O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Mundo

Existem mundos escuros sem luz mas existem mundos piores. Onde não há luz, não há sofrimento: o mundo é uma mistura de amor e sofrimento; mesmo a luz encerra a escuridão interior que perpassa o mundo na sua potência. De facto, o mundo é uma mistura de uma exterioridade que propriamente não existe, e da interioridade que perpassa aquilo que é aparente. Nunca ninguém sai da sua própria interioridade e tudo é interior. Tudo é sentido. O próprio Nada para lá disso é sentido. Vento. Cada ser consciente de si vive num mundo sentido particular - o seu - e se Krishna é uno e múltiplo assim também é o mundo. No fundo, o mundo é uma mistura de interioridades que existem no Nada, sendo elas o infinito de Sempre. O próprio Sempre. O Sempre é este fluxo intemporal, sem tempo, supra-eterno, desde sempre e para sempre, de entes aparecendo e desaparecendo no Jogo do Tempo: desde sempre e para sempre muitos que são um - arquetípicos, existentes ou prototípicos. O Nada é sentido como a escuridão para lá do movimento de todas as coisas. O movimento de todas as coisas é o Sempre. O Sempre é o Tudo. O Tudo é simplesmente tudo. Tudo é tudo o que é actual. Tudo o que é, é actual - não existem entes potenciais. Um ente em potência é um ente que não existe. E tudo o que existe é este acto uno constituído por multiplicidades, diferenciações. Ao longo do tempo. Um único movimento desde sempre e para sempre, uma orquestra da Eternidade tocando uma sinfonia com as suas harmonias e desarmonias, aparecendo, sendo e desaparecendo, quem sabe se reaparecendo a tempos. Isso é o Mundo. Para lá dele existe algo sem nome, indefinível e desconhecido. Uma escuridão que para muitos em muitos momentos é Luz e Refúgio. Precisamos dela por causa da maneira como o mundo é. A verdade nem sempre é preferível à mentira. A alienação é uma causa pela qual vale a pena lutar em certos momentos, como os de grande sofrimento. Nesses momentos, é preferível senão necessário que nos alienemos de tudo para escapar ao sofrimento. Morfina. (Precisamos de Deus. Deus é a Escuridão que protege e dá força, o Refúgio escuro onde estamos protegidos, e a Luz da Salvação para quem acredita na Salvação. Nós e o mundo somos de maneira tal que precisamos de Deus; de tal maneira é o nosso Fado.) Refúgio. Isso é Deus.

5 comentários:

João de Castro Nunes disse...

Acenda a luz!...

afhahqh disse...

Estou bem na Escuridão :)

João de Castro Nunes disse...

E o palhaço não desarma! JCN

afhahqh disse...

Caro João, só respondo porque estou bêbedo: vá-se foder. Ou foder alguém, também serve. Cumprimentos.

Admirada disse...

Mas... o JCN não tem quase 100 anos?