O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 7 de junho de 2011

Poema dos amorosos


(Dedicado a Ethel Feldman)


Há na renda do mar

Aquela húmida claridade da boca

O terno olhar das ondas e do esquecimento

Um sismo de violetas nos dedos brancos

Uma revelação de cascatas

No olhar extasiado

Um espanto de terror e de beleza

Quando os navios parados

Ondeiam sombras na brisa iluminada

Uma vontade súbita de ser pássaro

E poisar-te no lábio a esperança

Como um cristal entre os olhos.

E os deuses da água sorriem dentro da boca

Dos novos amorosos.

7 comentários:

ethel disse...

que lindo poema!
meu corpo inteiro chora de alegria com este belo presente. Obrigada, nenhumnome (porque és todos em cada um)

ethel disse...

escreve-me para ethel.feldman@gmail.com

platero disse...

lindo poema

tb gostava de o merecer

Anónimo disse...

Fico feliz que tenhas gostado, já que depois de o ter feito pensei( é sempre a pior parte, o pensar): como este poema tem (desculpem a redundância) o sabor do paladar da loucura.... E foi assim, aceita-o.

Grata por isso.
Beijinho

P.S. Neste momento, E., tenho tido trabalho que me enche todas as mesas, logo que tenha um tempinho comunicarei contigo com todo o prazer.
M.

Anónimo disse...

Platero, Amigo, tu mereces que, ao acordar te ditem poemas para dentro do pensamento, à tarde, que as rosas te sorriam e te segredem poemas; à noite, que as palavras que ainda te dedique transformem em ouro as árvores da tua morada.


Beijinho, Platero ;)

Isabel Metello disse...

Lindo, tb, o Mar É uma Metáfora fantástica do Verdadeiro Amor - umas vezes Pacífico outras Tumultuso, mas sempre Sublime e Purificador :)

Anónimo disse...

(Este de Sophia também me leva uma vez mais e, de novo, para o sempre novo mar...)

Hora

Sinto que hoje novamente embarco
Para as grandes aventuras,
Passam no ar palavras obscuras
E o meu desejo canta - por isso marco
Nos meus sentidos a imagem desta hora.

Sonoro e profundo
Aquele mundo
Que eu sonhara e perdera
Espera
O peso dos meus gestos.

E dormem mil gestos nos meus dedos.

Desligadas dos círculos funestos
Das mentiras alheias,
Finalmente solitárias,
As minhas mãos estão cheias
De expectativa e de segredos
Como os negros arvoredos
Que baloiçam na noite murmurando.

Ao longe por mim oiço chamando
A voz das coisas que eu sei amar.

E de novo caminho para o mar

(Sophia de Mello Breyner Andresen)

Sorriso purificador :)