domingo, 25 de outubro de 2009

serenidade

Não tens rosto

E contudo pé-ante-pé

Suspensa no rebordo dos beirais

Acompanhas a solidão

O ranger das telhas parece que torna ocas as coisas

Mas eu sei que a aldeia em que brinco quando menino

Só tem casas pretéritas

Há muito sem telhado

Silenciosa viste cada ilusão

Como cal viva a borbulhar no interior da espera

A argamassa do tédio tem uma consistência esponjosa

Há sempre um lado de dentro quando se tem a consciência da imensidade

As vidraças ficam embaciadas da ansiedade com que se procura a novidade

mesmo ao dobrar da esquina sabe-se lá o que lá estará

sei-te apenas presente

aquífero e semente do fim

talvez fosse bom se agora viesses com a Primavera

a bênção das brisas que nada resguarda

nem o medo do frio

mas que sei eu disso

2 comentários:

  1. identifico-me com lindo poema
    O ranger das telhas parece que nos torna ocos - e às telhas

    nós - além das telhas

    abraço

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  2. Independentemente da sua forma de expressão, sente-se onde é que está a Poesia. JCN

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