O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 18 de agosto de 2009

Pergunta crucial

"Hombre occidental,
tu miedo al Oriente, es miedo
a dormir ou a despertar?"

- Antonio Machado

9 comentários:

platero disse...

boa questão
que parece começa a ter vislumbres de resposta. Que não agradará a todos, como em tudo.
Bom regresso às lides

Anónimo disse...

Medo a dormir... Medo da mudança, medo da impermanência, medo da doença e da velhice, medo da separação de entes queridos e da união com entes indesejáveis, medo do infortúnio, do insucesso, da crítica e da injúria pessoal, medo do fracasso profissional e pessoal, medo da descida do valor das acções, medo da crise e dos seus efeitos, medo do desemprego e da exclusão, medo da pandemia que tudo contamina... medo... medo da morte!

Medo a despertar... Medo do ego ilusório que temos por real, medo do abismo que nós somos sem limites para nos agarrar, medo da vacuidade de tudo o que fazemos dizemos e pensamos, medo do nada (que é tudo), medo de Cristo, medo de Buda, medo de Deus!!!... medo... medo da vida!

Hombre! Sê prudente e amedronta-te do medo!

afhahqh disse...

"O medo pode matar o seu coração"

Água de beber.

Kazunda Tesunga disse...

Percebo o elogio do anonimato e da máscara, sem eles a tua audiência é zero.

afhahqh disse...

lol talvez colocar uma máscara seja retirar outra.

Paulo Feitais disse...

Eu traduziria por "medo de dormir" e "medo de despertar". Lembro o belíssimo livro da Dalila Pereira da Costa sobre os sonhos, as portas que se abrem ao conhecimento nas profundezas abissais do Íntimo, onde o mergulho é uma elevação, isto se conseguirmos optar pela porta (do) Sublime - não está isto em discrepância com o medo do sono (e da insónia, que pode por vezes assumir a forma de medo ao sono e ao sonho) que alimenta o imaginário ocidental? Lembro a propósito outro livro belíssimo, "Acalanto e Horror", de Ana Lúcia Cavani Jorge, que, seguindo uma abordagem psicalanítica, explora o medo infantil ligado ao acto de adormecer - e aqui há que registar o paradoxo de muitas canções de embalar terem conteúdos tétricos absolutamente deliciosos (para quem gosta do género).
Para isso inventaram os comprimidos para dormir. E também há os que ajudam a acordar sem muito sobressalto, porque acordar precisamente no mesmo lugar onde se adormeceu deve ser uma experiência acabrunhante.
Mas acordar e despertar não são sinónimos. Pode-se despertar através do Sonho, como se pode sonhar depois de acordar, ou a vida pode ser encarada como um Sonho e não há nada nisso que a desvalorize, antes pelo contrário.
Mas o melhor é viver sem despertador. Coisa que nas culturas orientais é bem banal. Seria bom conseguirmos levantar-nos quando o Sol se levanta. Ou quando o galo canta. :)

afhahqh disse...

O medo de adormecer é a consciência de que aparentemente há algo por fazer, quando normalmente não há. Excepto aqueles que têm medo de adormecer e não acordar.

espanhuela disse...

Es miedo a dormir desperto, claro!
pues que al oriente es donde se despierta el que si va a poner al occidente dormido.

Espanhuela

João de Castro Nunes disse...

Sabedoria oriental


Tendo um dia perdido o seu machado,
um certo camponês logo pensou
no filho do vizinho, que acusou
de ter aspecto de lho ter roubado.

Bastava olhar para ele … para ver
que tinha mesmo cara de ladrão,
passando a espiá-lo na intenção
de eventualmente o vir a surpreender.

Acontece, porém, que em dada altura,
por mero acaso, em meio da verdura
perdido o camponês o descobriu.

E logo, acto contínuo, concluiu
que o filho do vizinho referido
nunca tivera… cara de bandido!


A serpe


A serpe é simplesmente repelente:
sinuosa, rastejante, sem ruído,
as vítimas ataca de repente,
em vero ou metafórico sentido!

Os modos abomino da serpente:
quando menos se espera, surpreendido,
eis que ela surge sorrateiramente
sem se dar conta nem se ter ouvido!

Quando se enrosca numa criatura
seu sangue ao mesmo tempo envenenando,
é morte certa a sua mordedura!

Assim há muita gente!... simulada,
pés de veludo e olhos espreitando
a altura para dar… a ferroada!