O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sábado, 22 de outubro de 2011

finalmente OUTONO

Já recolheu a roupa?
está aí a chuva

já estendeu as mágoas

no quintal
na varanda
na mansarda?

para as lavar
deixá-las como novas

estão aí
as águas

53 comentários:

João de Castro Nunes disse...

Para lavar tanta mágoa,
caro Poeta e Amigo,
o tempo não traz consigo
a precisa carga d'água!

JCN

João de Castro Nunes disse...

Venha ela quando vier,
a chuva a mim não me afecta:
não tenho para colher
trigo, feno ou malagueta!

JCN

platero disse...

a sujidade interior
não há chuva que a remova
nem o dilúvio maior
por muitos dias que chova

ao meu "bom rival"
sobretudo amigo

JCN

Isabel Metello disse...

Sim, sem dúvida, nem mesmo a água salgada engolida em golfadas! è preeciso um exorcismo ou mesmo um purgante anímico...haja esperança para a limpeza interior :)

João de Castro Nunes disse...

As almas neste país
andam tão despudoradas
que nem mesmo um chafariz
as consegue pôr lavadas!

JCN

platero disse...

nem sabão nem detergente
nem deixando-a de barrela
- há alma de tanta gente
mais suja do que panela

Isabel Metello disse...

Pois deixo aqui um blog que ensina a retirar nódoas em várias superfícies :) http://www.nodoas.com/

com o acrescento :)

A almas sujas a que nem purga valha,
Só basta deixarem-nas na Vida rolarem, maculando-se ao macularem,
Quem lhes cai na calha...

Bom Domingo, que hoje chove, mas há roupa que nem num Dilúvio Divino se purgavam...

João de Castro Nunes disse...

"Rival" não me considere,
pois não passo de aprendiz:
se por colega me quere,
já me dava por feliz!

JCN

João de Castro Nunes disse...

Cara Doutora, permita
que esta quadra lhe transmita:

Deus nos livre do contágio
com as almas maculadas
e nos conceda o apanágio
de as mantermos expurgadas!

JCN

Isabel Metello disse...

Sua Sumidade já deveria saber que não me pode designar por Doutora, pois Doutora não sou, pois ainda não acabei o Doutoramento, mas mesmo que o tivesse acabado, não quero aqui ser intitulada como tal, pois não faço parete da dinâmica do luso quintal...

Voltando ao tema :)

Da maculação Deus Trata com severidade,
Se não for num ou noutro ano, certamente será na Eternidade...
Cada qual que se expurgue a si,
Que já muito terá de limpar,
O Caminho é solitário,
E cada passo nele dado,
Deus Fará questão de o/a responsabilizar...
Logo, da lógica das indulgências profanas, laicas e/ou pseudo-religiosas Deus Está Fartinho, qualquer dia, Zanga-se a sério e manda os indulgentes penar...:)

IMCAMM

Isabel Metello disse...

erro da pata :) parte; e por cada passo...:)

João de Castro Nunes disse...

Pelo que me diz respeito,
Deus o saco já me encheu,
só faltando, com efeito,
que me negue o próprio céu!

JCN

Isabel Metello disse...

Negado não está o Céu para quem o saco encheu, pois isso só é sinal da Consciência que Deus lhe deu...
Só os pobres de espírito não se fartam deste mundo imundo onde passa por vivo o moribundo e por defunto quem detém o pulso a pulsar por querer, simples e livremente, vislumbrar o Mar :)

João de Castro Nunes disse...

A sua prosa me agrada,
cara Senhora, pois tem
na sua forma apurada
algo de verso também!

JCN

João de Castro Nunes disse...

Trouxe o outono chuva em demasia,
os campos alagando e as cidades
e guerra declarando à poesia,
que não se da com tais calamidades!

JCN

João de Castro Nunes disse...

Corrijo a gralha "da" por "dá". JCN

João de Castro Nunes disse...

Esperemos que em breve o sol retorne
a brilhar entre nós por mais uns dias
a fim de que todo o país se adorne
de rosas outonais nas moradias!

JCN

platero disse...

balanço ENERGÉTICO

cá na minha
vou gastar agora no Inverno
o dobro
o triplo
em aquecedor

do que poupei
no Verão
em ventoinha

João de Castro Nunes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
João de Castro Nunes disse...

Há que aprender a poupar,
não gastando em demasia:
eis a regra elementar
de uma boa economia!

JCN

platero disse...

aquilo que a gente poupa
no que mete na barriga
gastamos depois em roupa
-desculpe lá que lhe diga

João de Castro Nunes disse...

Sempre fica mais barato
mandar a roupa encurtar
do que mandar alargar
as componentes do fato!

JCN

Isabel Metello disse...

E, ontem, rolando pela chuva, lá vi o Mar... estava Lindo, Indomável, Revolto, Majestoso, quase a marginal a assaltar- já lá levei com uma onda transbordante que quase nos fez por carro surfar :)
Poupemos na matéria, reciclemo-la pelo Mar, voltemos a uma época em que à carência do concreto haja reconstrução de Afectos a transbordar...

PP :) o que a adoração da matéria fez aos Afectos, meu Cosmos!

Nem a propósito- estou a ouvir ao longe um deputado: "o que nós estamos aqui a discutir vai muito além" de qualquer coisa...pois é - mal sabe este senhor que O que se Está mesmo a Discutir Transborda as paredes de palacetes ou condomínios de luxo por onde gostam de se perambular, pois são as animae de todos que Alguém Está sempre a Julgar, Alguém que Adora o Mar, Que, se calhar, mais não É do que a junção de Todas As Suas Lágrimas por todas as atrocidades cometidas por uma espécie maléfica (com honradas e dignissimas excepções...:)

João de Castro Nunes disse...

Magistral! À dimensão do Mar! JCN

João de Castro Nunes disse...

Também,cara Senhora, eu quero crer
que o salso Mar, tão vasto como os Céus,
provém das grossas lágrimas que Deus
vertido tem por tanto nos querer!

JCN

João de Castro Nunes disse...

Creia, douta Senhora, que os Afectos,
na sua máxima expressão moral,
são desde logo o tema habitual
dos meus apuradíssimos Sonetos!

JCN

Isabel Metello disse...

Então, Sua Sumidade está ao alcance do Conceito de Amor (no sentido Ético :) que O Poeta Cantou (segundo Hélder Macedo, o mais Sublime seria para Aquele o Caritas Patriae, elaborando uma espécie de escala gradativa nos vários tipos da única Emoção que nos Eleva a Deus, ao Cosmos, whatever, seguindo a tradição helénica e até a Cristã no sentido de estar-se disposto a dar a vida pelo Outro, tendo como musas as tágides para tornar sublime o seu Canto devotado aos grandes feitos da Pátria que Amava...:)
Quem Ama Protege, Põe-se à frente, serve de trincheira, caso seja necessário...
Aqui fica um excertozinho que fui buscar à wikipédia, fazendo copy paste :) "

4
E vós, Tágides minhas, pois criado
Tendes em mim um novo engenho ardente,
Se sempre em verso humilde celebrado
Foi de mim vosso rio alegremente,
Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloquo e corrente,
Porque de vossas águas, Febo ordene
Que não tenham inveja às de Hipocrene.


5
Dai-me uma fúria grande e sonorosa,
E não de agreste avena ou frauta ruda,
Mas de tuba canora e belicosa,
Que o peito acende e a cor ao gesto muda;
Dai-me igual canto aos feitos da famosa
Gente vossa, que a Marte tanto ajuda;
Que se espalhe e se cante no universo,
Se tão sublime preço cabe em verso.”

— Invocação às Tágides, Canto I, estrofes 4 e 5."

João de Castro Nunes disse...

A minha Musa, Senhora,
vive junto das estrelas,
dialogando com elas
desde a altura em que lá mora!

JCN

João de Castro Nunes disse...

Se Camões hoje vivesse,
do meu jeito escreveria,
pois segundo me parece
temos certa analogia!

JCN

Isabel Metello disse...

Camões, mais do que Um Poeta, melhor- O Poeta- Era uma Alma Eviluidíssima, um Puro (no sentido Sublime :)- eu até creio que A SUa EScrita ERa psicográfica, mas isso são as minhas maluquices :))
O Caritas Patriae, bem analisado, Ultrapassa em muito o Amor à Pátria...

platero disse...

breve estória que me parece ainda
(volvidos cerca de 50 anos - meio século, poça)divertida
Estava na tropa em Vendas -Novas, onde havia um Livro Branco que o pessoal utilizava à noite quando recolhia à Caserna para dormir.
Sendo este cinzento recruta habitual utilizador do dito livro, foi um dia surpreendido com uma quadra popular toda ela pudor dedicada à sua pessoa
e dizia assim:

tu queres imitar Camões
Camões não imitas tu
porque o Camões não trazia
as calças rotas no.......

resposta logo após leitura
:

Camões não quero imitar
senão arrumava as botas
e quanto a ti vai levar
onde eu tenho as calças rotas

o meu antagonista era um tal Cerqueira, de Valença do Minho, com quem já me encontrei mais de uma vez e relembrámos esta efeméride no mínimo saborosa

João de Castro Nunes disse...

Lá graça... tem! E não menor talento! Mas olhe que

Camões não quero emular:
ele é que seguramente,
se vivesse no presente,
me tentaria imitar!

JCN

João de Castro Nunes disse...

Desde o meu ponto de vista,
se Camões vivesse agora,
face à norma que vigora,
seria um pós-modernista!

JCN

João de Castro Nunes disse...

Cara Senhora, se quer
ver como eu vejo Camões,
leia, se isso lhe aprouver,
as minhas próprias versões!

JCN

Isabel Metello disse...

Lerei, mas, diga-me onde, FV, pois o seu link desapareceu (eu guradei-o lá no spot:) recuso-me a misturar Camões e a Sua Elevação a baixarias de caserna, para haver comunicação tem de haver Respeito...creio que o meu Pai tb fez a tropa em Vendas Novas e não o estou a ver a proferir algo desse nível, aqui ou noutro sítio qualquer...e por aqui me fico, Platero. Passem bem...

Isabel Metello disse...

Se bem que poderia aqui postar uma das versões camonianas que eu e um Amigo tb de Literaturas nos divertíamos a subverter nos intervalos na sala de estudo, nomeadamente o "Alma minha gentil que te partiste....", mas isso é só para Amigos e eu já não os estou aqui a ver...c´est dômage, mas sempre teremos a Interculturalidade em vez de Paris,, que tb passa pelo Respeito...aliás, até pela Gratidão, mas essa é para Almas Camonianas, que sabem bem o que é o Amor Universal (Agapé :), para o resto, nem vale a pena descrever-lho, pois nem entenderão...

Isabel Metello disse...

Fica só mais o registo da incongruência total entre a teoria que advogada e a prática maculada...nada de novo, portanto...

Isabel Metello disse...

E, assim, obviamente, me demito...

João de Castro Nunes disse...

Não se demita, Senhora,
que faz falta o seu critério
para dar um tom mais sério
à versão de que é autora!

JCN

João de Castro Nunes disse...

Luís Vaz de Camões, cara Senhora,
acima está de todos os gracejos:
seu nome inscrito está nos azulejos
da fama augusta a que Ele se alcandora!

JCN

João de Castro Nunes disse...

Há poetas e poetas
de várias categorias,
predominando os patetas
que surgem todos os dias!

JCN

platero disse...

Isabel Metello

grato imensamente pela generosidade
da senhora em frequentar espaço em que voluntária
e atrevidamente se meteu

a que baixaria de Caserna se refere?:
a eu ter mandado o outro camarada levar onde eu tinha as "calças rotas"?

tanto pudor, senhora
que candura

Além do mais - quem a convidou a ler e manifestar-se sobre as coisas que eu escrevo num espaço que em princípio me pertence?

Isabel Metello disse...

Platero, aqui volto pela réstia de Respeito que me merece, frisando que não apreciei a descida de nível (tenho esse direito como interlocutora ou o Presidente da Junta não o confere a alguém que não a si próprio? :). Gosto de debater com base na civilidade e em conceitos e de forma escorreita, ortodoxa...Mas citando-o : " (...)coisas que eu escrevo num espaço que em princípio me pertence?" Pertence-lhe? Tem a escritura? Olhe, a análise do reverse speach aqui ficaria a matar- mas concebe um post como a sua horta, isto é um pedaço de terra do qual é proprietário, o qual regista com o possessivo em forma de CI? Não, quem é livre sabe que as suas palavras, uma vez ditas, num espaço que se autoproclama como polilógico, advogado da anulação do eu pelo tudo que é nada que se difunde na imensidão da energia cósmica que une todos os seres pelo Amor Universal passam a não ser suas, mas de todos, i.e., caso estes saibam discutir conceitos.Ou, afinal, é só assim na teoria? Olhe, já estou como o FV...Meeeesssssssssssstre, Magister dixit et Aliī discipulī tacent...Platero, essa não é a minha concepção de espsços de diálogo e não, não sou uma flor de estufa, mas não aprecio linguagem rasteira, pronto.Só se for em estrangeiro, par example, en Français ou mesmo em Italiano ou Inglês (em Chim~es, então, é o máximo, pois não se percebe algo que seja, seja em Mandarim ou em Cantonês ou noutro dialecto qualquer...:), fica menos cru e nu.Mas há um fenómeno muito interessante que eu tenho analisado na net- que é o não dito muito mcluhaniano. Revela-se muito interessante numa análise discursiva, a sério! É que o não dito está muito associado ao prescrito e prescrita está a minha presença aqui. Posso, Master?

Isabel Metello disse...

Aliás, prescrita e proscrita :) Felicidades na busca do Nirvana- Ele anda por aí, como os pirilampos, o mais difícil é saber apanhá-lo com uma rede tão larga...
Arigato e sayonara!

João de Castro Nunes disse...

Que grande desaguisado
por motivo de Camões:
deixem-se lá de razões,
pondo as quezílias de ladO!

JCN

João de Castro Nunes disse...

Parece que os litigantes
deram a casca por pouco:
um ficou mudo, outro rouco,
desavindos por instantes!

JCN

platero disse...

o pudor é como o sal
:
se a gente o toma a preceito
sabe bem e não faz mal
se em excesso rebenta o peito

João de Castro Nunes disse...

Eu pelo sim pelo não
como a comida sem sal:
deste modo o coração
não sai nunca do normal!

JCN

Isabel Metello disse...

Platero, se soubesse o que está em causa até à face lhe subiria o rubor! Não é pudor, é estar farta! São muitos anos no mesmo- estar-se a falar de uma ssunto e de repente o ionterlocutor muda o contexto de forma estranha...Como me dizia um Amigo meu hoje: já cheguei a um ponto que o melhor é o total isolamento do mundo. Se calhar exagerei, mas vá lá ao meu spot ver por que estou fartinha e há momentos para tudo, até para cortar laços com espaços com os quais já não nos identificamos, até por Respeito para com vocês- não tenho muito jeito para fazer de corpo presente, não sou politicamente correcta, não pertenço a rebanhos, não me guio pela mente alheia, sigo o meu percurso solitário, se me sinto respeitada fico toda feliz, quando me sinto desrespeitada é mais forte do que eu- é um estímulo condicionado- é o sino do Cão de Pavlov .Preciso de Paz e esta não se alcança neste tipo de diálogos, muito pelo contrário. O meu perfil não ajuda a tomarem-me como par, eu sei, e quando a minha intuição me diz que vai-se dar um remake, ponho a carapaça e pisgo-me...enough is really enough! Toda a gente tem os seus limites!Posso ter todos os defeitos e mais alguns, mas sou autêntica e é essa autenticidade que me faz romper com o que me magoa...já o fui o suficiente e calhou-me em sorte ter uma hipersensibilidade que me torna ainda mais atenta, sei lá eu...o que sei é que quero estar no meu canto...não perderão nada com a minha ausência, muito pelo contrário, pois talvez seja mesmo isso- eu já estou tão afastada do convívio no sentido lato que não quero voltar a sentir o que este me fez, pois magoa-me ainda, ainda que eu diga que não, magoa sempre mais...pronto é isso...

platero disse...

ISABEL

dedico-lhe poeminha que acabo de escrever. Ver se gosta
:

amigo
estou sózinho
comigo
ao postigo
da vida

há uma briga
lá fora
e vendo bem sou eu que brigo
contra migo

sou eu que brigo
contra migo
e espreito a cena
estarrecido
pelo postigo

quer maior solidão? ou a sua é maior? um beijinho

João de Castro Nunes disse...

Solidão por solidão,
cada qual sabe da sua:
não há pior condição
que andar sozinho na rua!

JCN

João de Castro Nunes disse...

Andar sozinho na rua
no meio da multidão
é como sentir paixão
ente os astros pela lua!

JCN

João de Castro Nunes disse...

Corrijo, na quadra anterior, "ente" por "entre". JCN