O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quinta-feira, 24 de março de 2011

ARVOREAR



Corro e percorro-te,
sufoca-me como punhais,
o gélido da noite.

Impele-me o vento
floresta adentro.

Vestes perdidas,
descalça, no castanho
que se entranha,
num chão de folhas
em tapete tecido, escuto.

Distante, um nome de terra,
esquecido.
Apelo que vocifera e explode no peito,
coração que já não bate,
dispersado, dissipado,
diluído, no rio que me flui.

Abrem-se as entranhas da terra,
largos veios à minha passagem,
longos os dedos, em raízes tornados.
Um sopro sufocado, o ar que me abraça,
oferenda-me a Luz
que é meu alimento.

Ramos de braços feitos,
prolongam-se e beijam a Lua,
as estrelas dançam-me segredos de vento.
Dialectos de folhas murmuram-se,
em meu redor.

Evoco tudo isto,
Acedo ao que já fui.

Amanhã, virei fazer um ninho em meus ramos.

Sou quase eterna!

(Sentir e Ser - 2011)

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