Imagem Google: "A dream on our way to death", Foureyes
A senda que eu sigo
É a meta que atinjo.
Partindo, regresso
E regresso avançando.
Temendo é que eu venço.
Chorando, me alegro
E sofrendo, embeleço
Entendendo a ordem
Oculta e evidente:
Ou amo e morro
Ou vivo e não amo.
Ana Hatherly, "O Regresso II",
in "Poesia 1958-1978", Moraes Editores, Lisboa 1980, pág. 38)
Damien,
ResponderEliminarsuponho ser este o caminho... caminhar como meta, caminhar regressando, regressar caminhando e o desvínculo da alegria e da tristeza, do prazer e da dor, do ganho e da perda, da glória e da desgraça, do elogio e da crítica, do ser e do não ser... amar e morrer.
Amar e sentir o fogo da paixão queimar peles, pensamentos e emoções que julgamos crer; amar e queimar palavras que cremos ter; amar e morrer na fogueira sacrificial, ateada não a deuses moribundos e defuntos, sim pelo bem de todos os seres sencientes.
O que resta? ...
Que sábios os seus posts são:)
Sabedoria... saloia. Homessa! JCN
ResponderEliminarO texto não é meu.
ResponderEliminarE nem sempre subscrevo (ou o devo) o que nos meus posts vai dito. Liberdade e distanciamento.
Creio que só uma certa outra forma de mudez, como um magistral grito que nos decepa a ranhura de todo o balançar em nós, ou o dedo apontante para um algures-nenhures que termine com o labirinto-dédalo em nós, ao tocar-nos, tamanho, na ferida, que nos faça indeferidos sem ferida - só isso, talvez, ou nem isso, possa livrar-nos até de cuidados com seres sencientes ou inscientes, ou sequer cientes ou entes.
O que resta, Kunzang, quem sabe, é isso de que somos como "resto" e "rastilho"...
O que "isso" seja, ninguém sabe, ou haja saber.
Talvez seja isso afim daquele "Há" de que fala Llansol em seus lugar e cena de fulgores, esse "lugar" onde, como ela diz, "não podemos desejar o novo e querê-lo sem surpresa": "sem o seu fulgor, não saímos da simetria. E nesta nada vemos."
mas... "indeferidos sem ferida - só isso, talvez, ou nem isso, possa livrar-nos até de cuidados com seres sencientes ou inscientes, ou sequer cientes ou entes." - é sabedoria sem compaixão... indiferente ao sofrimento dos seres.
ResponderEliminarO Damien não é compassivo? Ou a sua compaixão revela-se pela frieza com que, por exemplo, responde aos comentários do Doutor JCN? Será que é preciso ser assim para ajudar o próximo? Ou para si a compaixão é uma pedra no caminho?
A passagem que cita, caro Kunzang, é um esforço (por certo impotente) de pôr a linguagem a dizer o que não pode.
ResponderEliminarA "compaixão" pode ser um escolho quando seja meio caminho (ou mais) para a lamechice "espiritual". Que é o exacto contrário do que quer ser.
O "caminho" é de frieza e dureza de pedras de escarpa e de braseiro das areias desertas. São a mesma coisa. São coisa nenhuma.
O delicodoce da vida não aquece nem arrefece, para nada, e tão-pouco nos traz alguma coisa de tudo.
Ainda que eu não seja "assim" como (a)pareço, quero ir "pelo" que sou no que pareço, que não sou.
É como escolher estar sempre onde se não esteja (ou se não seja).
Não quero ter onde "deitar a cabeça"; quero, sim, o que me acorde de ser minúsculo.
Ser minúsculo é crer-se a si alguma coisa. E ser alguma coisa é quase como ser nada. É não ser tudo o que se não é.
Quanto ao Dr. JCN, ambos sabemos o que é o "amor-ódio". Pode ser estimulantíssimo ou destrutivo.
Cabe-nos, a ambos, a escolha. Ou a não-escolha, que é ainda um escolher.
Abraço a todos.
Belísimo e arrepiante texto, Damien!
ResponderEliminarComo um grito na voz me oiço dizer: "Chorando, me alegro/ E sofrendo, embeleço"
Como um pranto de silencio e um nó no avesso do que em nós é não vida e não morte, nem não vida nem não morte.O poema o diz, "o medo é uma trança". Tenho medo até das palavras que me cortam de alto a baixo. Ferida em mim: "ou amo e morro/ Ou vivo e não amo".
A imagem é excepcional: a mão magra e branca do náufrago de si...
Terrível e belo.
As Alcíones cuidarão de atravessar as ondas e quem sabe entrar no sonho e nos de Morpheu se entregar.
ResponderEliminarAo sono e à morte.
Grato, com Ana Hatherly (ouso adivinhá-lo), por sua leitura de sempre tão segredado espanto, quase nua de adjectivos, qual eu a não sei.
ResponderEliminarVisita, não - que nunca o é. Sempre já cá está, no que "há".
Como sempre também, logra o que não "quer" ninguém conseguir aqui: emudecer-me.
Gratíssimo.
A si, e a Ana Hatherly.
«Como sempre também, logra o que não "quer" ninguém conseguir aqui: emudecer-me.»
ResponderEliminarDamien,
mas se ninguém o emudece, como é que desvela a sua natureza primordial?
A fala não é a boca, caro Kunzang.
ResponderEliminarO "não querer ninguém emudecer-me" é melhor compreendido se permutarmos querer por saber, como eu creio que, alfim, essas energias verbais são: unas, uma.
A "natureza primordial" não creio precise de ser "desvelada". Ela é, basicamente, a "mesma coisa" que a "imagem", na tradição judaico-cristã. E é intacta sempre, desde sempre e para sempre.
O que carece de "haver" é a "semelhança". O que nos torna folhas, flores e frutos singulares, mas em tudo semelhantes, do mesmo caule e raiz.
O que seja a terra, a água, o sol e a luz não sabemos.
Ou... melhor: sabe cada um por si.
É claro que "a fala não é a boca". Há quem fale... sem ser pela boca, como é o caso do... cuco, que fala pelo lado oposto à boca. JCN
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