O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


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sexta-feira, 1 de maio de 2009

O desejo esculpe-nos in eternum

" - Mas é viver, é viver este morrer contínuo, nos teus braços e na luz, ou assim, fechados como múmias, já sepultos, com medo do deserto que se ergue em granizo de sangue, e nos lapida... (os deuses todos servos da Morte).Itálico
- Quanto mais o império durar (o império de que a morte é a invisível cariátide suprema), mais raiz teve o nosso desejo, mais fundo foi, mais possível a nossa imortalidade. O desejo esculpe-nos in eternum.
Vemos só o reverso da tapeçaria, que é o império: a tapeçaria, ela, é a eternidade. [...]"

- António Patrício, Teatro Egípcio, p.1025.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Saudade

Eis-me de volta: olá a todos. Agradeço desde já a Paulo Borges por me dar a (segunda) oportunidade para escrever neste espaço. Pensei, para este primeiro post, alterar uma letra dos Xutos & Pontapés, de "só sei que amar é querer-me a mim" para "só sei que amar é querer-te a ti". Feito. Agora, interrogo-me catarticamente sobre o que será a saudade, tão falada neste espaço. Pergunto, então: o que é a saudade? E será um sentimento exclusivamente português? Estamos já a avançar que é um sentimento e a resposta à segunda pergunta é: não, a saudade não é um sentimento exclusivamente português. Penso que sente saudade todo aquele que ama, no presente, e que se encontra apartado do "objecto" amado. Posso estar errado, mas julgo que é quase como o ciúme, sentimento possessivo, distinta da melancolia, sentimento difuso que nos aproxima da apatia. E como distingui-la da nostalgia? Não é a nostalgia o rememorar de momentos passados? E, quando nostálgicos, dizemos - ah... saudade! Li, algures, que a saudade é uma mistura de memória e desejo, o que é bastante óbvio - memória do "objecto" amado, desejo de o ter de novo. Penso, sobretudo, que sente saudade quem ama e que essa saudade é a vontade de ter presente o "objecto" ausente que tanto ama. Talvez fosse interessante distinguir entre estes três sentimentos: saudade, nostalgia e melancolia.

domingo, 24 de fevereiro de 2008



(...) é no estado de loucura que a profetisa de Delfos e as sacerdotisas de Dodona têm proporcionado à Hélade inúmeros benefícios, tanto de ordem privada como pública, enquanto, no seu bom senso, a coisa de pouca monta ou nada se reduz o que fazem.


Platão, Fedro, 244b

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

A vida constitui-se nesse eterno perder

Tudo o que possuímos ou damos como adquirido desaparece para sempre da nossa visão num abrir e fechar de olhos. A vida constitui-se nesse eterno perder, no qual tentamos frustradamente a todo o custo agarrar o que é impossível de ser agarrado. Vivemos saudosos do que fomos e do que imaginámos ser... em suma, numa grande e universal tristeza, por tão implacável cisão. Talvez seja possível vencê-la, pensando-a, talvez qualquer acto mais não seja que um acto de desespero. Fica aqui a referência aos dois caminhos.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

A saudade no vasto oceano da mente

A saudade tem o seu quê de angústia. É amor, memória e desejo - isso já todos sabemos (se eu dissesse algo de novo é que seria de estranhar). Mas o que é a angústia? Não sei bem se é angústia, se a sensação de um vazio interior, a falta do sujeito amado. É tristeza, pela falta do sujeito amado, uma armadilha em que caímos ao querermos, continuamente, relembrar o objecto do nosso amor. Talvez não queiramos, mas sejamos espontaneamente impelidos a tal, tal como espontaneamente imaginamos o que quer que imaginemos. Sim, creio que a mente é como o vasto oceano e os pensamentos ondas que, a tempos, aparecem para perturbar a paz mais ou menos reinante. A saudade tem a particularidade de ser uma onda antagónica, na medida em que é, simultaneamente, prazer e sofrimento e, mesmo mas já não na antagonia, ilusão. Porque, por momentos, iludimo-nos ao pensarmos que estamos com o objecto amado, como quando saímos deste mundo para os imaginados, o que causa um prazer momentâneo, alegria, que tem como pano de fundo um desprazer, tristeza, que não é senão a consciência da falta do objecto amado. Isto não é nada de novo, mas apenas expressão do que estou a sentir - por causa do meu amor louco por um animal! Se nos ensinam...