O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 13 de outubro de 2009

florescer


Floresceu a atenção que veio do fundo

Agreste tentação de brevidade

Eternidade envidraçada na proximidade da aurora

São translúcidas as recusas a ser outro

Que alimentam a continuação e a espera que visa ao depois

Mas sendo um ou dois ou mil ou sem conta

A mesma inconstância o mesmo desamparo

Seja atento à identidade ou uma multidão levedada pela inquietude

Que dá às coisas um ar de abandono que as torna cortantes e inumeráveis

A mesma sem razão alimenta o desfiar das horas

A mesma incompletude desfila nas margens do desassossego

Nem travessia nem fuga para o alto

O mundo é um dilúvio de águas que ficaram por lavrar

O oceano de dentro o infinito tornado ermo e inconsolável resistência à concretude

Ser inerte ser possuído sem resistência pela indiferença das pedras

Frias de orvalho e esquecimento

E deixar o fim brotar

A fonte entre penedos e ervas com o aroma silvestre do que nem em sonhos é nosso

As águas do princípio

Ser-se é matar a sede com água salgada

Estar sujeito à inveja do sol

3 comentários:

platero disse...

bonito poema - com ilustração adequada

Estudo Geral disse...

Nem mais. Subscrevo inteiramente a opinião do platero.

João de Castro Nunes disse...

Só falta a minha!... JCN