O teu rosto incendeia-se com a sua nudez. É um ocaso perante a sua aurora carnal. Não estás surpreendido: já estás aí há muito tempo. Aguardando que se dispa, aguardando que se mostre. Estás preparado e só. Ela também não parece ter pressa. Os que se reencontram não têm tempo na alma e no corpo. Esperas mais. Esperas que tudo para ela se recolha e reconverta antes de ti. E tudo se reconverte para a vestir, a sagrar de coroas e pulseiras, ténues véus e um espesso manto. O teu olhar atravessa-a mas não a possui. Ela baixa os olhos para te sinalizar um estremecimento, um atiçamento. Consegues imobizá-la porque ela te sabe aí, mas não te quer suspenso no terror do engano e do desejo. E tu ardes. Ela refresca-te. Preferes ainda assim ouvir nesta distância-dentro, o gotejar das diferentes fontes do seu corpo. Ela inclina-se e trava o abalo das águas que podem corrê-la, transcorrê-la desde outrora, desde sempre. Mostra-te que está preparada: a água que nela corre e transcorre aviva as flores. Despontam mais viçosas na proximidade do seu corpo-leito onde repousarás da espera, da inconsolável individuação e da longa vigília em que nesse mesmo lugar a viste partir e regressar. Acalmarás a febre, o incêndio: é um horto de perfumes e águas. O ar redolente inebria-te. Sentes a derrota do preceito que impuseste à floresta da vontade cheia de sombras e vozes que te arrepiam de medo e fantasia. A ebulição consome a tua passividade convulsa porque, atrás dos olhos, tens o desejo a revelar-se como uma potência divina ou como um raio de Zeus. Os olhos formulam o sussurro do apetite e ela, fingindo não ver, mas ouvindo os vestígios da unidade que se revolvem nas ruínas do teu semblante triste, responde movendo o pé, fazendo que fecha a porta quando ela já não tem chave. E o teu desejo último e primeiro implode com as cores da forja que vos moldou uma só alma em dois corpos distintos-distantes. Ela, intacta ao tempo, não se aflige com as cores estranhas com que a floresta dos afectos te pintou, te envelheceu e te tornou um eremita, etéreo como o vento e a maré. Ela espera-te com incenso: quando entrares pela porta, em cinza juntos no amor-morte, se evolarão pelos céus atrás dos pássaros que perdeste quando ainda eras do tempo e de que ela sabe o rastro intacto. Mesmo sendo silêncio e visão, frémito, grito e fluída evocação. Mulher, terra e mãe que te oferece nos seios, no ventre, nos olhos e nos (a)braços o sentido secreto da tua eternidade lunar. Vem, é a Lua que chama o Ocaso da tua consumação!
Para responder à provocação que muito gostei de um Teixeira de Pascoaes renascido nos comentários ao texto anterior que aqui deixei. Uma musa para Pascoaes é um grande agradecimento ao "poeta" e um pedido de desculpa por ficar tão aquém do que ele merece.
Fiquei sem fôlego! Depois de ler o texto, decidi que deixarei os meus aposentos e vou passear no Marão, beber nas fontes para me refrescar... conversaremos depois se a menina não se importar. Por ora um aceno num rosto purpurino. Até depois.
ResponderEliminarNão posso, Isabel e Pascoaes, meu pai! ser a musa de Pascoaes, sou as suas divinas Saudades!(risos)e ele é o meu "pai"! (mais risos)
ResponderEliminarDeixo um "sonho acordado" no jardim. Não quero "ver" as musas, antes de elas se revelarem,
Ai,ai, Isabel! ... Isso é que é calor e fervor (agora é que ruboresceu!)
(Suspiro de Saudades)
Nem com o mar te refrescas, Isabel? Estás em brasa! Risos… Vê lá se diriges o olhar para o Diógenes que sempre deve causar menos calor e mais reflexões…
ResponderEliminarMal escrito, sem nervo, uma patetice. Aproveitei as férias e encontre donzel, bem precisa!...
ResponderEliminarA monca de Pascoaes, era uma ovelha, vocemessê também parece que não está com o juízo todo!...
ResponderEliminarCorrija-se!... "Aproveite as férias".
ResponderEliminarUma ofensa fingirem que são o Pascoaes, que tinha fôlego para vocês todos!...
ResponderEliminarAtirem pedras medíocres!
o amor está sempre aquém, isso sabia-o pascoaes. por isso caminha eternamente.
ResponderEliminarLuto sentido por haver comentários tão desadequados a um texto belo e profundo. Além do mais por seres que se divertem a ser "clones"!
ResponderEliminarTerrífico!
ResponderEliminarLamentável, de facto!
ResponderEliminarIsabel, que este horto se estenda a todos os que têm uma visão tão vil, estreita e apagada para as coisas verdadeiramente belas... que nem sorrir conseguem!
ResponderEliminarBem hajas pelos teus belos textos!
uma desgraceira valha nos deus lol
ResponderEliminarVagando como um pobre tolo e não podendo hoje, mais do que cantar dedico-te menina:
ResponderEliminar“ – Senhora minha, meu amor, lhe disse.
Sou imagem de fumo e nuvem sou;
Ténue floco de espuma, à superfície
Da onda virginal que te criou;
Onda revolta e verde de esperanças,
Redemoinho genésico, a espumar;
Onda coberta de algas e de tranças
De ninfas e amorzinhos a nadar…
Eu sou, Senhora minha, a criatura
Rendida dos teus olhos criadores;
Presa aos teus pés gentis de noite escura
Que só pisam espuma e trilham flores.
Eu sou aquele que ama; o rasteirinho
De corpo, e de alma clara e alevantada.
Sou a poeira que ergue, em teu caminho,
Tua saia com rendas de alvorada.”