Não peço que asfaltem a estrada do meu Monte - quase intransitável no Inverno
nem reponham ordem no telhado - que estorninhos e gatos se têm divertido a escangalhar
Não vendo meu precioso voto (quem sabe não será ele a decidir) por um lugar de assessoria principesca
no campo, por exemplo, da utopia que anima a população da urbe
Não hipoteco
minha cruzinha no quadrado
por um cabaz de benesses de que nunca mais eu desse conta
O meu preço político é barato:
votarei em quem se comprometa
a pôr um casal de esquilos no Jardim.
Sim, leu bem: um casal de esquilos no Jardim
Estou farto de melhoramentos que valem milhões de euros, e poucos benefícios trazem
a quem coze o pão ou vende sapatos na Sapataria
ou mendiga à tarde sob os Arcos uns cêntimos miseráveis
Farto
de Fábricas estrangeiras que prometem milhares de postos de trabalho
e a gente sabe se deslocam repticiamente para o primeiro buraco em que se sintam protegidas
Por isso, políticos locais, o meu voto a quem se comprometa
a pôr um casal de esquilos no Jardim
Milhares de cidadãos futuros ficarão felizes
Ninguém melhor para governar adultos
do que
quem saiba estar
atento à felicidade das crianças
Platero, felicito-te pelo poema e sobretudo pelos quatro versos finais, que são preciosíssimos e dignos de antologia numa súmula da sabedoria intemporal!
ResponderEliminarPaulo Borges
ResponderEliminaré sempre reconfortante encontrar quem se identifique com as coisas que fazemos.
uma das características do que penso/escrevo é veicular algum humor-
Há anos, na Aldeia da Luz, Alqueva,um indígena lia uma crónica minha de jornal.
e sorria abertamente. Fiquei feliz.
Quando gosto de qualquer coisa: poema, sinfonia, peça de escultura ou de teatro, vejo-a como se fosse também um pouco minha.
o sucesso dos outros - mesmo que não os conheça - toca-me como se fosse em exclusivo meu.
abraço
E viessem os Esquilos, caro Platero...
ResponderEliminarO espalhar a felicidade dispensa os espantalhos com que nos semeiam as praças em dias de febre eleitoral.
Quantos sorrisos se poderiam semear com os milhões que estão neste momento a ser torrados nas campanhas eleitorais?
Pode fazer-se muito com muito pouco.
:)
Bom Platero
ResponderEliminarquanta sabedoria e generosidade no poema e na verdade que encerra! Comovi-me ao lê-lo. Mas isso é porque a par da leitura vêm sempre as crianças, ou o estado de infância. Mas depois de ler este poema até deveria dizer o Estado da Infância.
Um enorme sorriso.
O Estado da Infância? Percebo, mas a Isabel decerto sabe que a Infância é sem Estado. A Infância, sobretudo a de antes de se nascer, é a única An-arquia viável. O Estado é inerente aos Egos adultos, ou seja, adulterados.
ResponderEliminarSó quem não conhece a Isabel poderia pensar que ela não sabe essa diferença essencial. Mas leia com atenção e perceberá que não é isso que ela está a dizer. Talvez se ler Agamben perceba o sentido último do que ela tentou dizer. Ela será tudo menos ego e ego de adultos e do Estado! Ela criou uma hipótese...para um mundo em "estado de infância", como já aqui tantas vezes escreveu.
ResponderEliminarEste esforço de poesia é pior que bosta de touro!...
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