(Um sonho que tive e de que me lembrei, em Saudade, a propósito do "Rei Profeta", aqui postado há dias e do desafio colocado a Isabel Santiago por Teixeira de Pascoaes, o próprio. Veio do jardim para a Serpente. Como podia eu recusar um pedido de meu pai? Pois para retomar o fôlego...)
Quando a minha alma estava no mar, quando olhava as águas e os movimentos das gaivotas, tive um sonho vivo, como “uma fotografia”, mas com mais profundidade e altura. Nesse sonho, apareceu-me um mundo mais belo, por detrás da beleza do mundo; ouvi um som mais puro, para além do som belo do vento e das ondas que batem na praia. Nesse sonho acordado, ouvi . Senti, de modo muito intenso, o cheiro dos pinheiros, do mar, das algas, e sorri pacificamente, como se tudo estivesse certo num mundo certo: espelho de deus, era como se a difícil equação que resolve o mistério do mundo se tivesse resolvido na simplicidade de um novo olhar, como um jogo de criança, um espelho novo e limpo. Nesse sonho eu vi. Mas no “meu” poema, no “meu” sonho, era como se o mundo tivesse luz dentro da própria luz do mundo; e a luz do Sol trazia e levava uma mulher vestida de oiro que era a Mãe e o Sol, os dois no Um. A Realidade era como um olhar, que era Ele, sem sombra, um olhar sem fundura, nascido aqui.
Depois que a sombra chegou, depois de Deus, eu não sabia estar. Eu estava e “era” dentro e fora de mim, em simultâneo e em todas as direcções, mas pensava que era outra coisa. Carne espiritual e luz divina era a Realidade que via. Percebi que deus está dentro das coisas e fora delas, e as atravessa sem lhes tocar, num mesmo olhar cego. Percebi que, para Deus, as coisas são o que são e para os poetas e os místicos, as coisas são “entre elas,” o oco da Realidade. Foi isso que percebi. Pareceu-me a mesma coisa do avesso ou às avessas. Foi isso que me pareceu Isso. No meu sonho acordado, compreendi que é errado fechar os olhos a tudo Isto. Percebi que, mesmo que não visse o sonho e o mundo exterior na sua máxima Beleza e Verdade, mesmo que fechasse os olhos, e os mantivesse fechados algum tempo, como um cego que vê de outra maneira, continuaria a ver o mar, a sentir os perfumes das árvores e das flores; continuaria a ouvir o ruído subtil, acima dos lábios e dos ouvidos humanos: um som divino, em cascata de luz, como um céu que caísse em cima da realidade, através dos olhos de um anjo.
Tenho sonhado este sonho que me sonha, como se fosse a realidade vivida. O sonho é uma porta para ver a Realidade que existe sem portas e para além delas. Desligada do que chamam mundo, mais me aproximava da essência dele, quanto mais isolada, mais crescia dentro de mim o mar que lá havia desde o Princípio, desde a Origem. Sonhar era tão real como viver. Era como aprender de novo: aprender a fazer um laço, quando percebemos que é mais difícil desfazê-lo. Nascemos porque alguém nos encantou e atou o pulso ao mundo e fez um laço. Esse laço desatou-se quando nascemos, e voltou a fechar-se enquanto crescíamos e aprendíamos a esquecer. Esse nó que nos prendia e não nos deixava sonhar, era ilusão. Atámos a esse pulso o mundo que nos rodeava, nomeando-o e “apropriando-nos” dele, para vestirmos o pulso e a carne nus. “Isto é 'meu'! “Eu Sou”! “Eu quero!” Este modo de olhar as coisas foi dando sucessivos “nós” em redor da iludida ideia de posse do mundo e do sonho. De tal modo assim era, que já não podíamos ver a verdadeira vida. Era como se deitássemos água num recipiente partido: quanto mais água entrava, mais saía. E nunca enchia a jarra. Foi por essa janela que o rei assomou, Iabel, a mesma por onde o anjo caíu, na mesma hora, levantado pelas borboletas.
Depois que a sombra chegou, depois de Deus, eu não sabia estar. Eu estava e “era” dentro e fora de mim, em simultâneo e em todas as direcções, mas pensava que era outra coisa. Carne espiritual e luz divina era a Realidade que via. Percebi que deus está dentro das coisas e fora delas, e as atravessa sem lhes tocar, num mesmo olhar cego. Percebi que, para Deus, as coisas são o que são e para os poetas e os místicos, as coisas são “entre elas,” o oco da Realidade. Foi isso que percebi. Pareceu-me a mesma coisa do avesso ou às avessas. Foi isso que me pareceu Isso. No meu sonho acordado, compreendi que é errado fechar os olhos a tudo Isto. Percebi que, mesmo que não visse o sonho e o mundo exterior na sua máxima Beleza e Verdade, mesmo que fechasse os olhos, e os mantivesse fechados algum tempo, como um cego que vê de outra maneira, continuaria a ver o mar, a sentir os perfumes das árvores e das flores; continuaria a ouvir o ruído subtil, acima dos lábios e dos ouvidos humanos: um som divino, em cascata de luz, como um céu que caísse em cima da realidade, através dos olhos de um anjo.
Tenho sonhado este sonho que me sonha, como se fosse a realidade vivida. O sonho é uma porta para ver a Realidade que existe sem portas e para além delas. Desligada do que chamam mundo, mais me aproximava da essência dele, quanto mais isolada, mais crescia dentro de mim o mar que lá havia desde o Princípio, desde a Origem. Sonhar era tão real como viver. Era como aprender de novo: aprender a fazer um laço, quando percebemos que é mais difícil desfazê-lo. Nascemos porque alguém nos encantou e atou o pulso ao mundo e fez um laço. Esse laço desatou-se quando nascemos, e voltou a fechar-se enquanto crescíamos e aprendíamos a esquecer. Esse nó que nos prendia e não nos deixava sonhar, era ilusão. Atámos a esse pulso o mundo que nos rodeava, nomeando-o e “apropriando-nos” dele, para vestirmos o pulso e a carne nus. “Isto é 'meu'! “Eu Sou”! “Eu quero!” Este modo de olhar as coisas foi dando sucessivos “nós” em redor da iludida ideia de posse do mundo e do sonho. De tal modo assim era, que já não podíamos ver a verdadeira vida. Era como se deitássemos água num recipiente partido: quanto mais água entrava, mais saía. E nunca enchia a jarra. Foi por essa janela que o rei assomou, Iabel, a mesma por onde o anjo caíu, na mesma hora, levantado pelas borboletas.
Bem-hajam!
Fico, depois do fôlego, suspensa no suspiro que é a imagem. Como as imagens são como as do teu sonho, luz dentro de luz, uma luz que brota do mundo que és, sem seres só daqui. Depois soltam-se as borboletas e vês a beleza e a Verdade na proximidade de Deus, na proximidade dos místicos. A escrita leva-te até eles. Escrever é uma religião, uma forma específica de orar sem procurar o rosto ou a palavra que vem dirigida ao "eu", ao "quero". A palavra vem e é como o sonho, um acto involuntário e poético e o poeta não tem "eu", como sabes. Os Românticos bem sabiam que sonhar é uma forma involuntária de se ser poeta. Pascoaes sabe isso em ti. Sabe que és tocada por essa chama que nos deixa sem fôlego e abrasa-te. E a mim refresca-me acordar por aqui, depois das estátuas e das flores e dos outros textos e esperas. Mas um texto, sendo um sonho, uma experiência espirirtual da realidade, é também um acordar feliz para tudo o que está dentro, fora, aquém e além de nós.
ResponderEliminarEsta noite, Teixeira não saberá como não delirar nas estrelas quentes e próximas do Marão. Tanta mulher suspensa à espera dele...
um sorriso
Saudades, este sonho faz lembrar como muitas passagens de Teixeira de Pascoaes, o privilégio que alguns seres têm de ver o mundo antes de ele o ser. Esta visão também me sonha.
ResponderEliminarP.S. Vi a referência no jardim… onde depositei perfume e sorrisos.
Isso foi antes ou depois de Deus ter dado um traque?
ResponderEliminarDesculpem, Isabel e Brunhild, mas vou ter que responder já, (que ainda estou a rir e o calor aumenta o riso, provocando uma dilataçao das cordas... bem! Responde a Castro Nunes e depois voltarei
ResponderEliminar(sorriso para vós e um olhar de admiração para o João de Castro Nunes.
Pois então que não foi ao mesmo tempo?! Coisa supranatural!!!(risos, muitos!)
Nem sei por onde comece, se pela realidade se pelo sonho, que já os confundo, agora, com essa bizarra, mas pertinente pergunta...
Bem... estava eu a ter o sonho, bem sossegadita,quando, de repente: PUUMMMM!! do tamanho do Universo e para além dele!
Vi que era Deus, pois que não havia mais ninguém... mas ainda desconfiei de "rabo" tão divino, uma tal concentracção de ruído!
Mas... sendo Deus...tudo é possível!
Fiquei tão surpreendida que ainda hoje tenho dúvidas, se foi antes ou depois do sonho...(gargalhadas)
Aí, não posso responder com precisão!
A partir daí, a Saudade nunca mais foi a mesma...
Será isso a que chamam "despertar"?
!Ai mare mia, qué calor!...
Beijinhos
Desculpem lá as incorrecções... foi escrito à pressa e a rir, não a rel(i)er!
ResponderEliminarEste calor, até para aqui que estamos acostumados a ele, faz aflorar o sangue ao estômago e "o ser humano" vê-se em dificuldades para escrever algo com sentido.
Também depois do que aconteceu!
Isabel e Brunhild,
O que posso dizer de outro que não seja o Isso, o Isto e o Imo da minha Amizade.
É interessante o que a Brunhild diz o atecipar do futuro para lá de todos os tempos: presente e passado...
Voltaremos a este tema, quando passar mais o calor... deixe ver... lá para o século XXII, se o houver!
Desafio
ResponderEliminar(Entra Obscuro, passa a Ronaldo...
Entra na grande área do céu e sai
SONETOO! bem medido e como um fado
mandado e bailado é o que aqui vai!)
Invocando Pascoaes e musas em vão
Tendo por companhia a "Doly", ovelha,
(A deusa de Pessoa não era tão velha)
Era Ofélia, a francesa, sobre o rio vão
as saudades do sonho que tive de mim
Quando me lembro da fala de Deus
Como um trovão altissonante e seus
clamores sem fim. Porbre de mim!
Que vivo em tais cuidados e melindres
Tenho medo do sonho de Teixeira
Dele me dizer de novo, para não brincar com os berlindes!
(Não aguento mais, de tanto rir!)
Obscuro um bocado claro disse:
Alguém pare isto!
Já apresentei queixa-crime por apropriação de identidade alheia por parte do palhaço que se aproveita do meu nome para fazer passar as suas "ordinarices" de mau gosto.
ResponderEliminarPaizinho!?!? Não consta que as musas possam ser minhas filhas. As filhas dão cuidados, as musas dão liberdade. O poema por ser masculino, deseja o feminino e o que inspire… por isso, cara Saudades não te quero como filha, quero-te como poeta... como mulher!
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