O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quarta-feira, 20 de julho de 2011

Estrelas Virgens

Olha as estrelas, mãe, conhece-las?
Elas nunca dormem e olham para baixo para a terra com olhos ansiosos.
Tal como eu que não tenho asas e não posso voar, e me sinto infeliz,
As estrelas também são infelizes porque não têm pés e não podem descer à terra.

Todas as manhãs desces até à curva do rio com
O cântaro no gancho do teu braço para ir buscar água;

As estrelas olham os seus reflexos na água e hora após hora pensam como seriam felizes se tivessem sido donzelas aldeãs e pudessem nadar no rio com os seus cântaros a flutuarem ao lado delas.

- Rabindranath Tagore

2 comentários:

ethel disse...

Será Julho o mês que te inspira?

Anónimo disse...

É muito belo o poema de R. Ragore.

Quantas vezes penso que as estrelas pensam: Como seria maravilhoso ter o coração tão brilhante e trémulo como o do pássaro, ali, na folha do limoeiro: um pássaro banhado de luar e de pensamentos que nem eu mesma tenho...

Gosto muito deste Poeta! Fizeste-me lembrá-lo e agradeço. Há tanta coisa que esqueci!...

Outro que me é caro:

"Se não falas, vou encher o meu coração
Com o teu silêncio, e aguentá-lo.
Ficarei quieto, esperando, como a noite
Em sua vigília estrelada,
Com a cabeça pacientemente inclinada.

A manhã certamente virá,
A escuridão se dissipará, e a tua voz
Se derramará em torrentes douradas por todo o céu.

Então as tuas palavras voarão
Em canções de cada ninho dos meus pássaros,
E as tuas melodias brotarão
Em flores por todos os recantos da minha floresta."

(uma tema um pouco diferente, ou nem tanto...)

P.S. Voltamos aos lugares onde nos sentimos bem, quando as imagens nos chamam: "...tivessem sido donzelas aldeãs e pudessem nadar no rio com os seus cântaros a flutuarem ao lado delas."

Que imagem poética de límpida visão!