O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quinta-feira, 17 de julho de 2008

linha verde ou linha azul

Ouço pessoas no metro a falar sobre outras pessoas, a dizer que gostam muito delas e vão ter saudades. A dizer bem de outras pessoas, o que é raro. Nomeiam as pessoas pelo nome e são americanas e hippies. Eu não sinto nada disto por pessoas e é de alguma forma triste e seco. A bem dizer também não sinto nada destes sentimentos agarrativos e muito emocionantes por coisas que não pessoas. Ou seja, não sinto nada e já estou como o outro. O que sinto, para dizer que sinto alguma coisa, é medo de não sei o quê, de pessoas e de mais nada porque que é o mundo senão pessoas? Estão por todo o lado.
Se fosse para um sítio sem pessoas o que sentia era nada, ou uma simples pacificação sem nada de emocionante, um sentimento de estabilidade por saber que não ia acontecer nada senão aquilo: nada. Não havia olhares nem olhares meus sobre mim. Eu não sinto nada. O máximo que sinto nos últimos tempos são pacificações pontuais quando me encontro sozinha, nada de outras coisas que façam andar para a frente ou para outro sítio qualquer. A serenidade pontual faz-me ficar onde precisamente estou. Chamemos-lhe apatia. E agora vou trabalhar.

20/5/2007

2 comentários:

Anónimo disse...

Que pena.

Paulo Borges disse...

O sábio estóico era apático, de "apatheia", ausência de perturbação. Talvez isso não seja contraditório da com-paixão, do sentir em si o outro sem que isso nos perturbe...