramento tem uma carga de trabalho de tal modo pesada que obriga o estudante a desistir de todos os seus interesses e reduzir a sua vida apenas ao trabalho, ao mental.
Anestesia-se os sentidos. Aliena-se o corpo. Desleixa-se a práctica espiritual.
Para que nos anos seguintes o estudante se sinta culpado quando faz outra coisa sem ser trabalhar.
E que pelo caminho produza, produza, produza muito. Viva (?) para produzir.
Só agora que cumpri a parte curricular do Doutouramento consegui obter a minha vida de volta e ganhar tempo para outros interesses. Tem sido um esforço o de não me sentir culpada quando não estou a trabalhar.
E o de olhar ao espelho e por vezes conseguir gostar um pouco do que vejo.
Este blogue tem me ajudado a recuperar a sanidade mental.
Obrigada a todos vocês por existirem.
PS - É por estas razões que uma vez escrevi neste blogue "morte aos intelectuais". Queria muito matar a "marrona" que há em mim. Nós somos uma praga. Eu sou uma praga.
No entanto, gosto de cumprir o que prometo e acabar o que faço, por isso vou terminar o Doutouramento. Depois logo se vê;-) ...
Volto a casa depois de uma palestra com um conhecido sociólogo Norte-americano (vou dar um troféu áquel@ que, de entre vocês, nunca tenha ouvido falar de nenhum@ sociólog@. É sinal de saúde).
O senhor, na sua boa vontade, propôs mais um modelo para compreender a complexa realidade das dinâmicas de grupo e instituições humanas.
Dei por mim a olhar para o palestrante e para a audiência e a achar tudo ridículo, absolutamente ridículo, incluíndo eu mesma e a minha presença alí (que mal agradecida que eu sou, a sentir-me ridícula e a achar tudo ridículo na ocasião em que tenho o privilégio e a honra de ouvir o Prof. X, há tanta gente gostaria de estar no meu lugar). Quem somos nós para julgar que podemos conceptualizar, medir e prever o comportamento humano? Não fazemos mais nada do que criar consruções mentais, castelos no ar que nos aprisionam dentro das masmorras da mente e nos impedem de usufruir do mundo com plenitude ...
O senhor apresentava o seu modelo com um toque de ironia, um humor que, mesmo que sorridente e galhofeiro, não conseguia disfarçar um certo toque de tristeza.
A uma dada altura reconheceu que todos os que estavam na sala, salvo raras excepções, devem ter sido os "nerds" do seu liceu, e que continuavam alí, aos vintes e tais, trintas e tais, quarentas, cinquentas, a exorcizar a saudade dos amores de adolescentes que não tiveram, das tardes de sol que não aproveitaram, da rebeldia que não exprimiram por medo, conformismo ou pela perspectiva de recompensas dos professores, dos pais e dos futuros empregadores.
Saudade esta que motiva as tiradas cínicas que muitos universitários dão aos desportistas, estrelas de cinema, "hippies", ricaços, místicos dos quatro pontos cardeais, meninas apaixonadas, políticos, meninos libidinosos, mães-galinhas, libertinos e "bom-vivants" de toda a espécie.
E que os impulsiona a passar o resto da vida a criarem modelos mentais para justificar a sua própria existência.
Ironia esta que mal disfarçava dúvidas sobre a utilidade de todos nós enquanto intelectuais, profissionais e seres humanos.
Ache que não é coincidência que o primeiro ano de um programa de Doutouramento tem uma carga de trabalho de tal modo pesada que obriga o estudante a desistir de todos os seus interesses e reduzir a sua vida apenas ao trabalho, ao mental.
Anestesia-se os sentidos. Aliena-se o corpo. Desleixa-se a práctica espiritual.
Para que nos anos seguintes o estudante se sinta culpado quando faz outra coisa sem ser trabalhar.
E que pelo caminho produza, produza, produza muito. Viva (?) para produzir.
Só agora que cumpri a parte curricular do Doutouramento consegui obter a minha vida de volta e ganhar tempo para outros interesses. Tem sido um esforço o de não me sentir culpada quando não estou a trabalhar.
E o de olhar ao espelho e por vezes conseguir gostar um pouco do que vejo.
Este blogue tem me ajudado a recuperar a sanidade mental.
Obrigada a todos vocês por existirem.
PS - É por estas razões que uma vez escrevi neste blogue "morte aos intelectuais". Queria muito matar a "marrona" que há em mim. Nós somos uma praga. Eu sou uma praga.
No entanto, gosto de cumprir o que prometo e acabar o que faço, por isso vou terminar o Doutouramento. Depois logo se vê;-) ...
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7 comentários:
Mas os monstros mostram... Do latino "monstrare".
Doutoramento = endoidamento, mas não de divina loucura. O problema é o "no entanto": diz-se mal, mas faz-se igual. Ou não. Depende do que se faz no endoidamento e com ele.
Sanidade só pela (morte da) saudade.
eu encaro o meu doutoramento como um treino preparatório, assim uma formação, um estágio, um curso intensivo para escrever um poema magnífico que salve o mundo.
E seria uma forma de eu conhecer rapazes se não tivesse a triste ideia de escolher teologia feminista ... Foi falta de visão, realmente. Se estivesse na História dos Concílios ou na escatologia de certeza que os encontrava...
Não vale a pena sentir isso, Ana. No fundo todos os "intelectuais" têm uma falta de compaixão para consigo próprios. De aí que intelectualizem e queiram explicar e justificar o mundo e semprem falem de compromissos. Não é aquilo que fazemos mas como o fazemos o que pode ser problemâtico, sejamos inetelectuais, carpinteiros ou padeiros.
Nã te sintas culpável do teu talento, por favor!
Concordo plenamente com Luiza Dunas, no que diz mais acima.
E muito obrigado por deixar-nos a Fausto.
Um abraço de alguém também muito intelectual, mas sem arrependimentos!
Estrangeiro aqui e em qualquer parte. Só há um sítio para morar:
Por isso, a minha casa
É o meu jardim
Onde vou arrancado os espinhos
Da roseira da alma
Sete sílabas o vento sibila na tarde
Chovem palavras dor detrás do vidro/Onde vejo a imagem de um rio/Espelho de luz virado para dentro./
Há um trabalho que tem de ser feito, uma missão a cumprir, um serviço a prestar, cada um desempenha o seu papel o melhor que pode... Ofereço tudo o que faço ao Universo, peço a cada instante (a quem? não sei)que tudo o que crio seja unicamente para trazer Luz e Consciência a este planeta. Há um Projecto cósmico cujo objectivo último me transcende, limito-me a permitir que ele se concretize através deste ser humano que sou, entrego-me à obra tentando racionalizar o menos possível. Que o Universo disponha de mim para os seus desígnios, quanto menos resistência (quanto menos ego) melhor...
«Que farei eu com esta espada?»
Ergueste-a, e fez-se...
(acho que pensar assim é muito libertador)
Um abraço e um bom trabalho para todos
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