segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Cecília Meireles: Tu tens um medo

Tu tens um medo:
Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo o dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.

E então serás eterno.


2 comentários:

  1. "és sempre outro.
    (...)és sempre o mesmo."

    "(...)tens um medo:
    Acabar."

    O medo é-o sempre de alguma perda: de si, de outrem, ou de algo.

    Quando, no laminar imo de nós (que nos está também na flor da pele), compreendemos - num sentir que é um ver que é um saber - que nada há a perder senão o que nos perde - então, o medo fica-se-nos com medo de ter medo e deixa de ter medo até do ter medo de ter medo.

    Aí, creio, a eternidade entra por nós adentro.

    (Obrigado, Laura, pela sempre enorme Cecília)

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  2. Aí está a mesma ascese do poema do Ramos Rosa, mais acima. Muito bem lembrada, esta grande poetisa que era também uma grande mística, para além de uma grande mulher.

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