Como poderia o logos dizer o ser, se o verbo é originariamente arbitrário e metafórico? Como a crise do logos arrasta a crise da arché, resta a tragédia do «solo como rio»: «Que buscamos? Uma vida segura face ao trágico possível ou o risco metafórico duma linguagem poética que nos torne nus diante do destino? Uma economia ou um excesso? Monossemia de definições utilitárias ou disseminação polissémica inesgotável duma linguagem aberta ao futuro? Este o ponto mais alto do debate do Ocidente, entre dois dos maiores pensadores que o balizam»(1). Independentemente da validade deste equacionamento, os dois pensadores, Aristóteles e Nietzsche, vivem em contextos histórico-culturais distintos a todos os níveis. Na Poética, embora se defenda uma boa vizinhança entre Filosofia e Tragédia, a racionalidade e a Filosofia estão em alta; em Acerca da Verdade e da Mentira no Sentido Extramoral, em particular, e na obra de Nietzshe, em geral, a Arte aparece como feiticeira e metafísica salvadora das proclamadas mortes das duas matrizes do pensamento Ocidental, a saber, a razão (grega) e a fé (cristianismo).
(1) - Fernando Belo, Leituras de Aristóteles e de Nietzsche, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1994, pp.175-198
António Azevedo, Pessoa e Nietzsche, Lisboa, Instituto Piaget, 2005, p.201
Talvez, para se compreender "Que buscamos", tenhamos que navegar rumo ao oriente e ouvir as palavras do Mestre Tilopa:
ResponderEliminar"A prática do mantra e do paramita, a aprendizagem dos sutras e dos preceitos e o ensino das escolas e das escrituras não vão trazer a compreensão da verdade inata. Porque se a mente estiver cheia de algum desejo, ela procura um objectivo e isso esconde a luz".
Talvez Tilopa nos queira dizer que para se compreender o "Que buscamos", não nos podemos agarrar a teorias que têm como finalidade a vida segura, a economia, a criação de definições utilitárias e generalizantes, ... enfim, a uma conjunto de ciências, filosofias e religiões fundamentadas no logos ontológico que como se tem verificado no Ocidente, o seu fundamento é de areia movediça. Por outro lado, Tilopa fala-nos de um desejo procurante de objectivos que escondem a luz; julgo que isto tanto se aplica a objectivos universais (como a solidariedade, fraternidade e igualdade basilados no logos), como a objectivos particulares, estes desejados e criados pela arte, pois se o niilismo proclamou a morte de Deus, Nietzsche propôs o preenchimento do espaço vazio com a criação de novos ídolos.
Tilopa continua:
"Cesse toda a actividade, abandone todo o desejo, deixe os pensamentos erguerem-se e baixarem como as ondas do oceano."
Talvez o «Que buscamos?» passe paradoxalmente por buscar deixando de buscar. Os filósofos e os artstas buscam, agarrando-se assim a véus (quer onto-gnoseológicos, quer estéticos) que, como as ondas do oceano, não permitem ver o fundo do oceano.
Tilopa diz:
"Aquele que abandona o desejo e não se agarra a isto e àquilo, aprende o sentido real dado às escrituras".
Filosofia? Arte? - Morte de Tilopa.
A morte é o mais necessário e é isso que ninguém quer, porque a existência é sede de ser, mesmo quando se busca a aniquilação, como o disse Buda no primeiro discurso.
ResponderEliminarCaro Kunzang, gostaria que publicasses também no blogue da Cultura ENTRE Culturas. Quero ver se o dinamizo mais.
Abraço