domingo, 3 de junho de 2012
À porta do prédio, Helena espera-me, como sempre, com mais um poema.
- Vê lá, se gostas deste.. É o que ando a fazer agora. Não leias, se estás cansada, mas se queres esquecer o teu dia, embrenha-te nele. É o que ando a escrever. Não sei que horas são...
- Já passam das seis da manhã. Acho que vou ler depois de dormir...
Devolve-me um sorriso. Responde-me sempre assim. Ela é a minha vizinha do r/c. Não sei o que faz, para além dos poemas que me ofecere a cada manhã.
"Edito a vida de quem não tem vida, todos os dias", diz a caminho de sua casa.
Se Helena matasse o vizinho do segundo esquerdo, teria um editor. Seria notícia em todos jornais: “Poetisa estrangula vizinho, ao raiar da manhã...”. Em pouco tempo teria um livro publicado com todos os seus poemas. Tenho certeza que seria um best seller.
Augusto é um velho militar reformado. Toca uma corneta desafinada ao raiar de todas as manhãs. Helena está convencida que o homem terá sido galo numa vida passada.
Quando chove, a poeira vira lama. Na mesa da minha sala de jantar, amontoam-se fotografias. O passado ganha contornos de presente. Desenho com os dedos cada traço como se nesse gesto, a velhice fosse somente um breve pesadelo. Deixo que os espelhos ganhem pó e com o tempo se distraiam de mim.
Helena parece não ter idade. Enquanto envelheço a cada manhã, ela parece sempre a mesma com um sorriso que não consigo definir. Os seus poemas moram com as minhas fotos, como se fossem amantes inseparáveis.
Antes de me deitar, em vez de pedir a Deus desculpas por todos os meus pecados, leio. Os poemas de Helena são como a noite morna que aconchega meu corpo.
Dormir de dia, é como andar em contra-mão. O corpo pesa e reage descompassado.
Depois de um banho quente, sento-me a ler o poema de hoje:
“Tudo que nasce é gerado na sombra,
A morte acolhe a semente de uma nova vida”
Doce é esta dor que abraça o meu coração antes de adormecer. Um casal de grilos canta na minha janela.
- Vê lá, se gostas deste.. É o que ando a fazer agora. Não leias, se estás cansada, mas se queres esquecer o teu dia, embrenha-te nele. É o que ando a escrever. Não sei que horas são...
- Já passam das seis da manhã. Acho que vou ler depois de dormir...
Devolve-me um sorriso. Responde-me sempre assim. Ela é a minha vizinha do r/c. Não sei o que faz, para além dos poemas que me ofecere a cada manhã.
"Edito a vida de quem não tem vida, todos os dias", diz a caminho de sua casa.
Se Helena matasse o vizinho do segundo esquerdo, teria um editor. Seria notícia em todos jornais: “Poetisa estrangula vizinho, ao raiar da manhã...”. Em pouco tempo teria um livro publicado com todos os seus poemas. Tenho certeza que seria um best seller.
Augusto é um velho militar reformado. Toca uma corneta desafinada ao raiar de todas as manhãs. Helena está convencida que o homem terá sido galo numa vida passada.
Quando chove, a poeira vira lama. Na mesa da minha sala de jantar, amontoam-se fotografias. O passado ganha contornos de presente. Desenho com os dedos cada traço como se nesse gesto, a velhice fosse somente um breve pesadelo. Deixo que os espelhos ganhem pó e com o tempo se distraiam de mim.
Helena parece não ter idade. Enquanto envelheço a cada manhã, ela parece sempre a mesma com um sorriso que não consigo definir. Os seus poemas moram com as minhas fotos, como se fossem amantes inseparáveis.
Antes de me deitar, em vez de pedir a Deus desculpas por todos os meus pecados, leio. Os poemas de Helena são como a noite morna que aconchega meu corpo.
Dormir de dia, é como andar em contra-mão. O corpo pesa e reage descompassado.
Depois de um banho quente, sento-me a ler o poema de hoje:
“Tudo que nasce é gerado na sombra,
A morte acolhe a semente de uma nova vida”
Doce é esta dor que abraça o meu coração antes de adormecer. Um casal de grilos canta na minha janela.
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15 comentários:
Que pena tenho de não ter à mão uma "Paladar da loucutra" para, em cada manhã, lhe dar a ler um dos meus poemas... acabadinho de fazer!
JCN
pois aí vai então para PALADAR
como agradecimento pelo seu belo texto
vou ter que mudar de espelho
que deste já eu estou farto
sempre eu cada vez mais velho
- ou o troco ou o escavaco
tenta ser seu vizinho, JCN.
Obrigada e um beijinho
Ethel
trocas com o meu empoeirado. protegidos pela penumbra somos quase os mesmos. bem à distância reconhecemos quem fomos e somos :).
Bjo
Ethel
Lá tentar, eu tentaria,
se acaso ensejo tivesse,
mas ao que tudo parece
de pouco me valeria!...
JCN
Para evitar que um espelho
nos mostre o nosso retrato
a cada instante mais velho,
só temos a solução
de escavacá-lo, de facto,
dando por finda a questão!
JCN
Não faça isso, JCN- são 7 anos de não sorte! A sério, mesmo que não acredite em superstições, não as contrarie- mal não faz.
Gostei muito, Paladar da Loucura, principalmente a de Helena pensar que o idoso ex-militar tinha sido na última reencarnação um galo :)
Beijinhos, Isabel :-)
Para Platero, fora de contexto, mas actual, como oportunalente se verá... perante o irreprimível "ressentimento" da criatura:
O "cinzentão", meu Amigo,
deu às de vila-diogo
por não poder, desde logo,
aguentar-se consigo!
JCN
Não comigo, meu amigo,
espantado suponho, nem consigo,
talvez só com a sua sombra
abraço
Bom pequeno o tal Saraiva
- cuide de não o acordar, senão vai ter que aturá-lo por mais alguns milhares de carateres
Para Isabel Metello, em reconciliação:
Vou seguir o seu conselho
para a má sorte evitar,
limitando-me a virar
para a parede o espelho!
JCN
Para o JCN tb em reforço da reconciliação: não, isso tb não. Leia um livro de Feng Shui! Tem de se ter muito cuidado simbólico com os espelhos, pois, se matutarmos no assunto, são objectos que apresentam duas dimensões da realidade e o que é direito passa a ser esquerdo e vice versa... Vou tentar aprofundar o valor simbólico destes objectos, pois, agora, fiquei com uma sensação estranha, pois lembro-me, vagamente, de algo que outrora alguém me disse.
Dada a sua prevenção
a respeito dos espelhos,
vou seguir os seus conselhos
não mais lhes dando atenção|
JCN
REVISTA DO CINEMA MACHADENSE ( 1911-2005)
Se você é apreciador da Sétima Arte (Cinema), indico a você, leitor a REVISTA DO CINEMA MACHADENSE, lançada em 2005 com cobertura da TV ALTEROSA (SBT).
A revista conta – de uma forma dinâmica –, toda a trajetória do cinema de Machado-MG, a partir de 1911, através de depoimentos, informações e fotos.
Foram mais de 5 salas de projeção incluindo:
Cine Glória (atual Câmara dos Vereadores),
Cine Bijou (atual residência do Lusimar Vasconcelos),
Cine Jóia (atual Casa Paroquial),
Cine Limeira (atual Machado Shopping ) e muito mais.
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Você pode encontrar exemplares da revista na Biblioteca Municipal de Machado, Casa da Cultura e Biblioteca do CESEP. Posso enviar gratuitamente um exemplar da revista em arquivo Word via e-mail.
Se puder divulgar aos seus amigos eu ficarei agradecido.
Carlos Roberto de Souza
(poeta / editor )
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