O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quinta-feira, 21 de abril de 2011

REMINISCENTE



Andavas pela brenha dos medos, ao intento de romantizar. Chegado ao relento de tal atitude como histórias perdidas, tiradas da lama, o súbito do mundo de falsas rochas, ocas. E o sussurro da alma, em meio aos volumes e transparências, lamento de aedos, beijos partidos como loiça branca.
Deambulando pela paisagem dos desvelamentos?
As histórias perdidas acumulavam-se como os pedregulhos projectados, falsos ocos tabus, que se podiam naturalmente classificar mais do que findos, os entulhos onde poderia tropeçar o incauto visitante destes magistérios. Na folha do elenco do não muito solitário, tantos eram estes focos de brancura espúria, tantas eram as conchas onde se podia ouvir o mar, que inúmeras personagens se levantaram a molhar os pés nas ondas, as variadas probabilidades. Apenas uma saiu do mar de pedra, mal pedindo licença às demais para ser representante
Uma face nesses gessos de pedra que retornava que retornava, alongando em resto de corpo sumido em meio na profusão de ratoeiras. Ele descobriu a si, Psiquê, as suas flechas!
E foi então que perdoou os momentos e era absoluto. E o dízimo do conhecimento, dado aí, constituiu o preço do paradigma, re-inaugurado, desde que natural
Era absoluto das coisas, um ápice abstruso de opostos que namoravam a inutilidade, sentados na beira da borracha, que os ia apagando com grandes gestos instantâneos ou demorados, e os editava simultaneamente. Com todas as palhas embebidas no bagaço das histórias prolixamente levantadas nos livros da escola, em ruas analfabetas.
A última certeza aí nos acusaria cá dentro, onde o atrasado mental bate com a cabeça nas paredes, e onde esses mares esbranquiçam, melancólicos, numa praia de estranhas pérolas obnibuladas, esquiçadas dum ridículo que poderemos coleccionar.

3 comentários:

Luiz Pires dos Reys disse...

Entre o perdão revoltado do momentum e o dízimo do reconhecimento dá-se o dizimar dos medos, ao relento de uma história [talvez não] perdida.

Reminis-sentir é preciso...

(Seria parvo dizer que gostei.
Sê-lo-ia igualmente, dizer o contrário. Assim sendo, digo o que não digo...)

rmf disse...

Permita-me, Coelacanto, que responda: - sim.

É nesse 'deambular' que se encontra muitas das vezes aquela mesma imagem que o sublime olhar fotográfico retém, e imortaliza.

Parabéns pelo texto, e por esta em particular; frutos de uma belíssima série que tão gentilmente aqui tem partilhado.

Aprecio-as francamente.

Abraços

Coelacanto provoca maremoto disse...

Obrigado pelas gentis palavras a um texto que se pudesse, não conseguiria explicar...