segunda-feira, 21 de setembro de 2009


De ao pé dos loureiros tudo está em repousada quietude, só os caniços entoam pela brisa uma canção. O sol é de setembro, na vinha é brasa e bronze, é uma espiga amadurecida que se volta para a terra, que se quer colhida e guardada para em celeiro voltar a semente.

As figueiras - e na horta os tomateiros, pepineiros, pimenteiros - as figueiras, as videiras, as figueiras e videiras, o cheiro é de colheita e recolhimento, o cheiro é de abundância no clamor por nudez e por doce embriaguez. Os castanheiros, as nogueiras, os pessegueiros, as macieiras, as oliveiras aguardam a sua vez de dar voz no fruto em calores mais frescos que se seguirão.

As abóboras penduradas nos socalcos são brincos garridos, poderão soltar-se e rebolar pelos campos fora. A criança conta cinco, depois dez, cinquenta, cem, leves, soltas, rebolando, a criança rindo e cantando.

Tudo está em pausa no sol do equinócio. Só o caniçal dança. E a criança.

6 comentários:

  1. Luiza,

    "Só o caniçal dança. E a criança."
    Eu gostei de estar ao pé dos loureiros a rebolar, como uma criança, sabendo que a terra guarda as sementes, que os frutos da época fazem o gosto deste setembro... e Luiza, volta, na minha memória, a visitar os lugares, os mesmos lugares onde a luz muda e se renova em cada estação.

    Rindo e cantando gostava eu sempre de estar, como agora estou. Aqui, ao pé das árvores dos frutos que se comem secos: as nozes, as castanhas... o aconchego da terra, a infância...
    Tudo está em pausa no sol do equinócio! Também me parece, Luiza!

    Um beijo, gostei de visitar este texto, de o cheirar e de o ouvir... nas mãos sinto a rugosa e leve casca da noz... sinto saudades... da infância, de ser pequenina e dançar no caniçal...

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  2. O cuco não está, Saudades, mas eu ouço-o cantar.

    Um abraço, e boa noite...

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  3. bela prosa,Luiza

    bela amostra de Horta, com abóboras soberbas brincando na falésia.
    feliz do hortelão que vê assim d-escritos os frutos que produz

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  4. O regresso ao Paraíso, querida Luiza! Que saudades!...

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  5. Luiza, em dunas de palavra iluminada, em plena lavoura de si.

    Gratíssimo.
    (Lapdrey, lá de onde está, manda saudades!)

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  6. Um mergulho na eterna infância da terra... A matriz de que somos feitos e da qual nunca nos separamos se nos mantivermso crianças.
    :)

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