O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


domingo, 14 de agosto de 2011

ARCA SEM FUNDO

PESSOA tinha/tem
uma ARCA de ferro onde guardava tudo o que escrevia

a ARCA parece não ter fim

como se fosse uma arca
com tabuleiros
que vão sendo removidos
à medida que são lidos os seus escritos

só que
removido cada tabuleiro vazio
há sempre outro por baixo
mais cheio ainda
do que todos os tabuleiros de cima

e o que está escrito
nos papéis dos tabuleiros de baixo
é sempre mais bonito
mais profundo
do que o que está escrito nos papéis
dos tabuleiros de cima

haverá um - o de baixo de todos -
a uma fundura infinda
a que ninguém chegará
nem chegou a sonhar chegar ainda

e esse tabuleiro
é que há de estar a abarrotar
de papéis com palavras escritas
literalmente as mais profundas

e essas sim
serão de todas
as palavras escritas
as mais profundas
as mais Li (n) das

3 comentários:

ethel disse...

algumas são o prenúncio de tudo que o nunca vai ser escrito ou dito, senão sentido.
Lindo poema, Platero! beijo

platero disse...

há um fabuloso do MESTRE
só que tudo se passa de baixo para cima:
sobe-se a um terraço e tem-se uma vista linda.
mais acima, mais lindo ainda.

lindo a sério será de um terraço
a que se não tem acesso
Conheces?
- se não, vale a pena procurar

beijo

ethel disse...

vou procurar...