Um espaço para expressar, conhecer e reflectir as mais altas, fundas e amplas experiências e possibilidades humanas, onde os limites se convertem em limiares. Sofrimento, mal e morte, iniciação, poesia e revolução, sexo, erotismo e amor, transe, êxtase e loucura, espiritualidade, mística e transcendência. Tudo o que altera, transmuta e liberta. Tudo o que desencobre um Esplendor nas cinzas opacas da vida falsa.
quarta-feira, 31 de março de 2010
terça-feira, 30 de março de 2010
curso do rio Homem
"Amas
como pudesses mudar o curso do mundo,
como pudesses alterar as razões da vida,
como pudesses mudar o curso do largo rio
com uma simples colher...
E ninguém te avisa ou te pergunta:
onde vais com essa peça de talher?!
Amas,
e amas tanto,
que sensibilizas quem te vê cavando,
assim,
tão entretida,
tão meiga e faceira,
como quem cavasse para plantar uma roseira...
Mas queres mudar o curso do rio!
E ninguém há que ao menos te dissesse, tão somente,
que,
se esperança quisesses ter,
talvez devesses tentar na nascente...
Não podes mudar o riacho que já se fez,
o rio que já se avolumou!
Eis o que é amar - remudar o curso que a vida
tantas vezes já mudou...
Mas,
sensibiliza-me tanto,
ver-te tentar,
que talvez,
deva eu pegar minha perdida colher
e cavar bem fundo em mim - p'ra te ajudar!"
O curso do rio, de Marcelo Souza Bandeira
Foto: Rio Homem, de António R. Dias
Quanto mais de perto olhamos para uma palavra, tanto mais de longe ela nos devolve o olhar"
segunda-feira, 29 de março de 2010
se ainda ontem me despenhei contra o tempo
como acreditar no ar que toco
se celebro todas as coisas num só delírio
se agisse numa força eléctrica dentro do que sou
perguntar-te-ia: por que escutas (n)o silêncio?
e tu dirias: para entender melhor tuas palavras
Trecho do Rio Lima
“Lima! Mal sabes como em mim influi
tua paisagem doce, azul e calma…
mal sabes como nela se dilui
e a si reflui depois a minha Alma.
Ambição, glória vã … teu curso exclui.
Entre milénios, o ódio não te encalma …
O vingador sem lei que d’antes fui
o teu sereno rumo em mim acalma.
A Vida, até aqui amarescente,
branda e suave em teu redor desliza
com amoroso, promissório brilho.
Meus campos, tua água fertiliza …
Que de ti surja aquela moça ardente
que em flor me dê na Primavera um filho!"
poema: A influência do lima,
em (http://vieiralisboa.blogspot.com/search/label/Poesia)
Foto: António R. Dias
Páscoa
feliz no sem idade da saudade
a lúcida melancolia do inadiável viver
verter doces suspiros sobre o entardecer.
sexta-feira, 26 de março de 2010
FIM
Da morte como única novidade radical para muita gente
- Walter Benjamin
ermelo
…”E os frades negros nidificaram ali. Fundaram mosteiros, foram senhores de verdadeiros latifúndios e praças. Radicando e mantendo o culto do padroeiro.
E assim o povo instituiu o seu santo curandeiro para todos os « males ruins »,
mas com especialidades curativas para essas incómodas excrescências na pele das mãos denominadas “cravos”. Constando que estes, nascem nas mãos de quem aponta e conta as estrelas da noite.
Em paga da tutela o santo paga-se em ovos e cravos. Às mulheres lhes reservam exclusivamente, os cravos de cor vermelha e aos homens os de cor branca. Quanto aos ovos, as contas são também rituais: sempre três e seus múltiplos, seis, nove ou uma dúzia conforme a promessa ou a generosidade do “milagre” recebido.
Mas a caminhada até ao santo é dura e é de preceito fazê-la pelos velhos caminhos, tal como a fizeram já os pais, avós e os que geraram a esses….
Assim, partindo dos Arcos: os romeiros sobem a costeira chegando ao Alto de Murelhões, em direcção do Lugar do Castanheiro, Calçada do Prova, Caltada, Nossa Senhora da Luz, Senhora dos Milagres, Gração, descendo a volta do rio Lima, por Vilarinho até ao Ermelo.
E é preciso ser bom caminheiro!
Há que chegar lá, fazer a romaria: dar as voltinhas prometidas (três, cinco, sete , nove, sempre em número ímpar) à volta da capela e da direita para a esquerda.
…mas, tudo isto, terá de ser executado antes do nascer do sol!...”
em: http://ccavaldevez.blog.com/
quinta-feira, 25 de março de 2010
ENTRE! Torne-se assinante e viabilize uma revista-ponte ENTRE todas as coisas (a sair no início de Abril)
Apoie e ajude a viabilizar o projecto de uma revista de qualidade destinada a fazer pontes e mediações entre culturas, saberes e tradições. Torne-se assinante.
Assinaturas (pedidos à editora) 1 Ano / 2 Anos Portugal: € 30.00 / € 55.00; Europa: € 35.00 / € 65.00; Extra-Europa: € 40.00 / € 75.00.
Pagamento: cheque ou transferência bancária
Âncora Editora - Avenida Infante Santo 52 - 3º esq. 1350-179 Lisboa
tel + 351 213 951 223 fax + 351 213 951 222
e-mail ancora.editora@ancora-editora.pt
web http://www.ancora-editora.pt
Tema do número 1: Que diálogo entre culturas?
Tema do número 2: Fernando Pessoa; Encontro Ocidente/Oriente
Direcção: Paulo Borges
Comissão de Honra: François Jullien / Hans Küng / Jean-Yves Leloup / Raimon Pannikar / Matthieu Ricard / Agostinho da Silva (In Memoriam)
Conselho de Direcção:
Pe. Anselmo Borges
Constança Marcondes César (Brasil)
Carlos João Correia
Frei Bento Domingues
António Cândido Franco
Markus Gabriel (Alemanha)
Dirk-Michael Hennrich (Alemanha)
Rui Lopo
Amon Pinho (Brasil)
Andrés Torres Queiruga (Galiza)
Miguel Real
José Eduardo Reis
Luíz Pires dos Reys
Adel Sidarus
Francisco Soares (Angola)
partida
Tudo se mostra
neste gesto de arredar a cortina
Para ver se lá fora chove
Tudo até as estrelas mais distantes
Assomam de leve a incomensurabilidade dum sorriso
Na verdade tudo presente e ausente
Numa ondulação de sempre
Dá uma consistência quase madura
À fugacidade das coisas
E ao de leve a noite vem
E o longe apaga-se nas cores do aqui
E do firmamento mostra a perfeição impossível
É a hora do lume e do abandono
A derrota suave de todos os começos
A muralha do sono em breve virá circundar a mente
Com um oceano de águas argênteas
E num barco de marfim
Serei de novo nauta dos avessos
Encarnação
"Carnais, sejam carnais tantos desejos,
carnais, sejam carnais tantos anseios,
palpitações e frémitos e enleios,
das harpas da emoção tantos arpejos...
Sonhos, que vão, por trémulos adejos,
à noite, ao luar, intumescer os seios
lácteos, de finos e azulados veios
de virgindade, de pudor, de pejos...
Sejam carnais todos os sonhos brumos
de estranhos, vagos, estrelados rumos
onde as Visões do amor dormem geladas...
Sonhos, palpitações, desejos e ânsias
formem, com claridades e fragrâncias,
a encarnação das lívidas Amadas!"
Encarnação, de João Cruz e Sousa
quarta-feira, 24 de março de 2010
deixados ao esquecimento das ruas, a casa aberta por cima, as rosas
inclinadas para o pavor, o truque falhado do ilusionista.
Algures o silêncio forma o seu arquipélago, enche os poços
de ruínas e outros espasmos.
Num grito acerto o relógio da torre, mato a tirania dos gestos,
e o mundo
espanta-se com o tamanho da minha ausência.
William Blake: Provérbios do Inferno
terça-feira, 23 de março de 2010
Debate "A Tauromaquia é cultura?"
http://ww1.rtp.pt/programas-rtp/index.php?p_id=23283&e_id=&c_id=1&dif=tv
segunda-feira, 22 de março de 2010
Tauromaquia é cultura?
A petição está quase nas 7500 assinaturaas e será entregue em breve para discussão obrigatória em Plenário da Assembleia da República.
http://www.peticaopublica.com/PeticaoListaSignatarios.aspx?pi=PETPPA
Assinem e divulguem. Pela cultura contra a tortura!
sobre o acontecimento
vislumbre
O despertar do coração
A jugular do tempo
Rasgada pelo punhal dissonante da atenção
Ao rubro o sangue dos começos
Precipita-se em fios cálidos
No chão impossível da continuação
Baila em ritmos alucinantes
O que de dentro não tem exterioridade
Nem se aprisiona em masmorras egóticas
O mundo um incêndio a perdição em alada antecipação
Do que não haverá por não ter sido
E as flores serão flores
À noite as estrelas virão como sempre
Alvoradas distantes
Anunciar o presente
Na tua saudade...
Há muito que parti,
e o vazio da minha ausência
Preenche os teus dias.
Não me procures,
não me alcançarás nas árvores do parque.
Não me procures criança,
não estou na água do ribeiro,
nem nas pedras do teu caminho
ou na bola que jogas.
Não estou nas lágrimas salgadas de um sonho.
Estou aqui, em toda a parte!
Soprarei na tua vida,
como uma serena brisa de Primavera.
Preencherei de leveza o teu coração,
e estarei no silêncio
de uma distante canção de embalar,
há muito guardada na tua memória.
E na Luz do teu sorriso!
(in Sentir e Ser - 2008)
domingo, 21 de março de 2010
animal
deixa de existir a necessidade de um monarca que presida separadamente às várias tarefas.
Cada indivíduo passa a desempenhar as que lhe competem.”
Rudolf Virchow
a Primavera só existe se acreditarmos que houve Inverno
não há primavera
nos campos eternos
na nervura do mundo
que acende nos olhos
o fogo das constelações perdidas
que mostram um céu invertido
no fundo abissal
onde a treva rebrilha ao som furtivo
das lâminas impregnadas de longe e terminação
não há retorno quando o princípio é a alada expansão
de não ter que haver depois
a exacta geometria da contemplação
vulcão de agonia mental
interrogar é sentir a ondulação do oceano sem começo
os ossos em flautas convertidos
harmonia da carne que é vegetativa anunciação do efémero
por momentos a maré vazia descobre as rochas do abandono
por momentos inamovíveis e peremptórias
nada nasce
o esquecimento dá a aparência de nascer às vidas transitórias
o eterno é instante
terrível abrupto inclemente
são as palavras ânforas no bojo dum navio naufragado
restos de viagem na impossibilidade de chegar
chega um momento em que a vida é só isso
a espera crava-se na nudez da fantasia
e fere de firmamento a capacidade de desejar
sábado, 20 de março de 2010
primavera
ENTARDECER
"...só há homem, quando se faz o impossível"
- Agostinho da Silva, Sete Cartas a um Jovem Filósofo [1945], in Textos e Ensaios Filosóficos I, p. 268.
Não tenho pressa
Não tenho pressa. Pressa de quê?
Não têm pressa o sol e a lua: estão certos.
Ter pressa é crer que a gente passa adiante das pernas,
Ou que, dando um pulo, salta por cima da sombra.
Não; não sei ter pressa.
Se estendo o braço, chego exactamente aonde
o meu braço chega -
Nem um centímetro mais longe.
Toco só onde toco, não aonde penso.
Só me posso sentar aonde estou.
E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras,
Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa,
vivemos vadios da nossa realidade.
E estamos sempre fora dela porque estamos aqui.
- Alberto Caeiro