domingo, 18 de outubro de 2009

A diferença entre conhecimento e sabedoria

Dois discípulos procuraram um mestre para saber a diferença entre Conhecimento e Sabedoria. O mestre disse-lhes: Amanhã, bem cedo, coloquem dentro dos sapatos vinte grãos de feijão, dez em cada pé. Subam, em seguida, a montanha que se encontra junto a esta aldeia, até o ponto mais elevado, com os grãos dentro dos sapatos.

No dia seguinte os jovens discípulos começaram a subir o monte. Lá pela metade um deles estava padecendo de grande sofrimento: seus pés estavam doloridos e ele reclamava muito. O outro subia naturalmente a montanha. Quando chegaram ao topo um estava com o semblante marcado pela dor; o outro, sorridente.

Então, o que mais sofreu durante a subida perguntou ao colega: - Como você conseguiu realizar a tarefa do mestre com alegria, enquanto para mim foi uma verdadeira tortura?
O companheiro respondeu: - Meu caro colega, ontem à noite cozinhei os vinte grãos de feijão.

(autor desconhecido)

14 comentários:

  1. Sábia "batota"!
    Excelente parábola.

    Conhecimento é, na verdade, repetição do variegado mesmo, de inumeráveis maneiras; a sabedoria, a (re)criação do vário, como o mesmo.

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  2. É precisamente o que eu faço... com o soneto! Ao meu jeito. Põe os óculos! JCN

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  3. Já chegámos ao "tu"? Creio que não.
    Marcha-atrás, então!

    (Quando ao que faça ou deixe de fazer... Cada um faz o que sabe ou quer, ou não sabe que faz ou não sabe que não sabe.)

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  4. Que baralhada... fraseológica!... Quem te disse que era para ti o "tu"... que só gasto com Amigos?... Certamente que não é o caso! De resto, é bom que faças um exame retrospectivo... de um passado recente. Põe os óculos! JCN

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  5. e se o discípulo que sofreu oferecesse o sofrimento vivenciado ao bem de todos os seres sencientes? será que o sofrimento sentido continuaria a ser tortura ou seria um sofrimento libertador?

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  6. Para quem há-de ser? Tome por papalvos os papalvos, não os "papa-calvos".

    Quanto ao "TU".
    Se "só o gasta com Amigos", conforme disse, porque o usou agora comigo?

    Que baralhado! Já se sabia...

    (Fica, entretanto, uma prévia "lembrança": outro comentário com trato por tu será apagado, por óbvia razão de incivilidade. O senhor tem a suma inglória de me levar a fazer aquilo que jamais quis fazer: tirar voz a alguém. Mas o facto é que um simples voejar não é voz.)

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  7. O ponto, caro Kunzang, é saber se oferecimento não pressupõe e implica "ainda" dualidade.

    Nesse sentido, também a "matreirice" previdente do discípulo não-sofredor redunda em calculismo.
    E cai na mesma dualidade de quem pre-vê, e assim se desdobra.

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  8. Claro, um oferecimento para obter algo em troca... Julgo que as promessas de Fátima não andam longe disso... fazer uma peregrinação com vista na obtenção de saúde, dinheiro, sucesso, ... Trocas comerciais entre homens e deuses.

    Mas um oferecimento tendo como finalidade o esvaziamento, a kenosis, a aniquilação do ego será também matreirice, calculismo dualista? Julgo que sim se a consequência do oferecimento for orgulho, não se humildemente o sacrificado não reconhecer resultado nenhum ou reconhecer nada sem o afirmar ou negar.

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  9. Creio, caro Kunzang, que tocamos aqui um ponto capital mas sempre insituável.

    Até no âmago do maior oferecimento como algum o haja sido em certa Cruz - tal como em todas as "cruzes" quotidianas ou mais incalculáveis, aliás -, para quem isso seja lugar que está em certa Cruz, dizia eu - a bem dizer, lugar de outro Não-Lugar -, até aí o que finalmente rasga e consuma, qual in extremis finisterreno de tudo que há no homem, é essa kenosis (nos dois sentidos "ascendente" e "descendente": humilhação e entrega), sim, de algum modo equiparável ao sentido do voto do bodhisattva, como moção de karuna sem eu nem tu, nem o não haver isso. Puro dom. Sem si.

    Aí, creio, estará o que fez coxear estes dois "enfeijoados" discípulos: a "espertice" ou a "burrice" - aquilo, precisamente, que mais faz enquistar-se o homem.
    Impando em si, de si mesmo: em presença ou ausência. Que vai ao mesmo.

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  10. Confesso que a minha burrice não me permite compreender o seu comentário complexo... Será que pode simlificá-lo?

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  11. Tudo isto me leva a uma pergunta que me trás intrigado: Porque será que, desde sempre, muitas das culturas ancestrais usaram e abusaram de sacrifícios, animais e humanos, aos deuses?

    E não será que o auto-sacrifício, as mortificações e expiações, os feijões nos sapatos, continuam no mesmo registo dessa preversa relação com os deuses? E que raio de deuses eram esses?

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  12. São deuses humanos, demasiado humanos. A egolatria é a idolatria mais sedenta de sacrifícios. Vendem-nos a ideia de sacrifício desde a mais tenra infância e, depois, achamos que o sacrifício nos sacraliza. É uma espécie de masoquismo que se redime num sadismo sem vergonha e sem reprovação moral, porque é o fundamento de toda a moral: a recusa de aprovação ao outro e à sua transgressão de ser outro em relação ao Ego que quer dominar o mundo. O Ego que precisa de objectos de poder, resultantes do sacrifício do que é irredutível à dominação e à apropriação egolátrica.
    Mas isto já é deixar os macaquinhos à solta no sótão. É hora de os calar com um abraço!
    :)

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