O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 19 de agosto de 2008

Ser Universal

Quando falo e sou eu, não falo e sou pelos outros, mas por mim, sendo que eu já sou os outros, não preciso, nem me é possível, tornar-me naquilo que eu já sou. O dia existe sendo a noite, assim, eu existo sendo os outros, pois os outros eram já o que eu era antes de me revelar. Não há oposição, há apenas revelação do que antes já havia - como no desenvolvimento de um feto ou da semente de uma planta.
Tudo o que existe hoje no mundo existe desde o princípio, a passagem do tempo está apenas a revelar o que encoberto ainda há, até que totalmente se descubra e se crie como ser universal que é.
A Terra, como Plan-e-ta que cresce, desenvolve-se naturalmente, por si, e como ela o ser humano, ao ser uno com ela. A influência do consciente -i-solado- do Homem sobre si próprio é igual à do consciente da flor sobre si mesma, que, como não o tem, é nenhuma.

35 comentários:

Paulo Feitais disse...

Quem fala assim não é gago, ao contrário do Aristóteles.
As plantas têm insciência em de si. Mas talvez sejam consciência no e do todo.
Pelo menos as plantas dos nossos pés são muito sensíveis. Nós andamos plantados e talvez nos plantemos, andando.
:)

Paulo Feitais disse...

O "em" está mal plantado. ;)

Unknown disse...

Essa do gago tem piada tem ... :P

Os gagos, gagos... fraquinhos... que só conseguem mostrar a fragilidade que sente o seu coração. Quem sabe sempre o que dizer é que é bom... quem se já esqueceu que é pelo silêncio que se sente ser, se é.

Unknown disse...

O Aristóteles era gago??

Paulo Feitais disse...

Já li um texto académico que diz que sim. E os textos académicos não são gagos, mesmo que não sejam peripatéticos. ;)

Paulo Feitais disse...

O Platão quando discutiu com ele devia estar de gabardine. ;)

Unknown disse...

Porquê?

Paulo Feitais disse...

Imagina os gafanhostos! Devia ser um espectáculo medonho. O Platão disse que o homem parecia um potro aos coices. Acho que o Platão não pintou o quadro todo.
:)

Unknown disse...

Mas ó Paulinho eu sou gaga e não atiro gafanhotos a falar! :)
Só às vezes a rir-me... mas aí é baba de alegria, não conta! :P

Unknown disse...

é quase como se fosse baba a brincar...

Paulo Feitais disse...

Mas estou a falar do Aristóteles. ;)
Eu também já fui gago, mas nunca fui aristotélico. Mas às vezes há uns gafanhotos que se me lançam em direcção dos alunos. Como vão com um efeito de bola de sabão, consigo salvar a situação quase a sempre a tempo. Mas a coisa com o Aristóteles devia ser de arromba. ;)

Unknown disse...

dos meus maiores medos-complexos é mesmo esse... a gaguez... é esse que me tendeu a viver mais fechada... e a aninhar-me em mim e a brincar com os meus pensamentos... do "defeito" nasceu este meu discorrer literário... se é qualidade ou maior defeito ainda... não sei, a minha criança só quer brincar mesmo... com um ou com outro tanto lhe faz. :P

Unknown disse...

Quanto ao andar... principalmente descalço, estimula o sistema digestivo, os intestinos em especial, a nossa raiz... andar é mesmo plantar, portanto. ;) Plantar-nos.

Paulo Feitais disse...

Olha, eu às vezes "apanho" coisas no ar. Eu passei 9 anos numa escola onde tive uma experiência infernal. Isso marcou-me muito. Só agora parece que consigo andar com pé firme, por assim dizer.
E se a gaguez te conduziu ao que tu és agora, acho que ela é uma benção.
E não te digo isto por dizer. Eu nunca falo por falar.
Há quem não pense, mas eu sou do Silêncio. Mas quando grito, o silêncio vem do mais fundo.
Anita, eu não gosto de me escancarar publicamente, pode parecer, mas não gosto. Mas tem sido importante encontrar-te por aqui. Digo-te isto sem apegos ou quaisquer outras intenções.
Há presenças que iluminam a nossa vida quando estamos mais necessitados duma luz.
Por isso, um ser grande pode ser gago. É um tirocínio para a fala angélica. ;)

Unknown disse...

:) É... a alma lusa parece-me que é aí que vence - ou me vence a mim... que me dá no mesmo. De sermos autênticos... ´pessoalmente preciso é de soltar essa autenticidade... que me deixem soltá-la... mas para isso é preciso que se deixem a si mesmos... é para aí... deitar fora as amarras invisíveis.

Paulo Feitais disse...

É isso mesmo.
A autenticidade, tem a ver mesmo com o espírito lusídada, ou luso. Sermos portadores da luz e não lhe colocarmos obstáculos.
:)

Unknown disse...

Agradeço os elogios... também estou muito grata por falar contigo...
mas quanto a méritos... é coisa que não me diz nada. Sou o que sou.
Benção divina ou diabólica... não altera o que sou, nem o que de mim sinto - ou do mundo. :) Só conheço o amor... e o mundo da realidade física... a música.

Unknown disse...

e a criança que fui e que ainda em mim vive... ela não reclama por juízos de valor ou desvalor... só reclamar por justiça... mas não a desta sociedade... a do sentimento livre.

É nele que me sinto, como o eterno Agostinho...

Paulo Feitais disse...

Não são elogios.
E a música, sim.
Há seres que são musicais, vibram e fazem vibrar. Da polifonia faz-se a sinfonia. A primeira é absolutamente necessária. A segunda só é alcançada se nos fizermos ao mar, por assim dizer. E a plenos pulmões sorvermos a vida.
Mas para mim (e acho que para ti também) o físico é meta-físico. Transporta-nos e transborda-nos.
:)

Paulo Feitais disse...

E a Justiça, sim. Que no Tarot aparece com o nº 8 que, deitado, representa o infinito. :)

Unknown disse...

O físico é obra do metafísico amor, como pode com um Pai destes não o cumprir tão bem...

Unknown disse...

por isso pensar o físico só pode ser como vendo-o assim... amorosamente... outra vez Agostinho :P

Paulo Feitais disse...

É.
O Amor é tudo.
A chama que a tudo aviventa.
Cumprir o Amor é uma divisa sagrada.
:)

Paulo Feitais disse...

"Ama e faz o que quiseres".
A Loucura da divina cavalaria.
:)

Unknown disse...

é tão esquecido o que é óbvio... toda a vida é amor, o que não seja vindo daí não chega a existir.

Unknown disse...

é tão esquecido o que é óbvio... toda a vida é amor, o que não seja vindo daí não chega a existir.

Paulo Feitais disse...

Isso é bem verdade.
Amar é libertar, libertando-nos e a tudo.
Posso parecer contraditório, mas acredito nisso.
Não se podem colocar barreiras ao Amor. Se Ele existe deve poder ir ao encontro daquilo para tende. Que pode ser algo muito além de nós.

Unknown disse...

http://br.youtube.com/watch?v=8HTcgTx9MSM

e se basta.*

Paulo Feitais disse...

Anita, essa canção iluminou a minha noite. A pomba branca que surge no vídeo, assim tão grácil. E pedir um pouco de céu não é muito. E por vezes queremos dar-nos duma maneira que gera o inferno. Um pouco de céu... Pode negar-se isso? (Isto é uma pergunta para mim). Quem ama, se ama com a força total do universo só pode ir ao encontro. O desconhecido mete medo. E trazemos tantas coisas agarradas que é difícil olhar o céu.
Enfim...
:)

luizaDunas disse...

BonDia Anita e Paulo,


Entro no Ser Universal, e comecei a ler-vos. O que eu mais gosto na Serpente é que sendo um espaço público, não o é. Quem entra, entra num espaço privado, o das Almas que se encontram.



A loucura da divina cavalaria... com esta, Paulo, me deixas quase sufocada do coração.

Paulo Feitais disse...

É Luiza.
Eu não sou um louco em busca de aventuras. Sigo preceitos muito estritos. Estou a ser sincero, o meu coração não é um vaso rachado colado com cera, "sine cera".
Acredito que somos permeados por um Amor que a tudo transcende. Talvez seja aquilo a que o budismo chama vacuidade. Mas não quero entrar por aí porque não gosto de contaminar a minha visão do Dharma.
Quando encontro alguém que tem profundeza, mergulho. Como um recolector de pérolas. E se alguém me mostra luz, eu digo.
É claro que há riscos. Mas eu acho que estamos nesta vida para nos fazermos ao mar. De cara bem destapada. Por exemplo, aqui nunca venho como anónimo. Venho sempre com o rosto descoberto.
É muito difícil de explicar, mas quando estou com o meu filho, repito mentalmente muitas vezes: "cuidado é só mais um ser humano e só mais um ser vivo". Ele não veio ao mundo para ser meu filho, mas para ser ele próprio. E o Amor não é meu nem dele, não nos pertence, é o Oceano que nos banha.
Estender o Amor, dar as mãos aos que encontramos e mergulhar no Sol.
Não há aqui segundas intenções.
É um pouco isto a cavalaria divina, próxima do ideal bodhisáttvico.
Isto pode ser mal interpretado. Mas aí o mal estará na cabeça de quem interpreta. Eu vivo mergulhado no Bem. Daqui ninguém me tira.
E, de facto, aqui têm aparecido pessoas que vibram duma forma muito especial. Mais do que companheiros de jornada, são uma luz intensa a brilhar no mundo. Pena é que pareçam ser poucos. Mas nesta vida as pessoas estão com medo de molhar os pés no grande Oceano.
Mas no fundo, bem lá no fundo, a luz brilha. Só tem que ser assumida.
Costumo dizer aos meus alunos que pior do que tapar o sol com uma peneira, é taparmos o sol com as peneiras. Isso é trágico. No primeiro caso nunca há treva, no segundo a escuridão, do nosso lado, é total.
E não nos devemos dar aos outros só no sentido em que podemos receber isto ou aquilo. Isso é servil.
E este meu optimismo permite-me saber onde está o mal. Em relação a isso nunca me iludo. O mal não se combate, todo o autêntico combate faz-se afirmando o Bem.
Talvez mais tarde escreva algo sobre isto.
:)

Unknown disse...

Porque o mal é uma invenção do Homem... tal como a noção de bem.
Na vida só há dia e noite. ;) Há o existir luz ou nada, que se faz com o nada? :P Nada! :)

Unknown disse...

Perder-se uma luz por uma sombra ou uma não-luz é o ridículo...

Unknown disse...

A terra vai rodando... onde agora faz sombra logo fará luz... quando for a Hora...

Unknown disse...

Paulo, parece que quase tudo dorme e fala sobre assuntos marginais à essência da vida... mas é como um castelo de cartas... basta cair uma que tudo se desmorona em pouco tempo... e se for por Amor, desmorone-se!! ;)