O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sábado, 30 de abril de 2011

EU NÃO ESTOU DOUDO




Eu não estou doudo.

Tenho sido manejado como um puro manequim. Os seus meios de manejo têm sido — a mim aqui ao seu dispor abandonado por toda uma sociedade, a começar por aqueles que mais estrito dever tinham de tal não fazer — os seus meios de acção são, já a tortura, já a sugestão, já o veneno.

A tortura consiste em maus tratos aqui, sequestros, insultos, intrigas por aí, etc. A sugestão consiste em alusões nas conversas, recadinhos como que involuntariamente enviados, etc.

O veneno, esse é o subministrado nas comidas que encontro por ração colocadas no meu lugar, — e consiste em venenos letais, vírus infecciosos, e micróbios, extraídos e culturados nos órgãos dos cadáveres, defuntos naturalmente, ou defuncionados por esta gente, aqui, no meio da imensa mole de carne humilde, anónima, e descurada, desta mole que faz o numerário dos hospitais. Mas também venenos d’outra origem, trazidos através d’um d’estes organismos ao seu dispor (d’um dos doentes humildes que depois defuncionam).

Por meio d’estes venenos são-me senhores do cérebro (que legam, manejam, sobreexcitam, centro por centro, fazendo-me assim, rir, chorar, estar triste, falar, estar calado) — são[-]me senhores do cérebro, atacando-me já o modo de função de cada órgão, já ainda cada zona dos órgãos vários, de modo a influir n’aquela zona ou totalidade de tal ou tal pulmão, a que correspondem, e que por seu turno corresponde a tal ou tal órgão.

Longo é explicar o meu caso, minúcia por minúcia — mesmo só o poderia fazer com descanso e n’um sítio em que por um dia estivesse seguro da sua não acção, — mas aqui aonde tenho de almoçar e jantar o que me derem, eles são-me pelo processo acima senhores do organismo e perturbam-me a funcionação do cérebro, o que muito lhes convém pois sou assim confuso — e há gente superficial como aquela a quem eles com um sorriso da sua mais que abalada autoridade, fazem descrer de que se possa actuando nos centros correspondentes (sobre terem tirado todo o outro meio de desabafo e comunicação e tê-lo oprimido de modo a enfurecê-lo) fazem crer que não é possível ser motivado por manejo o bradar furioso.

De quantas moléstias me têm acusado?

Sobretudo, sempre no fundo a infecção alcoólica.

Eu respondo[:]

A infecção alcoólica, mesmo quando incurável (e há-de aí talvez lembrar o que era dito n’uma relação oficial, feita 1 ano que não 3 meses depois (máximo tempo concedido, este de 3 meses, para definição e classificação da moléstia, definição sem a qual ninguém aqui pode ser retido — isto segundo o regulamento elaborado por um especialista eminente) — há-de aí talvez lembrar que eu era n’ela dado como curável) mesmo quando incurável isto é quando adiantada, diminui de intensidade com o tempo de abstenção de bebidas.

Eu desde que aqui estou tenho bebido apenas 3 decilitros de vinho aos jantares de 5.ªs e domindo – e 2 vezes que saí com o Fiscal duas ou 3 pingas de vinho – [.]

Como aumenta pois a minha infecção?

(E aqui cabe dizer que não tem conta nem peso os esforços que eles fazem para me igualar com um alcoólico paralítico, procurando a toda a pressa paralisar-me os movimentos das pernas, o que será anormal que se dê diminuindo a causa, como seria o aumento da infecção).

Hão[-]de me dizer também

Ângelo de Lima, autógrafo interrompido, s.d.
Esperei-te em silêncio, num recanto qualquer da minha existência.
Esperei sem descanso,tua  visita sempre adiada.
Esperei, sem dar conta da hora. Mas tu não vieste.

Faz-me acreditar que o tempo não existe.
Cala os meus lábios nos teus.

ROSAS


primo-ROSAS
tantos abraços dei
enquanto partias
beijos vencidos
na despedida

fosses tu de pedra
inventava o amor eterno
esse que o tempo gasta
sem que os olhos vejam

amor que agora sinto
um dia, tão longe, pó
no corpo, lembrança

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Noite quente em breve chama
a brisa e o cheiro da chuva adiante
por esta vereda passo

altos muros, altas árvores, ao alto o céu
percorro-a, e corro
acorrem as árvores, empurram-se
tocam-me os ombros
pelo labirinto seguem as nossas sombras
ao fundo o guarda abre o portão
não olha para trás, saberá que estou aqui

a correr vou por esta vereda
ao chegar ao limiar abrando
e ao primeiro passo fora do portão recolho-me dentro
lá fora passos largos
cá dentro pausados,
devagar vou-me sentar naquele banco,
pés nus sobre a relva ao entardecer
vejo os pombos, os melros, os pardais no seu canto
e o rio e as estrelas neste recanto

passo por esta vereda
agora que é noite,
o mesmo ao entardecer,
estou onde ficara a aguardar o tempo de estar
estendo-me na relva, ao pé do casal de pombos, dos dois melros, do bando de pardais
e o rio e as estrelas são o fruto que pende sobre as copas destas altas árvores.

por esta vereda passo
e em cada passo parto e sou neste lugar.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

rosas na penumbra - com transistor de pilhas

IN EXISTIR

Correr,
correr sem impedimento,
fustigada pelo ar,
sufocada pelo vento.

Espraiar os braços;
deste corpo abandonar-me!
E partir...

Desvendar horizontes sem fim,
diluídos na ilusão.
Ir mais além,
encontrar
e saciar,
nas fontes que jorram,
a sede que me consome.
Encontrar O que não morre,
porque nunca existiu,
em fusão no Todo,
ser uno no nada
e de nada e tudo
inexistir.

(Sentir e Ser - 2011)

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Juras de amor

em cada beijo trocado
teu corpo embriagado
compasso binário
meu corpo no teu
eterna é a pausa
quando chega a primavera
desabrocha a flor, o beija -flor
espalha o polen, a borboleta
encontra a noite o amanhecer

ama sem tento, com intento
semeia meu corpo manso.

terça-feira, 26 de abril de 2011

quando o nosso olhar
vazio, procurar o tempo
serei tua noite quente


estarei contigo na despedida
no despertar, entre o que sou

segunda-feira, 25 de abril de 2011

BRISA DE OESTE - Pintura de João Serrano

Deixa-me voltar atrás. Prometeste-me a brisa de oeste. Abriste a janela. Deixaste entrar o vento e com ele o resto. Prometeste-me a maresia, odor ausente. Salgado. 
Tuas mãos pintaram a cor... no meu corpo febril.
Prometeste-me a brisa, abriste a janela … vento de oeste, maresia perdida.
Tuas mãos azuis no meu corpo vermelho. 
 
 
 Devolve-me o branco antes que eu aconteça!

LIBERDADE

Liberdade, em filosofia, designa de uma maneira negativa, a ausência de submissão, de servidão e de determinação, isto é, ela qualifica a independência do ser humano. De maneira positiva, liberdade é a autonomia e a espontaneidade de um sujeito racional. Isto é, ela qualifica e constitui a condição dos comportamentos humanos voluntários.
fonte: wiki

Agradecimento especial a todos os que contribuíram, 
de uma forma ou de outra, 
para que a realização desta enorme presença até hoje vingasse, 
como uma flor.

domingo, 24 de abril de 2011

Páscoa - uma reflexão incómoda

Comemora-se hoje o Domingo de Páscoa, uma das grandes festas da Cristandade e da cultura ocidental. Religiosos ou não, milhões de seres humanos, em Portugal e no mundo, estão a reunir-se em família à volta dos mais diversos petiscos e iguarias, comungando e celebrando a alegria e o prazer de estarem juntos na maravilhosa aventura da vida.

É humano. Mas será também humano não terem consciência ou procurarem esquecer que, ao fazê-lo, estão na imensa maioria dos casos a usufruir de uma alegria e de um prazer obtidos à custa do sacrifício involuntário, forçado, violento e doloroso de muitos milhões de vidas de animais, indivíduos conscientes e sencientes que, tal como nós, têm um interesse fundamental em estar vivos, com liberdade e bem-estar?

Páscoa, do hebreu Pésah, deriva provavelmente do verbo pasah, “saltar por cima” e assumiu o sentido de passagem, correspondendo nos nossos calendários a um tempo de regeneração. O filósofo judeu Fílon de Alexandria, contemporâneo de Cristo, viu a Páscoa como a libertação do espírito do domínio das paixões obscuras. E Cristo foi assumido pelos cristãos como aquele que dá a vida e o sangue pelos outros, pondo fim a todo o sacrifício sangrento do outro, humano ou animal. É nessa mutação ética e espiritual que consiste a verdadeira Ressurreição, que nos evangelhos gnósticos, como o de Filipe, é algo a viver desde já, em vida, e não após a morte. Algo a viver a cada instante e não só num Domingo por ano.

Parece evidente não ser esse o exemplo que seguimos, quando nos banqueteamos com a carne dos animais (terrestres ou aquáticos). Parece evidente que na Páscoa que inconscientemente celebramos nada há de “saltar por cima”, de transcender, de ir além dos nossos apetites mais irracionais e dos nossos hábitos familiares e sociais mais enraizados. Parece evidente que nesta Páscoa nada há de pascal, como no Natal nada há de natalício, sempre que um homem novo não nasça no presépio da alma.

Mas se é humano ter hábitos, mais humano ainda é reflectir sobre eles e questioná-los. Apelo por isso a que hoje, quando nos debruçarmos sobre as mesas familiares adornadas e repletas dos mais apetecíveis manjares, sejamos capazes de contemplar nem que seja um minuto a crua realidade de estarem cheias dos corpos dilacerados de seres antes vivos como nós, a maioria deles criados em condições de holocausto e abatidos para nos proporcionarem uns brevíssimos minutos de prazer sensorial e fútil, que logo se desvanece para nos deixar com a mesma insatisfação de sempre. E então, se não somos ainda capazes de renunciar a esse alimento, levemo-lo à boca, mastiguemo-lo e engulamo-lo. Mas com um mínimo de consciência e compaixão pelo companheiro de existência a quem fazemos passar pelo que mais tememos e menos desejamos: a morte violenta, sem que a nossa vida disso dependa.

Será incómodo, decerto, mas valerá a pena. Tornará a nossa Páscoa menos cega e mais pascal, mais propícia a uma transformação da consciência, a uma passagem, a um ir para além da nossa ignorância e insensibilidade. Será um daqueles incómodos que nos tornam seres humanos melhores. Sobretudo se, na nossa tomada de consciência do sofrimento dos animais, não esquecermos o dos homens, o de todos os seres, abrindo o coração à infinita compaixão pela dor do mundo. É isso que nos pode abrir o caminho da grande e verdadeira Alegria, a de ver que é possível acabar com o sofrimento, começando por aquele de que somos directamente responsáveis.

24.04.2011 - Domingo de Páscoa

Páscoa - uma reflexão incómoda

Comemora-se hoje o Domingo de Páscoa, uma das grandes festas da Cristandade e da cultura ocidental. Religiosos ou não, milhões de seres humanos, em Portugal e no mundo, estão a reunir-se em família à volta dos mais diversos petiscos e iguarias, comungando e celebrando a alegria e o prazer de estarem juntos na maravilhosa aventura da vida.

É humano. Mas será também humano não terem consciência ou procurarem esquecer que, ao fazê-lo, estão na imensa maioria dos casos a usufruir de uma alegria e de um prazer obtidos à custa do sacrifício involuntário, forçado, violento e doloroso de muitos milhões de vidas de animais, indivíduos conscientes e sencientes que, tal como nós, têm um interesse fundamental em estar vivos, com liberdade e bem-estar?

Páscoa, do hebreu Pésah, deriva provavelmente do verbo pasah, “saltar por cima” e assumiu o sentido de passagem, correspondendo nos nossos calendários a um tempo de regeneração. O filósofo judeu Fílon de Alexandria, contemporâneo de Cristo, viu a Páscoa como a libertação do espírito do domínio das paixões obscuras. E Cristo foi assumido pelos cristãos como aquele que dá a vida e o sangue pelos outros, pondo fim a todo o sacrifício sangrento do outro, humano ou animal. É nessa mutação ética e espiritual que consiste a verdadeira Ressurreição, que nos evangelhos gnósticos, como o de Filipe, é algo a viver desde já, em vida, e não após a morte. Algo a viver a cada instante e não só num Domingo por ano.

Parece evidente não ser esse o exemplo que seguimos, quando nos banqueteamos com a carne dos animais (terrestres ou aquáticos). Parece evidente que na Páscoa que inconscientemente celebramos nada há de “saltar por cima”, de transcender, de ir além dos nossos apetites mais irracionais e dos nossos hábitos familiares e sociais mais enraizados. Parece evidente que nesta Páscoa nada há de pascal, como no Natal nada há de natalício, sempre que um homem novo não nasça no presépio da alma.

Mas se é humano ter hábitos, mais humano ainda é reflectir sobre eles e questioná-los. Apelo por isso a que hoje, quando nos debruçarmos sobre as mesas familiares adornadas e repletas dos mais apetecíveis manjares, sejamos capazes de contemplar nem que seja um minuto a crua realidade de estarem cheias dos corpos dilacerados de seres antes vivos como nós, a maioria deles criados em condições de holocausto e abatidos para nos proporcionarem uns brevíssimos minutos de prazer sensorial e fútil, que logo se desvanece para nos deixar com a mesma insatisfação de sempre. E então, se não somos ainda capazes de renunciar a esse alimento, levemo-lo à boca, mastiguemo-lo e engulamo-lo. Mas com um mínimo de consciência e compaixão pelo companheiro de existência a quem fazemos passar pelo que mais tememos e menos desejamos: a morte violenta, sem que a nossa vida disso dependa.

Será incómodo, decerto, mas valerá a pena. Tornará a nossa Páscoa menos cega e mais pascal, mais propícia a uma transformação da consciência, a uma passagem, a um ir para além da nossa ignorância e insensibilidade. Será um daqueles incómodos que nos tornam seres humanos melhores. Sobretudo se, na nossa tomada de consciência do sofrimento dos animais, não esquecermos o dos homens, o de todos os seres, abrindo o coração à infinita compaixão pela dor do mundo. É isso que nos pode abrir o caminho da grande e verdadeira Alegria, a de ver que é possível acabar com o sofrimento, começando por aquele de que somos directamente responsáveis.

24.04.2011 - Domingo de Páscoa

sexta-feira, 22 de abril de 2011

"Natureza e animais no Budismo", 27 Abril, 4ª, 21.15, R. Santa Catarina, 730 - 2º, Porto

Estarei no Porto para uma palestra sobre o tema "NATUREZA E ANIMAIS NO BUDISMO", no dia 27 de Abril, quarta-feira, às 21:15, na sede da Campo Aberto, rua de Santa Catarina, 730-2.º, no Porto (perto já da rua Gonçalo Cristóvão)

Prosseguindo o ciclo "A Natureza nas Religiões e nas Filosofias", esta tertúlia insere-se numa revisão das várias perspectivas filosóficas e religiosas que buscam dar sentido à relação da humanidade com a Natureza.

Entrada livre e gratuita. Convida-se no entanto a uma participação nas despesas, voluntária e fixada pelo próprio, a entregar à entrada na mesa de publicações. Sugere-se a título indicativo 2 euros por pessoa, que serão retribuídos com um exemplar do último número da revista Ar Livre, editada pela Campo Aberto. Os sócios, que receberam já a revista gratuitamente, poderão optar por outras publicações.

FERRARI DE 4 FERRADURAS - do Redondo


nenhum FERRARI da era de ouro do Vale-do-Ave
foi tão caprichadamente cuidado como este macho
de carroça do REDONDO

ROTINA

Adriano chegou ontem mais cedo. Fiquei perturbada com a mudança. A rotina era chegar sempre mais tarde. Nunca conseguíamos jantar antes das nove e meia. Teimosa colocava a mesa sempre às oito - esperança vã.
Ainda não são sete da noite e Adriano já está em casa.
- Aconteceu alguma coisa?
- Não - responde-me, sorridente.
Meu coração dispara. Se ele está assim é porque aconteceu mesmo alguma coisa e não me quer contar. Disfarço o medo.
- Tens fome? Ainda não tenho jantar feito. Sempre chegas tarde. Logo hoje que me atraso, tu adiantas-te...
- Querida, está tudo bem. Queres ir jantar fora?
Meu corpo treme de raiva. Como pode ele convidar-me assim do nada. Nunca o fez em mais de uma decada de casamento. Nem antes, quando namorávamos.
- Queres jantar fora, amor?
- Adriano, por favor, diz-me. O que se passa?
Franze o sobrolho, começa a ficar zangado. Vira-me as costas. Vai para o quarto e regressa de pijama.
- Faltam-te as pantufas, não vês que estás descalço?
Sem responder, senta-se em frente à televisão. Devagar despe a camisa, em seguida as calças. Sem expressão pergunta-me:
- O que falta agora?
Fujo para a cozinha. Assim nem às dez jantamos!
É sempre a mesma coisa. Detesto a rotina.

SEBASTIÃO



Destapando a caixa de cartão amarelo, cinco tostões de ideias e uma revoada de recordações com abecedário obscuro, “Los recuerdos de los muertos sucios”, corpos amarelos nadando nas águas apapeladas. Será impossível opinar sobre estes artefactos da sua saída díspar para a gramática concisa e razoável, penso isto ser a certeza, no continuo absorto em psique de casulo, onde os intentos dum lepidóptero quedam manietados para sempre, recordações singulares e universais. O conjunto do que perfaz o minimamente estrutural foi despersonalizado numa batalha contra figuras saídas das descrições de epilépticos. Sagrado escrito pelo que a biga de Apolo atropelou, não estava escrito nos papéis que trazia nos bolsos mas impresso nessas intentos queimados por pontas de cigarro. Daquela árvore onde se sombreava do sol, ficaram garrafas de vinho e histórias de quem não pode mais retornar. É a lição da existência, professorando o existente, o intento passado a limpo num acto de súbito embrulho.
Esse Deus que vós sois
Se nem o ouviram, as entradas e saídas amarrotadas por panteras raivosas, não obstante se altivariam do mais puro belo no propósito do que somos agora ou depois, tristes e eternos, numa nova acepção da palavra do antes. Onde por baixo de tais dogmas assinamos com o orgulho cómico de alguém a rir por causa de coisa alguma em tempos que se apresentam ao mundo completamente esmigalhados de pão com saliva seca.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

10 Razões pelas quais não faz qualquer sentido surgir o PAN e não deve ler este post





1 - A política e os políticos portugueses são exemplares e não faz qualquer sentido surgir algo completamente novo e diferente.

2 - Portugal é um país-modelo e um paraíso no tratamento dos seres humanos, dos animais e da natureza e não faz qualquer sentido surgir um partido de Causas, que une a causa animal, humanitária e ecológica e quer fazer aprovar leis que protejam o direito de homens e animais ao bem-estar e à felicidade.

3 - Portugal tem partidos éticos, que colocam o bem comum acima dos interesses partidários, não promovem carreiras e clientelas e não obedecem a lobbies económicos. Por isso não faz qualquer sentido surgir um partido de Valores, um Partido Inteiro, pelo bem de tudo e de todos.

4 - Portugal tem uma política económica em que a produção da riqueza está ao serviço da satisfação das necessidades fundamentais da população e por isso não faz qualquer sentido surgir um partido que defende uma economia de mercado subordinada ao bem social e ecológico.

5 - Portugal é um exemplo europeu e mundial de justiça social e fiscal e de moralidade nos salários da administração pública e por isso não faz qualquer sentido surgir um partido que defende a redução das assimetrias sociais, tectos nos salários e reformas dos altos funcionários públicos e contributos fiscais proporcionais aos rendimentos, que não penalizem sistematicamente os médios e baixos rendimentos decorrentes do trabalho.

6 - Portugal é um país autosustentável, que não depende de importações em áreas vitais, e por isso não faz qualquer sentido surgir um partido que defende a agricultura e as energias alternativas como sectores estratégicos.

7 - Portugal tem tido sucessivos governos que têm investido demasiado na cultura e na educação, bem como na qualidade e dignidade do ensino, e por isso não faz qualquer sentido surgir um partido que considera que isso deve ser um investimento central do Orçamento de Estado e que os professores devem ser social e profissionalmente redignificados como fundamentais para a formação de pessoas solidárias com o outro, seja o homem, o animal ou a natureza.

8 - Portugal tem um excelente Serviço Nacional de Saúde, de qualidade, rápido e acessível a todos, e por isso não faz qualquer sentido surgir um partido que afirma que esta é uma das grandes promessas por cumprir desde o 25 de Abril de 1974.

9 - Os portugueses têm excelentes hábitos alimentares e não sofrem de doenças causadas por uma nutrição desequilibrada. Por isso não faz qualquer sentido aparecer um partido que defende uma redução pedagógica do consumo de carne, sobretudo industrial, bem como a promoção de alternativas vegetarianas, em prol da saúde humana, do bem-estar animal e do equilíbrio ecológico.

10 - Portugal tem uma democracia e cidadania activa e consciente, os cidadãos participam maioritária e entusiasticamente na vida política, confiam no Estado e nos seus representantes eleitos, que sacrificam os seus interesses pessoais e partidários para se consagrarem inteiramente a representar os interesses dos seus eleitores. Por isso não faz qualquer sentido surgir um partido que defende que os deputados não possam acumular funções e que assume ser a voz dos abstencionistas, dos que votam em branco e nulo e de todos os descrentes na política, mobilizando-os para um exercício mais pleno da cidadania e para a renovação da democracia.

Por estas e por muitas outras razões o surgimento do PAN - Partido pelos Animais e pela Natureza - é um absurdo. Se não esqueceu já este post é o momento de o fazer. Sobretudo não o divulgue, para que este perigo não se propague mais. É que pode tornar-se contagiante. Portugal ainda se arrisca a ser um país a sério.
Já se pode votar nos Troféus Milho-Rei (II edição), Jornal Barcelos Popular, para as diversas categorias culturais e desportivas.
 
Aqui vai o link: 
http://www.barcelos-popular.pt/trofeusmilhorei

Eu, Flávio Lopes da Silva, estou nomeado para Mérito cultura na literatura.

Apoiem-me
abraço a todos
flávio

ENTOMOLOGIA


não o estudo mas o gosto
pelos insetos

como alguns de nós
a maioria deles procura ser
discreta

excessão
ao narcisista pirilampo

REMINISCENTE



Andavas pela brenha dos medos, ao intento de romantizar. Chegado ao relento de tal atitude como histórias perdidas, tiradas da lama, o súbito do mundo de falsas rochas, ocas. E o sussurro da alma, em meio aos volumes e transparências, lamento de aedos, beijos partidos como loiça branca.
Deambulando pela paisagem dos desvelamentos?
As histórias perdidas acumulavam-se como os pedregulhos projectados, falsos ocos tabus, que se podiam naturalmente classificar mais do que findos, os entulhos onde poderia tropeçar o incauto visitante destes magistérios. Na folha do elenco do não muito solitário, tantos eram estes focos de brancura espúria, tantas eram as conchas onde se podia ouvir o mar, que inúmeras personagens se levantaram a molhar os pés nas ondas, as variadas probabilidades. Apenas uma saiu do mar de pedra, mal pedindo licença às demais para ser representante
Uma face nesses gessos de pedra que retornava que retornava, alongando em resto de corpo sumido em meio na profusão de ratoeiras. Ele descobriu a si, Psiquê, as suas flechas!
E foi então que perdoou os momentos e era absoluto. E o dízimo do conhecimento, dado aí, constituiu o preço do paradigma, re-inaugurado, desde que natural
Era absoluto das coisas, um ápice abstruso de opostos que namoravam a inutilidade, sentados na beira da borracha, que os ia apagando com grandes gestos instantâneos ou demorados, e os editava simultaneamente. Com todas as palhas embebidas no bagaço das histórias prolixamente levantadas nos livros da escola, em ruas analfabetas.
A última certeza aí nos acusaria cá dentro, onde o atrasado mental bate com a cabeça nas paredes, e onde esses mares esbranquiçam, melancólicos, numa praia de estranhas pérolas obnibuladas, esquiçadas dum ridículo que poderemos coleccionar.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Leitora do Silêncio


(Pintura de Franz Becker-Tempelburg (Alemanha, 1876 — ?
óleo sobre tela, 61 x 61 cm)

(Gentilmente dedicado a todos os "Serpentinos" - incluindo a Fausta -

(c) Om o desejo de uma Páscoa Feliz.)



Ilumina as palavras até que desapareçam

Só então as lerás na combustão dos lírios.

Ler é ampliar o Silêncio, torná-lo eterno.

Expandido e implodido na alquímica flor

do verbo e do sentido.


Cega a luz comburente dos astros

Desapareces do outro lado do jardim.

No avesso anverso dos versos

Deixas de ver. Já não és o que és.

Apareces mais tarde, diligente,

A fechar a luz à noite queimada.