O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Balada do depois

Nem sim
nem não
apenas a alvura espessa
da escuridão
que as almas em espirais
de fumo e ilusão
adormenta
a visão suja
e pardacenta
de ter a vida
como coisa emprestada
a boiar sem as estrelas
ou o bolinar do sol
por entre a mordência dos dias
só a antevisão da roupa suja
depois das horas gretadas
de insatisfação
e do retorno das manhãs iguais
com chuva ou sem chuva
com nevoeiro ou sem nevoeiro
com solidão ou sem solidão
quando o mar de ser homem
está chão
e os ventos do Sul
já não são chamamentos
para a perdição
de não ter amarras
valerá a pena
dizer sim ou não?

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