quarta-feira, 29 de junho de 2011
Psicologia na Actualidade
terça-feira, 28 de junho de 2011
tem morte e vida no mesmo buraco do umbigo
tem desejos secretos de parir um boi
cabe em qualquer ferida
na língua sádica do coração
na demência precoce do trompetista
no mais pequeno cofre do amor
os meus versos são indecências acabadas de nascer
mas são da mesma forma que nasci
o que escrevo é o resultado da soma entre a fome e a sede
não preciso que venham matemáticos dizerem-me
que a morte é raiz quadrada de um escuro qualquer
ou de literatos dizerem-me que ódio leva assento no O
escrevo porque não me ensinaram nada sobre costura
escrevo para corrigir a minha vida
escrevo para conhecer o escuro por dentro
escrevo porque tenho dois ou três filhos
escrevo porque o taberneiro não aceita fiado
escrevo para aprender a bater asas
escrevo para fazer circular o ar
escrevo para aprender a álgebra do amor
escrevo porque a dor é um dom
escrevo porque só assim me confesso
escrevo porque não há carne no frigorífico
escrevo na medida do impossível
escrevo porque atrás de mim está outro mim
escrevo porque a psiquiatria fica dispendiosa
escrevo porque a esperança é uma espera
escrevo porque o trabalho cansa e a alma agradece
escrevo para me levantar do chão
escrevo porque não tive outra escolha
escrevo porque não sei fazer contas à vida
escrevo porque o vazio ocupa-me bem
escrevo para ter uma farsa verdadeira
escrevo por saber que o amanhã não existe
escrevo porque vivo morrendo
escrevo para boi dormir
escrevo para ter noticias de mim
escrevo porque a palavra é um rim
escrevo porque não tenho terra para lavrar
escrevo o sangue ainda existe
escrevo porque a lucidez é uma chatice
escrevo porque a consciência é a minha empresa
escrevo porque fui picado por um insecto
escrevo para aqueles surdos que ouvem dizer
escrevo porque o fogo abre-me o apetite
escrevo porque entendo que não entendo
escrevo para ter olhos nos olhos
escrevo porque o absinto não faz melhor
escrevo porque não sei morrer de outra maneira
escrevo porque estar sozinho é uma merda!
escrevo para não estar calado
escrevo para viajar sem ter de ir
escrevo mas depois não leio
porque a minha escrita dói!
enfim, o que escrevo é simples.
excepto quando as memórias vêm com tinta fresca!
sábado, 25 de junho de 2011
poesia? pó e azia?
quinta-feira, 23 de junho de 2011
terça-feira, 21 de junho de 2011
"Pela criação do Homem-Asa" - Tertúlia de homenagem a Cruzeiro Seixas: sábado, 25 de Junho, 16,00 horas, Livraria Sá da Costa, Lisboa
Espera
Search. Search. Seek. Seek.
Cold. Cold. Clear. Clear.
Sorrow. Sorrow. Pain. Pain.
Hot flashes. Sudden chills.
Stabbing pains. Slow agonies.
(Autumn love)
Li Qingzhao
segunda-feira, 20 de junho de 2011
Poema de Antonio Ramos Rosa
domingo, 19 de junho de 2011
sexta-feira, 17 de junho de 2011
terça-feira, 14 de junho de 2011
domingo, 12 de junho de 2011
sábado, 11 de junho de 2011
quinta-feira, 9 de junho de 2011
10 de JUNHO
SERES TERRA - Ode a uma Terra longínqua
Derivas só, numa via de poeiras.
Longe do centro, dizem-te em órbita,
no braço exterior de uma imensa espiral.
Não sei se cabes na palma da mão da Ilusão,
tu e a espiral e todas as poeiras,
exóticos e cintilantes faróis,
desta vastidão de negro.
Não sei se cabes na explicação da Razão,
tu e todos os cenários e acções,
evoluções e extinções,
deste vastíssimo vazio.
Palco sagrado, de Vida exaltante,
oceanos de brancos véus te cruzam,
cascatas vaporosas de chuvas evaporadas.
Líquido e azul preenche e ondula,
corre e atravessa ancestrais cicatrizes,
memórias de um anoso nascimento.
Gigante palco, de vida fulgurante. Sagrado!
Vestes verdes majestosos e dourados ardentes.
És corredor de todas as existências,
jardim de milhões de cores e odores
abundas de alma e ânimo de vida que flui.
Nos tempos idos, ficou a tua paisagem,
encerrados os Ciclos e as Eras.
Talvez, passadas Eras de vermelho te tingires,
inflamada e fundida na estrela que te ilumina,
sejas fugaz e refulgente recordação
em remotos universos.
Quiçá, ecos de ti ressurjam.
Num assomo de ousadia, qual navegador
num mar desconhecido, lançámos-te,
Terras de ti, além-espaço.
Náufragos errantes,
sonhámos quem nos salvasse da solidão!
Numa pioneira e complexa garrafa,
encerrámos a nossa chave.
Quão longe, quão distante no tempo?
Contornos esfumados de um mapa perdido,
fantasmas de seres cravados na eternidade,
vozes e lamentos de uma humanidade perdida.
Ecos e canções de uma Terra longínqua,
passada e em cinzas talvez dispersada.
Encerrados os Ciclos e as Eras,
perdida em tempos idos, ficou a tua paisagem
e os Seres, que de Vida, te sacralizaram!
(Sentir e Ser - 2011)
http://aworldinsideasoapbubble.blogspot.com/
quarta-feira, 8 de junho de 2011
DEMANDA
em que perdida, demando em mim
um fragmento de Luz, um farol.
Num corpo que ecoa,
de tudo o que me flui e confunde,
nas mãos que te sentem e percorrem,
sou tantas vezes brisa e mar,
cristalina gota de água salpicada,
sal e sol,
árvore e ave, folha seca e chuva,
pedra ou cor
do que vislumbras e julgas ver.
Na busca da Luz,
assumo a vastidão,
encontro a Eternidade.
Nunca morri, nunca nasci.
(Sentir e Ser - 2011)
ENTREGA
olha-me longamente.
Profundamente.
Quero ver os teus olhos,
paz e brilhos de sol.
Segreda-me
palavras de Luz.
Abraço-te,
abraço-te para sempre
num abraço diluído.
Quero em ti me confundir e fluir
num tempo sem pressa.
Quero escutar os teus pensamentos
e pensar-te os meus.
Quero percorrer a noite
abraçada nos teus abraços,
partir à deriva no Céu e juntos
trazermos nos corpos,
a Luz do amanhecer.
Quero o mágico toque do Amor,
Verdadeiro e Livre.
Quero que depois de ditas e sibiladas
todas as palavras,
na plenitude de todos os gestos,
sejamos apenas nós
caminhantes descalços e livres,
unos na longa via do Amor.
(Sentir e Ser - 2011)
terça-feira, 7 de junho de 2011
Poema dos amorosos
(Dedicado a Ethel Feldman)
Há na renda do mar
Aquela húmida claridade da boca
O terno olhar das ondas e do esquecimento
Um sismo de violetas nos dedos brancos
Uma revelação de cascatas
No olhar extasiado
Um espanto de terror e de beleza
Quando os navios parados
Ondeiam sombras na brisa iluminada
Uma vontade súbita de ser pássaro
E poisar-te no lábio a esperança
Como um cristal entre os olhos.
E os deuses da água sorriem dentro da boca
Dos novos amorosos.
segunda-feira, 6 de junho de 2011
domingo, 5 de junho de 2011
Sondagens
Ora faça lá uma macadada para ver se o público gosta.
Gostam??
Esses polegares para cima!
A senhora aí da fila de trás, de roxo, que me diz?
Gosto, sim senhora, ainda bem que me deram esta oportunidade, estou muito feliz!
Um like para ali.
Andamos com uma sonda debaixo do braço, não podemos esconder ou indiferenciar. O detector de gosto, patente da Taste-Course, vai activar o voto.
Alto!, mais um "gósto", dinamizar o programa, televisão em movimento.
Atenção, baixem os braços, parece que vamos entrar noutro modo. Calma, acalmem-se por favor nos vossos lugares.
Chega-me a informação que o espectáculo é este que se segue, atenção à "VT":
"O senhor Américo mora no mesmo prédio há 22 anos, tem infiltrações desde que a esposa faleceu em 1996".
"Isto antes ainda havia a câmara municipal..."
Pára, pára o vídeo.
Que acham, pessoal? Gostam ou não gostam? Esses polegares no ar!
Eles não gostam! Anota aí, Didinho: minino não gosta do papá mas gosta da mamã.
Sempre alerta, não descansa, ou gosta ou não gosta!
Estou a ver um acenar de cabeça, já está, já gostou, já não há nada a fazer, não vale a pena dizer que não gostou que eu testemunhei que gostou.
Virou!
A TWE noticou que as sondas provocam cancro a médio prazo.
"Como calcula, isso é um assunto a desenvoler posteriormente", garantiu hoje à Lupa Casimiro Brandão, agente oficial das sondagens inForm.
Está prestes a acontecer outra coisa, mantenham-se nos vossos lugares. Já sabem, botão verde gosta, botão vermelho não gosta.
3,2,1, carreguem! Opinião já! Carreguem mesmo que aleatoriamente!
Calma, calma, eles não estão a gostar, choques eléctricos nos bichos é o que vós fazeis, público parlador. Deixaram o bicho agitado, ele vai reagir, só não vos morde porque vocês estão aí nas bancadas e ele na jaula, sujeito-objecto, público-espectáculo, enfim, vocês sabem.
Cada voltagem é de 20000 megabytes, carreguem se vos mandam.
Não queriam participar na vida pública? Então digam sim ou digam não e depressa.
Mas digam a verdade, porque nós temos um polígrafo incrustado no vosso escalpe.
sexta-feira, 3 de junho de 2011
Deserto inominável
O deserto é um silêncio depois do mar, É o êxtase da luz sobre o coração da areia. Vai-se e volta-se e nada se esquece. Tudo se oculta para depois se dar a ver No ponto em que os ventos se cruzam E as almas gritam no fundo dos poços. Os cestos sobem e descem prometendo água, Uma frescura que derrete a febre. Não são as tâmaras que adoçam a boca, É a beleza das mulheres dissimulando O desejo como um pecado sob a escuridão dos véus. As serpentes assobiam ou cantam Conforme o veneno que lhes molda o sangue. Enroscam-se sobre as pedras como fragmentos de lua à espera da manhã. E a sombra alonga-se nas dunas Ondulando rente às palmeiras Como a última cobra do medo das crianças. Não há ruído maior que este silêncio Que se serve com tâmaras e com chá Na mesa rasteira, sobre a terra molhada. É no que não se nomeia que está o infinito.
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