Um espaço para expressar, conhecer e reflectir as mais altas, fundas e amplas experiências e possibilidades humanas, onde os limites se convertem em limiares. Sofrimento, mal e morte, iniciação, poesia e revolução, sexo, erotismo e amor, transe, êxtase e loucura, espiritualidade, mística e transcendência. Tudo o que altera, transmuta e liberta. Tudo o que desencobre um Esplendor nas cinzas opacas da vida falsa.
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
AZUL
Descansa agora que a noite regressa quase sem cor.
governo
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
Colóquio "Religião e (in)felicidade" - Seminário da Boa Nova - 9/10 de Outubro
Seminário da Boa Nova - Valadares - Vila Nova de Gaia
Dia 9 de Outubro de 2010
10.00: Religião e (in)felicidade: ambiguidades das religiões
Anselmo Borges (Organização do Colóquio)
11.30: Prazeres e beatitude
Teresa Toldy (Universidade Fernando Pessoa)
14.30: Cérebro, prazeres e felicidade
Miguel Castelo-Branco e Nicolás Lori (Universidade de Coimbra)
16.00: Sofrimento, Medicina e o Transcendente
João Lobo Antunes (Universidade de Lisboa)
17.30: Deus e o mal
Andrés Torres Queiruga (Universidade de Santiago)
21.30: As religiões e a paz. O diálogo inter-religioso
Andrés Torres Queiruga e Paulo Borges (Universidade de Lisboa)
Apresentação do livro Religião e Diálogo Inter-Religioso, de Anselmo Borges (Imprensa da Universidade de Coimbra, 2010) e do nº1 da revista Cultura ENTRE Culturas
Dia 10 de Outubro de 2010
9.30: : Memória das vítimas e sentido da História
Manuel Reyes-Mate (CSIC, Madrid)
11.30: Ignorância, sofrimento e Despertar segundo a via do Buda
Paulo Borges (Universidade de Lisboa)
14.30: Elogio do inútil
José Tolentino de Mendonça (Universidade Católica Portuguesa)
16.00: A humanização de Deus
José Maria Castillo (Universidade de Granada)
17.30: Palavra de encerramento
Albino Valente dos Anjos
(Superior Geral da Sociedade Missionária Portuguesa)
terça-feira, 28 de setembro de 2010
Retiro na Serra da Estrela - Como lidar com as emoções perturbadoras - 15/17 Outubro
Casa Grande – Paços da Serra (15 a 17 de Outubro)
Programa:
Dia 15:
19.00- 22.00- Acolhimento e introdução ao Retiro
Dia 16:
8.00- Pequeno-almoço
9.00-13.00 (com intervalos) – As 6 emoções perturbadoras e os seis mundos do samsara: apego, orgulho, inveja e ciúme, avidez e avareza, ódio e cólera, torpor mental. Como nos afectam e como transformá-las usando o método dos antídotos. As quatro meditações ilimitadas: amor, compaixão, alegria e imparcialidade.
Sessões teórico-práticas de meditação sentada e em andamento. Shamatha – estabilização da mente na atenção às sensações físicas, à respiração e ao fluxo das emoções e dos pensamentos.
13.30- Almoço (vegetariano)
15.00-19.00 (com intervalos) – Sessões teórico-práticas de meditação sentada e em andamento. Vipassana – Compreensão da natureza profunda das emoções perturbadoras mediante o método da auto-libertação.
19.30- Jantar (vegetariano)
Dia 17:
8.00- Pequeno-almoço
9.00-13.00 – Revisão dos dois métodos de lidar com as emoções. Troca/Tonglen – abertura do coração a todos os seres.
13.30- Almoço (vegetariano)
15.00-18.00 – Introdução à meditação com visualizações e mantras.
O retiro será facilitado por Paulo Borges, Professor de Filosofia na Universidade de Lisboa e Presidente da União Budista Portuguesa.
Terá lugar na "Casa Grande", Turismo de Habitação, em Paços da Serra.
Preço por pessoa refeições incluídas
2 Dias + 2 Noites quarto 1 pessoa 185€ quarto 2 pessoas 175€
- É necessário inscrever-se previamente por telefone ou e-mail até 7 de Outubro
- É importante trazer almofada e tapete de meditação
- O evento só se realizará com um mínimo de 10 participantes
Para inscrições contactar:
Margarida Vasconcelos
Tlm: 934297935
Tel: 238496341
info@casagrande.com.pt
www.casagrande.com.pt
Para mais informações sobre o retiro:
Paulo Borges
pauloaeborges@gmail.com
Citação
A minha mãe pediu-me que eu pusesse aqui a revolta dela acerca dos animais e sua situação em Portugal:
"Que país é este?
Dão casas e subsídios a marginais, drogados e a quem não quer trabalhar.
Põem em celas de luxo violadores, assassinos, gatunos, etc.
E os animais que não fizeram mal a ninguém - pelo contrário, deram todo o amor e dedicação aos seus donos - são maltratados.
E quando vão parar ao Canil Municipal? Aí é a tortura:
1/2 m2, 30cm de trela, não se podem deitar porque a trela não permite. Pouca comida, pouca água, sem luz do dia, fazem neste espaço tudo. Que tortura até à morte!
Que país este tão cruel e injusto.
Por que não trocar as posições?
Os criminosos no canil e os animais nas celas das prisões com todas as condições para um bom fim de vida.
Senhores do governo, vejam bem o que se passa e façam mudanças. É uma vergonha para todos tanta injustiça e tanta crueldade para com seres tão inocentes.
A forma como os animais são tratados é o espelho do país que temos e de quem nos governa.
Tenham vergonha!!
Cortem nas coisas inúteis e criem condições no canil. Façam "boxes" ao ar livre, espaço não vos falta.
Castiguem com grandes multas quem abandona e maltrata os animais.
Nos países mais à frente isso acontece. Aqui é só no papel, nada se faz.
Talvez essas receitas (das multas) desse para melhorar as condições no Canil Municipal.
Façam algo. Mostrem que estão a evoluir. Assim continuamos injustos e atrasados. 3º Mundo nesta matéria.
É tão fácil dar a volta.
P.S.: O senhor Presidente da Câmara devia visitar o canil e passar lá umas férias."
Pronto, mãe, agora é esperar pelo feedback. Eu depois digo-te.
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
com palavras Bêbedas ou não
com palavras vindas do altar
escreve com ganância
como quem pare a noite
e vem devolver o desejo
a quem o viu nascer
escreve com fogo na voz
e incendeia os lábios
de quem não ousa dizer
escreve como quem ama
a sua própria nudez
e sê inteiramente criança
a falar sem falar
a sonhar toda a noite
em cada asa
está um parapeito
para que olhes
a linha
que não é linha
eu e tu
única pessoa
a olhar de dentro
pela persiana do mundo
vomita de ti o ser mais delirante
despe-te
e escreve nua
porque eu quero um poema nu
somos o que a vida nos trouxe
e o amor perpétuo em cima da cabeça de um anjo mudo
sonha comigo nesta realidade
canta o azul enquanto é verde
cria o rio neste meu deserto
que eu tenho barco e remos
e um sopro para dar na vela
deixo-te neste meu cais peitoral
com voz esmigalhada
escreve o dom de morrer
a certeza que seremos eternamente
um sol em nossas mãos
escreve com loucura sempre em pé
com letras terrivelmente belas
e sorri
como se aprendesses o verbo
e um sonho invadisse a tua garganta
que não é garganta
é o caminho que estou
dá-me um beijo
enquanto escreves
neste meu armario de absurdidades,
viver como um pato vive,
flutuar em marès feitas de aperitivos,
descalçar-me e escrever sobre a relva
e as tuas pernas,
olhar-me ao espelho numa poça qualquer
e lidar com a solidao
como uma estàtua lida com uma comichao,
ser bòia,
sem precisar de olhar para ninguem que passa na rua.
Gostava de encontrar um lugar para mim
nessa tua gaveta de reflexao descontraida,
guiando mundos com a ponta da ìris
no palco dos dentes
com deuses a fazer de clientes,
na mira da fisga da curiosidade
o barco bate asas
e adormece no chao
despido
durante a tarde
com as portas e as janelas todas abertas
para fazer corrente de lar,
como uma conversa que começou
como a imprevisibilidade de tropeçar
numa avioneta subterranea,
um citrino, um lìrio.
Gostava de construir algo imortal sobre nòs,
ilegìvel, intocàvel, inviolàvel,
numa cidade de reflexos
feita sò de corpos sem interesse
que deslizem pela musica do seu cerebro,
sem nunca pensarem,
sem jamais se compararem;
uns
entre
todos.
2010
www.movimento-xexe.blogspot.com
domingo, 26 de setembro de 2010
ainda o OUTONO
sábado, 25 de setembro de 2010
TERESA LEWIS - sabe quem foi?
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
Canil/Gatil Municipal de Lisboa ou Campo de Concentração e Extermínio?
- Enviado por Ajudar Bichos Como Nós, quinta-feira, 23 de Setembro de 2010, às 16:43
Nós, no Projecto "Ajudar Bichos como Nós", subscrevemos na íntegra, pois já passámos pelo mesmo:
"Olá. Fui hoje ao Canil/Gatil Municipal do Monsanto procurar, entre os desafortunados, o meu Tweeny, o gato que desapareceu há umas semanas. Não sei o que lhes possa dizer sobre o que vi. Acho que, em toda a minha vida, nunca vi tanta miséria.Cá fora o barulho já era angustiante e vi-me completamente cercado por dezenas de moscas. Já tinha assistido a 2 situações pouco éticas antes de entrar. Uma delas era um casal que vinha enterrar o seu cão. Pediram-lhe o BI para comprovar que era de Lisboa. O senhor não tinha BI, tinha Cartão do Cidadão (Azar, no Cartão do Cidadão não consta a zona de residência). A senhora que vinha com ele idem. O casal estava a chorar e os senhores a dizer que tinham que apresentar algum documento com morada de Lisboa, "(...)senão têm que pagar". Eu estava ao lado, ouvi e estendi o meu BI. Disse-lhes: "Eu moro em Lisboa". Acabou por ser gratuito. Desculpem-me, mas não é esta M**da de burocracia que quero ouvir depois de um dos meus falecer.Passado um pouco vem um outro senhor com um carrinho de mão cheio de sacos do lixo e aproxima-se do carro. Os sacos do lixo tinham animais mortos dentro. Animais empilhados uns em cima dos outros num carrinho de mão?! O casal a chorar e o senhor leva o carrinho de mão para perto do...lixo.Depois destes filmes, já não estava com muito boa disposição, mas lá fui eu.A acompanhar-me vinha uma pessoa responsável pelo tratamento dos animais, um senhor com mau aspecto, de poucas falas. Pelo caminho, peguei no telemóvel com gravador de vídeo para captar umas imagens daquilo que via para poder partilhar, com o objectivo de os denunciar/expor. O senhor ia à minha frente e indicou-me o caminho. Antes de entrar nos longos corredores, pior que os chamados corredores da morte do 3º mundo passo pela zona dos cães, aproximo-me do vidro que nos separa e uns quantos encolhem-se de medo, outros atiçam-se em minha direcção, sendo estrangulados pelas cordas/correntes fortes. O senhor, impaciente, aguarda-me à entrada do Gatil. Segui-o. Assim que entrei disse-me que tinha que guardar o telemóvel pois não eram permitidas gravações, nem fotografias. Ainda refilei, mas o que presenciei, tirou-me o pensamento das filmagens.Deparei-me com um cheiro nauseabundo, barulho ensurdecedor, os gatos completamente aflitos, envoltos nas próprias fezes, maltratados, cheios de escoriações, mal nutridos, miavam desesperadamente, vi gatos a trepar as grades com a gana de querer sair, vi gatos cheios de medo completamente encolhidos, vi gatos bebés sem mãe, cadavéricos, sujos, doentes. Olhei para cima e as condutas do ar faziam um barulho tremendo, tinham fios pendurados, estava tudo sujo.. Aquilo são condições?! A primeira coisa que reparei foi no barulho e no cheiro, como é óbvio. Vi um cão no gatil e perguntei porque é que o cão estava ali (e ladrava compulsivamente), pois aquilo era o gatil. Ele responde-me que foram os doutores que mandaram.Perguntei ao senhor quanto tempo os animais estavam ali até serem abatidos. O senhor responde-me prontamente 8/15 dias, dependendo dos Doutores..os veterinários. Depois, pergunto-lhe se os gatos eram tratados. Ele, no meio dos murmúrios, diz que depende dos doutores. Perguntei-lhe se os doutores eram os donos do canil/gatil. Ele responde-me que eles é que mandam e que não podia fazer nada.O que são os doutores??? Serão uma espécie de máfia que controlam tudo e todos e que têm os seus capangas para não deixar filmar, fotografar, etc... ?? Será que não há Veterinários competentes ? Será que alguma vez irão para Veterinária quem realmente quer ser Veterinário, ao invés de irem os frustrados que não entraram em Medicina ? Onde está a parte humana dos Veterinários ? E dos outros responsáveis pelo canil/gatil? O objectivo do canil/gatil é eliminação dos cães e gatos da cidade ? Deviam ter vergonha. Eu sou de Lisboa e isto envergonha-me."
- Miguel Veloso
Nota: O PAN (Partido pelos Animais e pela Natureza) pede há meses para ser recebido pelo Sr. Presidente da Câmara Municipal da Lisboa, Dr. António Costa, para denunciar esta situação e... nada! É esta vergonha e horror encobertos que queremos em Lisboa e em tantos outros lugares deste país? Podemos dormir descansados enquanto seres sencientes sofrem deste modo? Divulguem, pelo menos.
O começo de Auschwitz
matadouro e pensa: são apenas animais"
—Theodor Adorno (1903-1969).
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
-esperança-
A meu filho
desejaria a curva do horizonte.
E todavia dele tudo em mim desejo:
o felino gosto de ver,
o brilho chuvoso da pele,
as mãos que desvendam e amam.
…
meu fermento,
nele caminho e me procuro,
a corpo igual regresso:
ao rápido besouro das lágrimas,
ao calor da boca dos cães,
à sua língua de faca afectuosa,
à seta que disparam os ibiscos,
à partida solene da cama de grades,
ao encontro,
na praia, com as algas;
à alegria de dormir com um gato,
de ver sair das vacas o leite fumegante,
…
António Osório
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
terça-feira, 21 de setembro de 2010
dou por mim de novo a descer estas ladeiras.
E novamente reparo e me lembro do esquecimento,
o esquecimento que lembra o todo
e me recorda da gota e do leito que me torna sem retorno
rio, céu, nuvem, algodão
setembro, flor e entardecer,
rumo onde pousa e se descobre uma borboleta branca a adejar nas amoras silvestres,
aroma quente de maças na terra onde tombam em húmus e repasto para os pássaros,
todos os abrigados pelos trevos, líquenes e hortelãs
tudo,
tudo o que se levanta e oculta como o voo do melro e a manhã e o verde das folhas das videiras em insondáveis rubros,
tudo o que me encontra, inflama e jamais se guarda.
Carta Aberta aos Portugueses e ao Dr. Moita Flores
Chamo-me Paulo Borges. Sou professor na Universidade de Lisboa e escritor. Dirijo a revista Cultura ENTRE Culturas. Tenho dois filhos. Sou o primeiro signatário da Petição “Pela abolição das touradas e de todos os espectáculos com touros”, que circula na net e em versão impressa. A petição, lançada pelo Partido pelos Animais e pela Natureza (PAN), serviu de base à constituição da plataforma “Basta de Touradas”, que conta já com a adesão de 24 associações e entidades de defesa dos animais e com vários apoios de figuras públicas, nacionais e internacionais.
O Dr. Moita Flores, figura pública e actual presidente da Câmara de Santarém, lançou uma petição contra a nossa, redigida em termos que considero deveras preocupantes, vindos de uma pessoa com a sua responsabilidade cultural, cívica, social e política. Sei que se sente ameaçado pelo movimento de defesa dos animais, mas isso não justifica tudo.
No texto da sua petição chama hipócritas, histéricos, angustiados, “talibãs” e “horda de analfabetos” a todos os que são contra as touradas. Diz que chegou à idade “onde já não há paciência para ser insultado”, quando ninguém o insultou. Pelos vistos chegou à idade onde só tem paciência para insultar os seus concidadãos. Para insultar os milhões de portugueses que, por serem contra o sofrimento dos animais e contra a degradação dos homens que se divertem com isso, são considerados psicopatas, terroristas e incultos.
Fui amigo do Professor Agostinho da Silva, sou editor das suas obras e presido à Associação com o seu nome. Aprendi com ele e com muitos outros – desde São Francisco de Assis, Leonardo da Vinci e Antero de Quental a Gandhi e ao XIV Dalai Lama - a defender a causa do bem de homens e animais e recordo que Agostinho da Silva dizia haver dois tipos de “analfabetos”: os que não sabem ler e os que sabem, mas não conseguem entender o que lêem. Creio que o Dr. Moita Flores se arrisca a ser suspeito de um terceiro caso, ainda mais grave: não conseguir sequer entender o que escreve. Pergunto-lhe quem dos opositores às touradas comete atentados bombistas ou pretende impor as suas ideias pelo terror e pela violência. Pergunto-lhe porque é que ser contra o sofrimento de touros e cavalos e contra a degradação dos homens que com isso se divertem é ser “analfabeto”. Sou autor de 22 livros (de poesia, ensaio, ficção e teatro) e sou professor na Universidade de Lisboa há 22 anos: os portugueses ficam a saber, pela superior inteligência do Dr. Moita Flores, que a dita Universidade contratou um “talibã” e um “analfabeto” que anda a converter ao terrorismo e à incultura os milhares de alunos que o têm tido como professor.
Não gosto de falar de mim, mas tenho de o fazer pela causa que defendo e porque isto é gravíssimo, vindo de um criminologista, de uma figura pública e de um supremo responsável político camarário. O Dr. Moita Flores insulta desavergonhadamente a maioria da população portuguesa que, como o indica um estudo recente (2007) do ISCTE, é contra as touradas. Segundo a brilhante dedução deste senhor, Portugal tem assim, a par da crise económica, mais um problema grave: a maioria da sua população é composta de desequilibrados mentais, “talibãs” e “analfabetos”.
A solução para este estado de coisas seria, segundo fica implícito no espírito da sua petição, irmos todos curar-nos, reabilitar-nos e cultivar-nos, com as nossas famílias, filhos e netos, para essas vanguardas da alta cultura que são as praças de touros, onde se descobre o sentido da vida e da existência, e se aprende a amar os animais e a natureza, aplaudindo num êxtase de alegria o espectáculo da dor e do sangue. Desprezemos as artes, as letras e as ciências, deixemos as escolas, abandonemos as universidades, onde segundo Moita Flores ensinam “talibãs” e “analfabetos”, e vamos todos atingir a maioridade cívica, mental e cultural a gritar “Olé!” nas touradas.
Agora sem ironia: o seu texto, Dr. Moita Flores, de uma retórica literária completamente desprovida de coerência racional e apenas cheia de arrogância e insultos a quem não pensa como o senhor, confrange pela desonestidade e/ou confusão mental de que dá mostras. Pois não sabe o senhor que os defensores dos animais são contra todas as formas do seu sofrimento, incluindo essas que refere, e não apenas contra as touradas? Diz que se converteu ao franciscanismo e que São Francisco de Assis lhe ensinou o “caminho ético e moral” para educar os seus filhos e eu pergunto: já alguma vez leu as biografias de São Francisco, onde por exemplo se diz que “Chamava irmãos a todos os animais […]” (Tomás de Celano, Vida Segunda, CXXIV, 165) e se compadecia perante os sofrimentos que os homens lhes infligiam? E porque é que o “touro bravo” é uma “fera negra, símbolo da morte e do medo”? Não serão antes o toureiro e todos os aficionados que aplaudem o espectáculo da dor que são temíveis e negros símbolos – embora muitas vezes inconscientes - do pior que a humanidade traz em si? Fala do ritual trágico onde “vence a vida ou vence a morte” e eu pergunto se a evolução dos costumes não nos oferece outras formas, mais nobres, de fazer a catarse das paixões e vencer o medo, sem fazer sofrer ninguém? Não há hoje formas superiores de heroísmo, como dedicar-se às grandes causas de defesa dos homens, dos animais e da natureza? Não é isso mais benéfico, útil e urgente do que a religião cruel das touradas, anacrónica persistência dos arcaicos sacrifícios sangrentos? E não é uma grosseira mistificação identificar os opositores das touradas com a cultura urbana, quando há quem deteste touradas em todos os pontos do país, incluindo no Ribatejo e no Alentejo? Para já não falar da sua patusca ideia de que nós defendemos a “ditadura do ‘hamburger' urbano” (!?...) e de que é pelas touradas que se defendem os “Direitos do Homem”, dos animais e da “Terra”… Sinceramente, Dr. Moita Flores, o que há de lógico e sério nisto? Defendem-se os animais criando-os para os torturar? O toiro bravo tem de ser torturado numa arena para continuar a existir e com ele os montados? Fala por fim da identidade nacional, da preservação da memória histórica de Portugal: triste identidade e triste país que depende de manter tradições eticamente inadmissíveis para subsistir! Pois eu digo-lhe: Portugal será muito mais motivo de orgulho para os portugueses, e muito mais respeitado internacionalmente, quando, após ser pioneiro na abolição da pena de morte, abolir as touradas e todas as formas de sofrimento animal. Portugal não desaparecerá, mas será um outro Portugal, que manterá na sua riquíssima tradição e cultura tudo o que for ético, relegando para os museus do passado a não repetir tudo o que hoje nos envergonha, como autos-de-fé, esclavagismo, perseguições político-religiosas e touradas.
Esta carta dirige-se a si, mas sobretudo a todos os Portugueses. Leiam-se as duas petições, o espírito, a argumentação e os objectivos de uma e outra, e vejamos o que queremos de melhor para o país, para nós e para as futuras gerações: aplaudir como cultura a tortura dos animais para divertimento dos homens, com prejuízo da sua humanidade e sensibilidade ética, ou dar um passo corajoso para abolir esta e todas as formas de fazer sofrer os animais, nossos companheiros na aventura da existência, em prol do seu bem e da nossa evolução pessoal e colectiva.
E vejamos quem queremos ter como representantes. É muito grave que num Estado de direito as forças policiais não sejam capazes de ou não queiram fazer cumprir a lei, como no recente caso da morte do touro em Monsaraz. Como é muito grave que uma figura como o Dr. Moita Flores desrespeite e insulte impunemente os seus concidadãos que, por imperativo de consciência, não pensam como ele. Está na hora de dizer “Basta!”: às touradas, a todas as formas de infligir sofrimento a homens e animais e a uma geração de políticos que coloca os seus duvidosos gostos pessoais, bem como os interesses de grupos minoritários, acima da sensibilidade maioritária da população. Está na hora de surgir uma nova geração, com um novo paradigma, que traga a ética para a política e assuma numa mesma bandeira a defesa dos homens, dos animais e da natureza.
Está na Hora! Basta!
Vamos assinar em massa:
http://peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=010BASTA
Paulo Borges
Lisboa, 21 de Setembro de 2010
domingo, 19 de setembro de 2010
A chave
Paguei 1 euro pela cópia, e dei boa tarde.
Depois desse adeus, muito pouco tempo depois, acabei por voltar ao mestre duplicador com uma reclamação...
- Boa tarde, mais uma vez - e sorri. A chave duplicada não funciona. Entra, roda, mas depois encrava.
- Não há azar! - disse entusiasticamente. Às vezes acontece, não tem problema, fazemos outra cópia! Quer dizer... - disse, meio atrapalhado... Fazíamos... é que já não tenho mais chaves destas. Peço-lhe desculpa, aqui tem o seu euro.
- E agora? - disse para mim, surpreso, novamente com 1 euro na mão. Acontece (pensei eu). E foi isto o que aconteceu.
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
Índice do nº2 da Cultura ENTRE Culturas. O nº1 é apresentado hoje, às 19h, na Feira de Alternativas de Sintra (São Pedro)
entre tantos e tanto
| editorial 3
in memoriam
raimon panikkar nove sutras sobre a paz 6
antónio telmo portugal dans la découverte de l’au-delà de l’histoire 7
do oriente e dos orientes a ocidente
| ensaios 5
carlos joão correia
oriente/ocidente: a questão da identidade pessoal 12
rui lopo
da universalidade, do oriente, do orientalismo, da filosofia da religião, do budismo definido como niilismo e do que haja de romântico entre tudo isto. (Diário de uma investigação) 23
amon pinho
cristianismo e vontade, ocidente e crise de espírito: da interpretação niilista de O Budismo ao buda-dharma e ao universalismo, percursos de agostinho da silva 29
paulo borges
fernando pessoa no tibete ou de como pelo bar-do se compreende dom sebastião como o “king of gaps”
e o quinto império como o seu “estranho reino” 41
entre nós e a voz a água corrente
poesia | photo graphia 49
rumi cruz e cristão, de ponto a ponto sondei 50
vicente franz cecim quatro poemas de “Fonte dos que dormem” 51
ethel feldman três poemas 55
maria sarmento marinheiros estáticos(poema entre-órfico) 58
longchenpa um excerto d’ ”A Liberdade Natural da Mente” 60
flávio lopes da silva três poemas e aforismos 62
sylvia beirute três poemas 65
donis de frol guilhade três poemas de “A voz maior que a boca” 68
simeão o novo teólogo hino 38 72
t.s.eliot ”little gidding” – extractos de “Quatro Quartetos” 73
rómulo de andrade três obras de “Berço das águas” 74
joão paulo farkas oito “olhares” duma viagem à Índia 76
dos ocidentes a oriente
81 | éditos e inéditos
82 neurociências e meditação
matthieu ricard
87 Deus, os deuses e o divino sob o olhar do monoteísmo
e do budismo françoise bonardel
as distorções que nós trazemos para o estudo
97 do budismo dzongsar khyentse rinpoche
porquê o Oriente?
105 - uma entrevista a giangiorgio pasqualotto
109 lei dos jentios
(apresentação e notas) ricardo ventura
dest ‘ artes
112 | dos elmos, dos almos
e dos telmos
antónio telmo
113 a identidade religiosa de luís de camões
miguel gullander
117 a meditação do cadáver
sam cyrous
123 da Pérsia ancestral ao Irão actual : do misticismo religioso à
modernidade teocrática
duarte drumond braga
126 notas sobre o “orientalismo” na poesia de Gil de Carvalho
abdul cadre
128 caminho de santiago
sobre escritos
recensões | opinião
miguel real
132 a morte da “filosofia portuguesa”
colaboradores
134 | cv / nota bio-bibliográfica
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
Agravamento da Dívida Pública nacional - duas leituras
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
terça-feira, 14 de setembro de 2010
Os piratas em terra,
A maravilha da burla,
Os equinócios trocados,
Os dias de festa na casa do marquês,
São os sonhos que buscamos no meio da lama,
É o primeiro-ministro quando abre a boca para dizer ei pá,
É o secretário do primeiro-ministro que não abre a boca para não dar com cheiros,
É saber que amanhã pode não haver pão,
É a fé em alvoroço por saber que há homens na terra que, enfim…
O que me inspira-me são as altas máquinas a exporem as suas vaidades,
É o grito que rasga a boca de quem o gritou.
É a dona Miquelina
que desconhece que hoje em dia existe muitas ruas que vão dar à morte,
Que é leiga em saber que mais vale uma dor de dentes
do que dentes cravados no amor.
Depois há a esperança que não vê um boi,
Há o sol a derreter as poucas fantasias,
Há o pouco que muito se tem,
Há o dom de tombar e recomeçar de novo,
Há a miséria que não passa com comprimidos.
Tudo isso inspira-me, e amo o azul do céu que vai caindo sobre nós,
Amo a crise do meu país que nos deixa a pensar friamente,
amo os políticos,
as mulheres dos políticos,
as amantes dos políticos,
os bandarilheiros, os forcados, os enforcados
os que vão à forca, os que estão para ir,
os que sonham ser felizes, os que não sonham,
os que sei lá bem
Amo pensar que estou fodido para a vida inteira.
E isso inspira-me a ser homem que corre imaginado para o sul,
A amar o défice público,
A noite que atravessa os dias,
O silêncio que não é menos do que uma espinha na garganta.
Amo a hipocrisia dos que prometem e se ajoelham por uma falinha mansa,
Amo a lúxuria e a vaidade dos novos-ricos,
O tom sarcástico do futuro,
A perna alçada da ministra a dizer é bom mas não é para ti.
Inspira-me também o ladrão que vai a fugir,
O outro que trabalha em gabinetes e despacha ofícios a preço xis,
Mais aquele que com lei ou sem lei
Mete-nos a mão na dentadura.
Tudo isto é lindo,
É bom ser português e não ter casa para dormir,
Casar com uma velha que nos é desleal,
Ter um copo fundo para uma sede funda,
Chorar a contra-relógio, a sonhar com paralelepípedos,
Pedir clemência aos peixes para que venham ao prato
porque a isca acabou, comemo-la nós.
O que me inspira é a matança lenta de um porco,
E a carne mal repartida,
e a história que nos contam para acreditar
Que há lugares no autocarro para o amanhã,
E o desejo de não sobreviver em caso de incêndio,
O paleio dos que vêm à televisão atirar flores,
As cartomantes que sabem-na toda,
O isqueiro aceso ao pé da botija de gás,
O crédito bancário que nos prende pelas pernas, pelo pescoço,
A música que toca em Sol tenebroso,
A saia justa da esperança.
Inspira-me o não saber da noite nem da luz,
O caviar que nunca comi, nunca vi
Mas sei que existe na barriga de uns
E na ganância de outros
Aquela rapariga que anda na moda cujo nome é desigualdade,
as altas patentes da dor,
O sorriso rasteiro de uma criança,
A chuva que nem aquece nem arrefece,
O amor sem telhado,
O delírio de ser gente, o sangue analfabeto do burguês.
Inspira-me os anéis de ouro nas vitrinas à espera de dedos finos e delicados,
O manual de instruções para se sobreviver,
A bandeira que só serve para limpar os cantos da boca,
Os que não aguentam tudo isto e põe fim ao que ainda não começou,
As árvores sem posição para dormir,
Os painéis solares sobre a cabeça da morte,
O pensar que Deus nos vai valer.
Amo ficar aqui à espera,
A ser comido pelo desassossego,
Andar de quatro para me encontrar,
Ruir sonhos para começar outros,
Fumar a paciência sem deitar fumo para fora,
E sonhar com as greves do país,
E chorar porque sou tão feliz,
Dizer ao taberneiro que amanhã fica tudo liquidado,
Olhar a paisagem mal dividida,
A cidade a roubar aos campos,
A verdade em contra-mão,
As janelas com vista para o passado.
Amo saber que o destino é um prego voltado para cima,
Que a pequenez é mais do que imagino
Amo e sou feliz nessa foda,
Que não tenho salário digno mas imagino-o,
A solidão a arrombar o corpo e a mente,
A velocidade do naufrágio,
A burra inteligência do dia-a-dia.
Inspira-me o litro do combustível sempre a subir,
A mão-cheia de rosários e a outra decepada,
As estatísticas de quem não trabalha,
Os mendigos que vêm bater à minha porta,
Os amantes nunca antes vistos,
A porrada que o invisível me dá,
O atirar a moeda ao ar e ela não cair,
As mulheres que se vendem
As mulher que se dão
As que estão por decidir.
Inspira-me saber que não sou o único
A pesar o céu e o inferno
A construir barracas no ventre da lua,
E sonhar imperfeito como um Deus talhado à pressa,
E ser vento por não poder ser outra coisa
E amo os porquês, e a vida inteira atrás de mim,
Porque sou poeta e triste,
Sou um ser que não existe.
- Ó Portugal, se fosses uma gaja boa, juro que fazia-te um filho!
Editorial da Cultura ENTRE Culturas nº2 e lançamentos: o próximo na 6ª feira, 17, pelas 19h
O nº 2 será apresentado no Colóquio Internacional "Oriente-Ocidente: diálogos e cruzamentos", na Sala do Arquivo dos Paços do Concelho (Câmara Municipal de Lisboa), em 11 de Novembro.
Publicamos aqui, como aperitivo, o Editorial, que apresenta o conteúdo da revista. Uma forma de garantir e apoiar a revista é assiná-la.
Saudações interculturais
Paulo Borges
......................
Editorial
Após o primeiro número, cujo tema foi o diálogo intercultural, a Cultura ENTRE Culturas dedica este segundo número ao diálogo entre Ocidente e Oriente, na circunstância oportuna da comemoração dos 500 anos da chegada dos portugueses a Goa. O diálogo Ocidente-Oriente, esses dois grandes pulmões do planeta, tem sido e é cada vez mais a matriz do que de mais significativo surge na história planetária do homem e das manifestações do espírito que nele e em tudo sopra. A cultura portuguesa tem ocupado (para o melhor e o pior) um lugar central nessa interlocução e a nossa revista pretende renovar essa tradição.
Abrimos com uma homenagem a dois vultos que recentemente partiram: Raimon Panikkar, membro da Comissão de Honra da revista e insigne colaborador que nela provavelmente teve a sua última publicação em vida; António Telmo, figura maior do pensamento português contemporâneo, que nos enviou um texto sobre a espiritualidade persa em Luís de Camões e do qual nos honramos por publicar também o seu derradeiro escrito, sobre Raymond Abellio e a descoberta portuguesa do trans-histórico (os nossos agradecimentos a José Guilherme Abreu). Panikkar é um ícone do diálogo Ocidente-Oriente, em particular na vertente europeia-indiana (assumia-se como “cristão-hindu-budista-secular”). Telmo representa a osmose entre filosofia portuguesa e Cabala hebraica. Aos dois o nosso sentido “Até sempre!”.
No que respeita aos ensaios, Carlos João Correia mostra, com o habitual rigor e clareza, como a questão da identidade pessoal, central no Ocidente e no Oriente, se antecipa na filosofia indiana clássica, bramânica e budista. Rui Lopo apresenta uma promissora visão panorâmica da sua investigação sobre a recepção ocidental do budismo (também na cultura portuguesa). Amon Pinho mostra a evolução do pensamento de Agostinho da Silva sobre o budismo e o cristianismo, no contexto de um progressivo ecumenismo paraclético. Paulo Borges assinala a fecundidade do entre em Fernando Pessoa, interpretando o poema “King of Gaps”, bem como as figuras de D. Sebastião e do Quinto Império na Mensagem, a partir da noção tibetana de bar-do (entre-dois, estado intermédio).
Na secção “Éditos e inéditos” a revista continua a contar com a colaboração de figuras de renome internacional. O cientista e monge Matthieu Ricard faz uma estimulante síntese do diálogo entre as neurociências ocidentais e a tradição budista, sob a égide do Dalai Lama, bem como das descobertas científicas recentes acerca dos benefícios da prática regular da meditação para o desenvolvimento pessoal e social. Françoise Bonardel oferece-nos um inédito onde pondera o lugar de Deus, dos deuses e do divino no (mono)teísmo e no budismo, reflectindo sobre as vantagens e riscos do encontro das duas tradições no Ocidente contemporâneo. Dzongsar Khyentse Rinpoche, carismático mestre espiritual tibetano, realizador de cinema e autor de O que não faz de ti um budista, adverte num estilo incisivo para os problemas da transposição do budismo para o Ocidente. Giangiorgio Pasqualotto presenteia-nos com uma entrevista inédita sobre o lugar do Oriente na sua vasta obra e sobre a sua proposta de uma “filosofia intercultural”, equidistante de qualquer centrismo, ocidental ou oriental. Ricardo Ventura transcreve um trecho de um manuscrito português do século XVI, que mostra o lugar pioneiro dos missionários portugueses no conhecimento da cultura hindu no Ocidente. A introdução ao texto também mostra, todavia, os preconceitos religiosos e proselitistas que presidiram a este encontro de culturas, contribuindo por(des)ventura para a paradoxal inibição dos Estudos Orientais no país que mais demandou o Oriente.
Numa secção com textos vários, a visão de António Telmo de um Camões interiormente persa articula-se com a reflexão de Sam Cyrous sobre religião e política na Pérsia antiga e no Irão contemporâneo. O escritor intenso que é Miguel Gullander medita sobre o “cadáver” e a “silenciosa testemunha em tudo o que acontece”. Duarte Braga problematiza o “orientalismo” na poesia de Gil de Carvalho e Abdul Cadre inicia-nos no Caminho de Santiago e nos enigmas dos dois decapitados, Santo Iago e Prisciliano, que bem nota haverem sido dois heréticos, respectivamente entre judeus e cristãos.
Quanto aos poetas, a sua voz surge “entre-calada” pela dos sábios e dos santos homens: será assim doravante.
Abre-se, desde logo – pela mão de Rumi (i.e.“o Romano”) – , com a grandeza da alma sufi, que nos mostra que o Mesmo, o Único, o Insondável, está em todos os corações e lugares; e tão plena e intensamente o está, a ponto de parecer “embriagado, intoxicado e perturbado” aquele que lhe seja lugar, talqualmente os apóstolos do Cristo, no dia de Pentecostes, a quem alguns criam “cheios de vinho doce”(At. 2,13). O Sem Nome, na verdade, tal como vinho, com nada tolera coabitar no coração do homem. É único, e por isso é Único o Único, que em tudo é detectável nesse divino jogo de escondidas que por toda a parte se/nos verifica.
A palavra de Vicente Franz Cecim, primordial e incantatória, virgem como o pulsar amazónico, convoca as “aves profundas” que sobrevoam as “pedras dos dedos da oração”. Ethel Feldman, voz intimista que se nos oferece com o rigor da vibrante lâmina do sentir, enuncia “o voo e via[gem]” do presente, “tempo de sempre / tão tempo de ser”. O verbo de Maria Sarmento, por seu lado, de orvalhada pureza sempre, ressoa ecos do raro “canto mudo das rosas e dos veleiros”: nele “sobe aos lábios um canto, [e] sopram-se segredos”. Sussurrantemente.
Longchenpa, um dos maiores vultos da tradição budista tibetana, fala-nos acerca daquela sabedoria não-dual que emerge da compreensão da natureza, originalmente pura, da mente: a ler como quem não lesse! Flávio Lopes da Silva, em poesia de frescura surpreendente, vai ao ponto de falar-nos de um, não menos surpreendente, “apostador que ao ler um poema dissesse: chega!”. Deixa-nos também um conjunto de vívidos aforismos a ler com todos os olhos.
Sylvia Beirute, que canta sob a luz mediterrânica os al-gharbs de ser viva voz, garante-nos “a certeza de não cabermos numa única possibilidade”; daí, talvez, a pertinência do seu “projecto de ser uma mulher de açúcar” e propor-se assim como “um exemplo de não exemplo”: voz a não perder. De Donis de Frol Guilhade nada se dirá, que sempre prefere nada se diga de quanto haja dizer. Simeão, cognominado “novo teólogo” pela tradição ortodoxa bizantina, exprime suas moções místicas mais abissais, perante o mistério paradoxal da proximidade e inacessibilidade do Divino. Como um selo lacrado a uma “voz já da cascata”, a palavra sábia e rigorosa de T. S. Eliot fala-nos do tempo, do não-tempo nele e do além-tempo em ambos, e em tais termos o faz, que mostra ser “[todo o] poema um epitáfio”. Onde a vida se celebra, a vida para sempre floresce e perdura: ali onde, num entrelaçar de “línguas de fogo” coroantes das crianças, “o fogo e a rosa [são de novo] uma só coisa.”
Raimon Panikkar mostra-nos, num curto mas belíssimo conjunto de nove aforismos (sutras), de que é feita a paz e de como é simples, ainda que não fácil, o fazê-la e o sê-la: texto de uma imensa sabedoria, que, estando a abrir um justo In Memoriam neste número, estaria aqui também no seu mais do que justo lugar. Rómulo Andrade, com a sua arte de primacial pureza, leva a cabo (nas palavras de Ruy Fabiano Rabello) uma “poética que desperta e sinaliza no rumo duma consciência mais clara e solidária entre as pessoas e a própria vida”: a ver, sempre. João Paulo Farkas, o fotógrafo convidado para este número, é senhor de um olhar sobre o homem e a Natureza que, dir-se-ia, nos faz sentir “desaparecidos”, lembrando aquela espantosa palavra de António Maria Lisboa, aliás algures citada na revista: “ver é desaparecer”. E é.
O diálogo entre as culturas e entre cada uma delas e o que a todas transcende e equipara é o grande desafio do nosso tempo. É dele que depende o universalismo autêntico, caminho do meio entre nacionalismo cultural e globalização homogeneizadora. É por essa via que seguimos, criando/descobrindo pontes, mediações, elos. No próximo número em companhia de Fernando Pessoa, comemorando ainda os 75 anos da passagem desse que é um dos expoentes maiores de um trans-Portugal armilar, cumprindo-se e superando-se na mediação de todos com tudo.
Paulo Borges
Luiz Pires dos Reys
"Deus espera imóvel no meu sangue o instante de erguer a mão"
- Vergílio Ferreira, Invocação ao meu corpo.
Tás a ver a cena?
Dão-te com a toalha molhada nas costas e nem sequer estás em tronco nu, estás a ver?
Começam a dizer-te coisas não muito concretas, assim para o abstracto, estás a ver?
E quando concretizam um ponto também ficas à nora, ao tio ao tio.
Depois choras muito por causa da dúvida e pelo que desconfias ser mentira. É pela dúvida que te conquistam. Mantêm-te na mão por não saberes, ó tu que queres saber tudo, agora vais aprender a lição.
Mas que lição?!
Essa lição que já estás a levar com ela: Não vais saber nada, desta vez eu tratarei disso, ahahahahah! Ouvires umas gargalhadas mas não se riem mesmo, estão num espaço à prova de som. Fazem barulho só para tu ouvires mas tu nem sabes isso do “só para tu ouvires”, estás lixado, estás a ver?
E vão-te mandando com as coisas e tu, já culpado até ao osso que nunca mais te alevantarás, perguntas:
Mas o que é que eu fiz?!
Mas porque é que havias de ter feito alguma coisa? Estamos só a divertir-nos e ainda não tínhamos tido a tua atenção.
Mas antes desse momento fizeram-te acreditar em coisas sobre ti - já que tinhas dúvidas foram-te dissipando algumas. Coisas sobre ti que vinham há meses a debitar mas sempre com um olho no cigano, outro na mula, para não ser de rajada, sem ataques de nervos logo no primeiro dia. Visualizas?
Dizem que isto passa nos filmes. Sei que a Twilight Zone tem aquilo de uma pessoa não estar na mesma onda que as outras, sabes? Não sei agora explicar bem mas isso é pertinente, tanto que me lembro várias vezes dessa série.
Quando te iniciaram nisto era a aprontarem-te para ires para a casa escura. Já estavas quase sem nada, por isso já podias ir para lá: Para ficares com o peso que agora tens.
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
sábado, 11 de setembro de 2010
Diana esculpia a areia. Umas vezes eram sereias, doutras os minorauros ganhavam a forma provisória. Quando o mar se aproximava e levava com ele a arte, Diana sorria. Ver a vida ganhando vida, ver a vida deixando a vida era o exercíco diário da menina que tinha nascido já vai um par de anos. Ninguém sabia de onde vinha, nem onde se escondia nos dias de chuva. Nos dias de sol, Diana aparecia na praia do Nosso Senhor. Quando a madrugada adivinhava bom tempo, Diana corria e despia-se até o sol chegar e cobrir-lhe a vontade com calor. Nessas horas não se entendia se era o desejo de Diana quente, ou se era o sol que aquecia a areia. Quando adivinhava gente, Diana cobria-se de branco e começava a esculpir. Um dia Diana esculpiu um homem. Delicadamente contornou o corpo daquele ser. Pela primeira vez quis proteger a sua escultura do mar. Deitou-se sem peso em cima do homem que acabara de nascer. Assim quando o mar se aproximasse ela lutaria por cada pedaço da sua arte. Diana sentiu o mar molhar os corpos. Debaixo dela seu homem ganhava peso e Diana teve esperança de ganhar ao mar a derrota anunciada. Quando devagar o seu primeiro amor partiu, Diana chorou e praguejou contra a natureza que tudo tirou. Teimosa moldou um coração longe do mar, mas choveu e o coração desfez-se na areia. Esquecida dos dias em que disciplinada moldava a impermanência, Diana voltou a chorar.
As noites na aldeia eram solitárias. De longe ouviam-se as ondas a cantar ritmadamente. Diana dormiu na areia na esperança de uma nova manhã. De manhãzinha tentou moldar outro homem, mas seu coração ainda chorava pelo primeiro e Diana deixou de tentar.
Triste cantou a ladainha que ouvira da avó desde que nascera:
Sente, pequeno príncipe, meu beijo no teu. Entre nós uma rosa nasce em forma de flor, entre nós a dor é partilhada com amor. Todos os dias o mar te leva. Todas os dias voltas a nascer. Se já não és o mesmo. Pouco me importa. És certamente o homem nascido comigo na areia. Neste vai e vém, beija meu beijo e volta a nascer....
Diana vestida de branco é lenda em toda Setembro. O pescador perde-se por ela, a mulheres se ficam viúvas praguejam contra a sereia.
Entre nós uma rosa nasce em forma de flor. Entre nós a dor é partilhada com amor. Todos os dias o mar te leva. Todas os dias voltas a nascer. Neste vai e vém, beija meu beijo e volta a nascer....
Os caminhos diversos.
Os do Ser, os do não-Ser,
Os do Nada, os de qualquer
Coisa presente, existente…
Ou, simplesmente, imaginada.
A metamorfose e a mudança
Comandam o Mundo.
E o Ser não permanece mais
Na sua imutabilidade originária.
As sombras, as aparências,
Os sonhos, as ilusões…
Ofuscam o olhar
Dos que querem ver a essência,
O miolo sedoso de um pão bolorento
Que pode conter o Tudo.
A Identidade perde-se.
Somos o mesmo rebanho.
Corremos na mesma direcção
E já nada identificamos com
A precisão adequada.
A amalgama do mundo
Corre nas nossas veias!
E o resto? Puros reflexos
De espelhos vazios!
Isabel Rosete
Parecer, parecer-ser, o Ser que parece e aparece...! Não se trata de um jogo de palavras. A questão é, a um tempo, ontológica e gnoseológico. Por isso, pergunta-se: qual o ponto nodal da passagem do parecer-ser para o Ser, o que realmente é, e aparece, de facto, porque que é?
E, ainda: como delimitar as fronteiras – se é que é possível tal delimitação! entre a Ilusão (o que nos parece que seja, com ou sem fundamento lógico/ontológico credível) e a Realidade que a fundamenta (aquilo que é, de facto, independentemente de ser ou não percepcionado, pensado ou escutado), que é por ela ocultada?
A Ilusão é, tão-só, uma distorção da Realidade, ou melhor, a deformação/alteração de uma certa realidade, que resulta de uma visão específica sobre um dado objecto/acontecimento ou, até mesmo, Pensamento. Sabemos que há pensamentos que não passam de uma pura ilusão, ou seja: de uma dimensão virtual forjada pela faculdade da Imaginação.
A ilusão é o véu. Por vezes, mais opaco. Por vezes, mais transparente. A película que encobre, total ou parcialmente, a essência da coisa tomada em si mesma, no que ela é. Continuamos, com Platão, nessa dualidade irresolúvel entre o modelo e a cópia, entre o inteligível e o sensível, entre a realidade e a aparência, entre o Ser e o não-Ser.
Onde começa e termina a ilusão? Onde começa e termina isso a que chamamos de realidade? As divisas são assaz ténues. Por vezes, indiscerníveis.
Afinal a ilusão, de um outro ponto de vista, não passa de uma projecção específica da realidade, quiçá mesmo, de uma interpretação marcada pela especificidade do olhar, da escuta, do sentir, do cheirar ou do tactear de um sujeito frente a um determinado objecto.
“O Ser é”, já dizia Parménides. E só porque é, pode ser pensado. Mas, os pensamentos não se fundam na pura objectividade, na imparcialidade da subjectividade. Trata-se sempre de um sujeito, com uma mundividência determinada, que os produz, naturalmente presente e influenciatória em cada acto de conhecimento.
Toda a forma de observância do Mundo é subjectivizada. E a ilusão torna-se uma dimensão relativa do conhecimento, que varia, portanto, de sujeito para sujeito. Somos seres de estímulos e de respostas envolvidos em contextos diferenciais. Sujeitos diferentes podem apresentar tanto respostas idênticas, como respostas completamente dissemelhantes perante um estímulo análogo, mesmo que se encontrem em circunstâncias idênticas. De igual modo, o mesmo sujeito receptor do mesmo estímulo, pode responder de formas dissemelhantes em circunstâncias diferentes.
Se somos seres de circunstâncias (parece mais que provado!), formaremos de modos díspares os nossos comportamentos e processos mentais que os acompanham, sem que deles tenhamos consciência absoluta, assim como as nossas visões-de-mundos.
Por esta ordem de razões, entre outras que poderia apresentar, talvez se possa inferir, grosso modo, que existem tantas ilusões e tantas realidades, quantos os sujeitos que a REALIDADE percepcionam.
É a clássica e ainda pertinente questão da objectividade/subjectividade do conhecimento, à qual outras se associam: o que é a realidade? A realidade existe em si mesma e por si mesma independentemente do sujeito cognoscente? Kant responderia que “não” (do ponto de vista do “fenómeno”). Já Platão responder-nos-ia, segundo a tese desenvolvida nos livros V-VII da Republica, com um “sim” absolutamente assertório.
Isabel Rosete
11s de SETEMBRO
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
O sábio não tem ideia
- Confúcio, Analecta, IX, 4.
P´RA PULAR (auto-retrato)
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
Entre
Onde está o sonho?”
“Entre o que vive e a vida
Para que lado corre o rio?
Árvore de folhas vestida -
Entre isso e Árvore há fio?”
“Deus é um grande Intervalo,
Mas entre quê e quê?...
Entre o que digo e o que calo
Existo? Quem é que me vê?”
– Fernando Pessoa, excertos de "Além-Deus", V.
Anunciação
Anunciação
do ventre primordial és herança
em tua voz no tanger dos silêncios a dos avós
pai e mãe teus irmãos
filhos teus anciãos
és no coro corrente sem história nem presente
a tombar do perecer que te dá o nascer
no rosto mil rostos
no corpo um só sopro
és no coração a im per ma nên ci a
senta-te
no fundo e à margem do murmúrio tangente,
no canto o espelho, o mensageiro
e a saudade que em longe e abraço se mata.
O que morre desperta-te.
senta-te
em tua morada anunciada
-regresso-
Finalmente e após inúmeros tempos e espaços, regressávamos a casa.
Como que renascidos de várias quedas, deslizes, pedradas, embates...
aprendizagens apenas.
Cansados, mais velhos e esquecidos, mas afinal novos e mais jovens de memório e espírito.
Tínhamos reconhecido que aprendemos.
Tantos seres, espécies, almas e afins. Tudo nos tinha parecido oposto, diferente, novo e agora depois, no regresso, observamos que eramos nós, apenas isso.
Como se nunca tivessemos saído.
Mas a Casa é sempre diferente. Parecía-nos agora estendida, alargada.
Algumas memórias vieram connosco, outros vieram eles mesmos em ser e essência.
Nós estavamos diferentes, reconhecidos e maiores. Mas iguais.
Prepavamos apenas o regresso, só isso, como se nada tivesse acontecido, como se nunca tivessemos partido.
Viajamos, novamente.
A dignidade das árvores
Montemor-o-Novo, Julho 2010 |
Filosofia ou arte?
(1) - Fernando Belo, Leituras de Aristóteles e de Nietzsche, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1994, pp.175-198
António Azevedo, Pessoa e Nietzsche, Lisboa, Instituto Piaget, 2005, p.201
P´RA PULAR
Sarkozy (em bicos de pés)
em foto de família – com mulher e casal Obama
ao pores-te em bicos-de-pés
não sobes só na estatura
-mais sacana do que és
ficas também, criatura
Despedida publicada hoje no blogue da Nova Águia
Anuncio que a partir deste momento me demito de co-director da "Nova Águia" e me autoexcluo deste blogue, por não me reconhecer mais neste projecto e por me querer dedicar a alvos mais importantes e essenciais.
Sem me alongar, digo apenas que o nacionalismo cultural é incompatível com o progresso da consciência humana e o bem do mundo.
Sabem onde me podem encontrar e os projectos que abraço cada vez com maior convicção:
www.pauloborges.net
http://www.facebook.com/pauloaeborges
arevistaentre.blogspot.com
serpenteemplumada.blogspot.com
www.agostinhodasilva.pt
www.uniaobudista.pt
www.partidopelosanimais.com
umoutroportugal.blogspot.com
Saudações muito cordiais
Paulo Borges
Mel que se espalha por nós
Lembras do nosso último passeio? beijei-te sem pudor até pedires com um sorriso um intervalo
beija-me que tenho mel pelo corpo
descansa tua boca no seio que te ofereço
azul é memória que tenho de nós
tão azul como o branco que agora espanto
Dá-me leite amor que tenho sede de nós.
terça-feira, 7 de setembro de 2010
Como todos os dias me sento neste banco
De encosto perfeito e quatro pernas
Como podia só ter três pernas
Ou duas
Ou nenhuma
Um banco é uma força construída
Por alguém que imaginou
E eu imagino-me
Sentado
Nas calmas de uma poeira a assentar no chão
A puxar pela cabeça
A ver se estico o pescoço
Para ver o seguimento deste mundo
Mas nada disso acontece
Porque estou sentado
E o sangue estabilizou
Na estrada nacional do silêncio
Às vezes ponho-me a olhar os peixes
Que pairam sobre mim
E a forma como dançam aos pares
E piscam os olhos uns aos outros
Mas sempre sentado nesta cadeira
Que é do tempo do meu avó
Em que também ele se sentava
A atirar pequenas pedras ao infinito
Para que a morte não lhe trouxesse a dor
O meu avô morreu sentado nesta cadeira
Que tem quatro pernas mas não anda
Pois o que anda é o pensamento
E o desejo de construir um lugar
Onde o amor é tão real que parece pessoa
Mas na verdade
Sentei-me num banco vazio
Para assistir ao fim do mundo
E, o que é triste,
é que daqui a nada batem-me à porta
Filosofia no Oriente - Curso Livre - Inscrições abertas na Fac. Letras da Univ. Lisboa
FILOSOFIA NO ORIENTE - CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO: 2010/2011
Inscrições abertas a todos (Informações: 217920000 - pedir para ligar à Secretaria da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa)
Sempre às 5ªs feiras, das 17-20h
Introdução ao Budismo (1ºsemestre) - Prof.Doutor Paulo Borges
I: 1. A vida e o Despertar do Príncipe Siddhartha Gautama. O Sermão de
Benares e as Quatro Nobres Verdades: o sofrimento, sua origem, sua extinção e
a via que aí conduz (o Óctuplo Caminho). O sentido terapêutico, experimental e
não dogmático da via e ensinamento do Buda. Os quatro selos. Atman e
anatman. O debate entre as escolas budistas e bramânicas. Os Três Cestos:
Vinaya, Sutra e Abhidharma. A tradição dos três ciclos de Ensinamento e dos
três níveis da Via: Hinayana, Mahayana e Vajrayana. Arhats, Bodhisattvas e
Mahasiddhas. Vacuidade e interdependência: os doze factores da coprodução
condicionada. A via do meio entre eternalismo e niilismo. A literatura da
Prajnaparamita: O Sutra do Coração e o Sutra de Diamante. Vacuidade e
natureza de Buda: As Estâncias da Via do Meio (Nagarjuna) e o Mahayana
Uttaratantra Shastra (Maitreya/Asanga). A Via do Bodhisattva (Shantideva).
II: 2. Meditação analítica e contemplativa. Calma mental (samatha) e visão
penetrante (vipashyana). As quatro meditações fundamentais: 1 - o valor da
preciosa existência humana, rara e difícil de obter; 2 - a impermanência e a
morte; 3 - a acção (karma) e a lei da causalidade; 4 - os sofrimentos dos seis
mundos do ciclo da existência (samsara). O Refúgio nas Três Jóias, Buda,
Dharma e Sangha. O Bodhicitta, ou espírito de Iluminação, relativo – em
aspiração e em acção – e absoluto. As quatro meditações ilimitadas: amor,
compaixão, alegria e equanimidade. A “troca” e outros exercícios de meditação.
As seis paramitas, virtudes ou perfeições transcendentes: generosidade, ética,
paciência, diligência, concentração e sabedoria.
Filosofia e Mitologia na Cultura Tradicional Indiana (1ºsemestre) -
Prof.Doutor Carlos João Correia
Sinopse: Este curso tem como objectivo analisar os princípios das escolas
filosóficas desenvolvidas na Índia antiga, entre o séculos VI a.C. e XII d.C.
(sāṃkhya, yoga, vedānta, mīmāṃsā, vaiśeṣika, nyāya, buddha dharma e
jainismo). Será igualmente seu propósito estudar as concepções filosóficas que
envolvem os textos védicos - em particular, as Upaniṣads - assim como obras de
índole poético-mitológica, com especial relevo dado ao Mahābhārata e ao
Rāmāyaṇa.
Mística Cristã e Gnose Oriental (2ºSemestre) – Professor Carlos H. do C. Silva
Ponto introdutório: Actualidade do “diálogo de espiritualidades” e perspectiva
crítica da Filosofia da Religião.
1. Origens helénicas da mística e ‘categorias hebraicas’ na ulterior síntese cristã
da ‘Teologia Mística’.
2. Dos Mistérios gregos à tradição indo-ária: paralelos na gnose oriental,
sobretudo no hinduismo (Upanixadas, Yoga, também Budismo- Prajñapâramitâ…).
3. Principais configurações da espiritualidade cristã e sua releitura gnóstica,
também comparada com o pensamento oriental.
4. Confronto entre a transcendência e o carácter dialógico da «experiência
mística» na tradição cristã e o sentido imanentista e sobretudo gnóstico da unio
mystica ‘oriental’.
Ponto conclusivo: Natureza da experiência espiritual e a definição da “gnose”:
unidade ou união; enstasis ou êxtase; absolvição ou libertação…
Oriente/Ocidente: diálogos e cruzamentos (2ºsemestre)
- (Coord. Prof.Doutor Paulo Borges e Carlos João Correia).
Este curso tem como seu objectivo investigar a presença da filosofia e da cultura
oriental na filosofia ocidental (Neoplatonismo, Renascença e Filosofia Moderna,
Idealismo e Romantismo Alemão, Filosofia Contemporânea) e no pensamento
português. Em cada sessão será convidado um docente ou investigador para
apresentar as suas conclusões sobre o tema em análise.
http://www.carlosjoaocorreia.com/oriente
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
resposta a RUI MANUEL AMARAL - no blog DIAS FELIZES
Claro
que as árvores também fazem amor.Qualquer botânico de pacotilha
sabe que determinadas espécies têm os dois géneros, e que as fêmeas podem selecionar, e engravidar de frutos com pólen de eleição. Talvez do macho mais robusto, mais composto, com flores mais apelativas.
tb as fêmeas, à semelhança dos insetos, pe, libertarão feromonas
capazes de atrair o pólen dos machos a muitos quilómetros de distância. Eu tenho um castanheiro aqui em Arraiolos, consideravelmente longe de soutos ou mesmo de especimes isolados, contudo produz castanhas com uma regularidade cronométrica. Umas vezes mais escuras, quase pretas, outras vezes castanhas - fazendo jus ao nome. Uma cacofonia de cores
o que significa, no mínimo, uma troca de parceiros. Uma infidelidade conjugal, passível de lapidação em qualquer regime islâmico.
e há ainda a situação bem conhecida
de híbridos, resultantes de relações fora da espécie - sobreiro X azinheira
como as mulas são produto de cruzamento égua X burro ou cavalo X burra
é contudo digna de registo a sua intuição para o problema, pelo que me apresso a felicitá-lo aqui da minha quinta em Arraiolos
e já agora deixe-me confidenciar-lhe que é conhecida e frequente a prática amorosa entre humanos e animais - uma zoo qualquer coisa -
não tanto, mas existente também
uma homofitogamia que consiste no estabelecimento de relações amorosas entre pessoas e vegetais
- árvores sobretudo.
no meu caso, não posso ocultar uma certa paixão pessoal por uma sedutora macieira Golden que me namora do quintal
domingo, 5 de setembro de 2010
"Creio que podia regressar e viver com os animais"
Fico a olhar para eles longamente.
Não se impacientam, não se lamentam da sua condição,
Não jazem acordados no escuro a chorar os pecados,
Não me maçam com discussões sobre os seus deveres para com Deus,
Nenhum está descontente, nenhum sofre da mania de possuir coisas,
Nenhum se ajoelha perante o outro, nem ante os antepassados que viveram há milénios,
Nenhum é respeitável ou infeliz à face da terra.
Walt Whitman, Canto de mim mesmo, Lisboa, Assírio e Alvim, 1992, XXXII, pp.78-79
AMOR ETERNO
Se me abraçar e der um beijo na boca, vou estar certa de tudo que sente e não sente.
Vou confundir o presente com o passado, e chorando direi: - Nunca me amaste!
Se ele insistir que no passado o sentimento era outro. Indignada gritarei: - Mentiroso!
Quando partir estarei fechada no quarto acariciando a dor.
À noite, abraçarei o vazio, com um nó na garganta, soletrarei: - ele sempre me amou! Perdida no tempo, entre o que é e o que foi, entre o que quero e perdi, passeio entre bosques, vejo fadas e anões. Pergunto pela raposa. Ninguém me responde.
Quando ele voltar e disser envergonhado que o nosso amor é eterno, vou acreditar.
- Luis, olha o jantar que esfria...
- Só janto quando acabar o futebol....
- Mas...
- Deixa-me em paz! Nem aqui descanso... GOOOOOOOOOOOOL
Sonhando com Alberto Caeiro
Não sinto nada, se nada sinto, enquanto sinto. Não sei a cor do poema, nem a tonalidade da cor. Se o que que sinto fosse sentido, tudo teria feito sentido.
Um dia se não me faltar coragem
Digo a ele que quero casar. Por detrás de uma coluna, escondida, acompanho-o todos os dias. Chega às nove, pede um café. Enrola um cigarro. Quando tira a caneta estremeço.
- Uma aguardente José...
Com o copo na mão esquerda, no bloco de notas escreve um verso. Se a minha sombra tocasse seus pés sentiria de leve o seu pulsar. Quando cruzasse as pernas saberia se era feliz a rima.
- Mais um café...
No almoço ele se vai. No jantar sonho que come o dia.
Quando me deito ajoelho, junto as mãos em respeito a Nosso Senhor e prometo:
- Amanhã Senhor, digo ao senhor Caeiro que é de Sua vontade que eu seja sua esposa até que a morte nos separe.
Se me beijar vou beber todas suas palavras já escritas. Quando suspirar vou sentir seu coração inquieto.
Ah, Senhor o amor terá o tempo da borboleta que ele escreve em seus versos.
Se o senhor Caeiro hesitar abro meus braços, dou de boa vontade um abraço. Peço em segredo mais um poema.
Amanhã Senhor, amanhã.
Sinto a noite agora noite, tão noite, que noite me sinto
sábado, 4 de setembro de 2010
Alcançou tua voz a natureza
Fazendo de ti amigo
do peixe que te vence
Pode a loucura matar-te
Tua lonjura será alívio
dos homens bem comportados
que surdos, perderam há anos
o som que os rodeia
Entre o velho e o mar
Nasces tu desencontrado
na cidade que não te acolhe
e gritas sem educação:
Sinto-me bem na natureza
Que ela não fala!
Grito contigo em surdina
o que não se explica
ancas generosas
desejo que se transcende
silenciosa é a poesia
amor que se sente
um olhar fugaz
fazendo do tempo
nosso presente.
CICLO
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
"A obra vale pela densidade de silêncio que nos impõe."
Eduardo Lourenço, in Tempo e Poesia
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
Pensamento insituado - Saudade
- Compras-me o super-hommem, mamã? pediu a criança na beira do rio.
Petição pela abolição das touradas e de todos os espectáculos com touros
http://www.peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=010BASTA