terça-feira, 1 de março de 2011
"A ética é a responsabilidade por tudo quanto vive, estendida além de todos os limites"
"O homem só é verdadeiramente ético quando obedece a necessidade de ajudar a toda vida a que pode ajudar e se envergonha de causar dano a todo e qualquer ser vivo. Ele não se pergunta até onde esta ou aquela vida tem valor para merecer participação, nem se, ou até onde, ela ainda é capaz de sentir. Para ele a vida em si é santa. Não arranca nenhuma folha das árvores, não quebra uma flor, e toma cuidado para não pisar nenhum inseto. Quando no veºão trabalha à noite à luz da lâmpada, prefere manter a janela fechada e respirar um ar pesado a ver os insetos caírem um após o outro na sua mesa com as asas chamuscadas.
Quando após a chuva caminha pela estrada e vê a minhoca que se extraviou, ele se lembra de que ela terá que secar ao sol se não tiver tempo de encontrar terra em que possa esconder-se, e retira-a da pedra mortífera para a grama. Quando passa por um inseto que caiu numa poça, ele trata de estender-lhe uma folha ou um talo a fim de o salvar
Não teme que zombem dele como sentimental. É este o destino de toda a verdade, que antes de ser reconhecida ela seja objeto de riso. Antes passava por loucura admitir que os homens de cor seriam verdadeiros homens, e que teriam que ser tratados humanamente. A loucura passou a ser sabedoria. Hoje é considerado como um exagero estender até suas formas ínfimas a contínua atenção a todo ser vivo, como uma exigência da ética racional. Mas há de chegar o dia em que se há de julgar estranho que a humanidade tenha precisado tanto tempo para entender o dano inconsiderado à vida como incompatível com a ética.
A ética é a responsabilidade por tudo quanto vive, estendida além de todos os limites"
- Albert Schweitzer, A ética da veneração diante da vida (1955), in Leonardo Boff (com a colaboração de Werner Müller), Princípio de Compaixão e Cuidado. O encontro entre Ocidente e Oriente, Petrópolis, Vozes, 2000, pp.88-89.
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3 comentários:
Paulo
...por TUDO quanto vive...
é frequente os tratadores de plantas - jardineiros ou outros - dialogarem com os seres vivos de que são guardadores. Como os pastores com os rebanhos, que podem identificar "psicologicamente" todos os seus elementos. Um bom pastor não conhece menos bem os seus borregos, ou cabritos, ou vitelos, do que um mestre-escola os seus jovens alunos.
também um tratador de plantas sabe que elas o entendem, conseguem discernir os seus humores, podem contribuir de maneira decisiva para influenciar o seu estado-de-espírito.
biosensores altamente especializados podem detetar reações diferentes das plantas a pessoas distintas: conforme a empatia que estabelecem com elas.
podem sorrir ou fazer beicinho em função de quem as aborda.
podar uma roseira ou um pessegueiro não é fisiológicamente mais agressivo do que tosquiar uma ovelha ou aparar, para ferrar, os cascos de um cavalo.
As Corridas de cavalos serão uma violência? Mesmo quando eles se debatem até ao exaustão?
Tantas dúvidas eu tenho sobre toda esta vasta e interessante problemática.
E amputar folhas de couve, ou arrancá-las pela raíz, não será de modo idêntico um atentado contra a Natureza?
Não te peço que percas tempo a responder-me, até que nesta vasta matéria de BIOética talvez falte instituir um ramo que me apresso a pré-batizar de FITOética
abraço
Platero, comungo de todas as tuas questões e espero que possas dizer algo sobre essa fitoética, a partir de todo o teu saber.
Lamento andar com menos tempo para vir aqui...
Grande abraço
Fitoética, essa só mesmo tu génio para te lembrares.
Percebo bem o que dizes.
O trabalho que eu vou tendo sempre que há uma mudança da gabinetes, no trabalho.
"é só uma planta, deita fora"
"está seca...deita fora"
Agora já temos um pequeno jardim.
Bjs
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