quinta-feira, 17 de março de 2011
Quando caminha tem o hábito de olhar para todos os lados, não vá uma faísca vir por aí desgraçar-lhe a vida. Sabe que tudo é vago na sua memória, que tem histórias alucinantes para dar cabo da literatura, mas fica-se pela frustração e o bater dos queixos até doer. As coisas vistas de cima parecem belas, mas, à medida que perdemos altitude o cheiro invade logo as narinas.
Arrasta-se pelos dias, puxado por uma coleira de cólera.
A magnitude de tudo isto é que pode sonhar com futuros cor-de-rosa e ninguém tem nada que reclamar. Na sua cabeça manda ele e ele é a sua cabeça e pouco mais. Um dia fez um filho à solidão e nasceram vinte poemas soltos que os reuniu em livro para editar quando for velhinho.
A paciência é um lume.
Tem acreditado bastante em fantasias, nomeadamente aquelas fantasias sem chão nem cama. Quando acordar para a morte quer ser um peixe que voa pelos instintos maternais. Sabe que está fora de toda a sincronização mas debate-se para libertar as algemas e chamar os astros. E assim, compassivamente, monta o seu próprio esqueleto.
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