sábado, 8 de agosto de 2009
a carne e o osso
perdido em busca do caminho para casa perco o olhar em frente não sei sinceramente em quê. subitamente reparo que olho para uma livraria que curiosamente tem uma viola empoeirada dentro, ao fundo. o livreiro guitarrista, penso enquanto rio carinhosa e calorosamente bem dentro. num mundo por vezes tão cruel e tão estranho sinto a luz da esperança pela primeira vez nesta vida, pervade-me a fé uma luz de facto. ao reflectir sobre ela só posso concluir que adveio da minha experiência passada não de ontem mas de sempre, dado que a emoção é influenciada por toda a memória. a consciência da fisicalidade das coisas e em particular das pessoas e animais, de tudo o que é carne e onde se pode espetar uma faca causando dor, muita dor, sofrimento, morte, é mais do que importante fundamental para se compreender a realidade para lá da névoa. porque a realidade é isso. sim, existe o espírito e tudo isso, mas bolas vivemos num mundo de carne e osso! existirá algo mais improfanável do que a carne e o osso? um templo que é um pedaço de pedras, ainda que de adoração aos mortos, vale mais do que uma vida em vida de carne e osso seja ela qual for? ou talvez a maior obra de arte de sempre? uma ideia? não existe algo tão digno como uma vida de carne e osso, nem coisa alguma de tão especial, respeitável e mesmo venerável como a carne e o osso: realidade-fragilidade; e ao mesmo tempo quanta capacidade de sofrimento! a pessoa morta não é carne nem osso, saiu, talvez nem exista. perdido em busca do caminho para casa medito nestas visões sobre a carne e o osso, que penso escrever quando chegar.
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