quinta-feira, 28 de maio de 2009

Soneto inútil

O drama do ser é único em toda alma,
na beira-mar sinto o vento me levar
e esta substancia insubstancial é calma,
nesta vida estou morrendo de vagar.

E vago levo o corpo além de tudo
e quando ando, o universo fica mudo,
não somente as coisas também os seres,
amados, conhecidos e tudo que queres.

E todos, na verdade, esperam o declínio,
a minha morte medíocre e prematura
e eu ajudo bastante com o vinho,
que nasce da bondade na sagrada natura.

Ninguém beijo e ninguém pode me beijar,
sou o eterno estrangeiro na beira do mar.

Madragoa 26.05.09

7 comentários:

  1. Belíssimo, Dirk.

    Também me sinto "o eterno estrangeiro na beira do mar"...

    Abraço

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  2. Um beijo, Dirk! E um brinde a todos os emplumados com "vinho, que nasce da bondade na sagrada natura." Sorriso ...

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  3. Caro Dirk,

    Muito grato pelo soneto, ao tão esquecido modo de três quadras e um adágio final em dueto, como Shakespeare tão sublimemente o cultivou.

    "Quando ando, o universo fica mudo"...

    Há quem ande (andarei eu, quiçá também...) e nem dê conta de que há universo que emudece, tal e tanto é o tão pouco humano, desumano ruído em nós "estridindo" (essas, sim) inutilidades ...

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  4. todos morremos de vagar, seja nas vagas do mar, seja no maior de todos os lugares vagos, a nossa alma.

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  5. Que belo o seu "soneto" mesmo que seja, porventura "o eterno estrangeiro na beira do mar". Não o sompos todos?A

    A bondade da "sagrada natura" é o vinho que a mim me ensandece e me leva no "drama de ser {que] é único em toda a alma."

    Gostei, Dirk, um sorriso:)

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