Um espaço para expressar, conhecer e reflectir as mais altas, fundas e amplas experiências e possibilidades humanas, onde os limites se convertem em limiares. Sofrimento, mal e morte, iniciação, poesia e revolução, sexo, erotismo e amor, transe, êxtase e loucura, espiritualidade, mística e transcendência. Tudo o que altera, transmuta e liberta. Tudo o que desencobre um Esplendor nas cinzas opacas da vida falsa.
Na próxima quarta-feira, dia 13 de Maio, a partir das 00:01, entrevista com Murilo Hildebrand de Abreu, dos blogues «Palavra de Osho» e «Os nascimentos das palavras» no meu blog «Cova do Urso»
http://cova-do-urso.blogspot.com/
O dia 13 de Maio tem um significado especial para Portugal e Brasil. No nosso país ocorreram as aparições marianas em Fátima e no Brasil, a escravatura foi abolida. Osho, Murilo e eu não poderíamos estar mais sintonizados com uma data tão especial.
Estando você na lista de blogs do Palavras de Osho, talvez queira conhecer o homem que edita um dos blogs mais interessantes da actualidade. Apareça para dar um alô ao Murilo.
Quarta-feira, dia 13 de Maio, a partir das 00:01
Grato
António Rosa
(Apesar de estar a promover a entrevista do editor do Palavras de Osho, fiquei gratamente surpreendiso e apreciei o seu blog, que não conhecia. Parabéns.)
Nem todo o mal moral é causado intencionalmente; tomemos o caso de alguém que atropela outrém, matando-a, sem intenção e até mesmo sem irresponsabilidade. Enquanto a "vítima" sofre mal físico e um mal maior - a morte - podemos até dizer que morreu devido a mal natural, dado que o ser humano é natural e não houve intenção, o agente sofre mal moral, na mais que provável eventualidade de sentir, para o resto dos seus dias?, sentimento de culpa. Assim, e supondo que a vítima não agiu com intenção nem irresponsabilidade, o mal natural pode gerar mal moral. Mas... que é o mal senão o sofrimento ou a morte?
E em que medida é a morte um mal, no caso em que é aparentemente preferível à vida, no caso em que esta se tornou tão insuportável, devido a um sofrimento físico ou mental inalienável, que se escolhe a morte? Não será a morte um bem e um direito nesse caso? Ou não?
Dir-se-ia que há pelo menos 5 momentos éticos: motivação, intenção, escolha, acção e consequências. Que não há acção sem consequências parece-nos evidente. Mas há acções sem motivação nem intenção nem escolha, como quando alguém caminha com todo o cuidado numa ponte repleta de pedregulhos, toca num deles, a pedra cai, bate num automóvel, o automóvel despista-se, há feridos e mortos. É mais um caso em que se gera mal moral - supondo que quem tropeça está alheio aos carros e que um dos condutores fica traumatizado e sente culpa por algo acerca do qual de facto não tem culpa - devido a mal natural. Note-se que podemos supor o caso em que um acidente semelhante se deve a uma trovoada súbita, com as mesmas consequências mentais (no caso, culpabilidade). Serão estas consequências, que são evidentemente mentais, consequências morais? E o sofrimento das famílias da vítima - tristeza, angústia, saudade -, não será um mal moral causado por um mal natural? A ser verdade, a ética não pertence exclusivamente ao domínio da racionalidade, da escolha e daquilo que podemos controlar, mas também ao da irracionalidade e do absurdo - isto se considerarmos que não há um génio maligno a guiar o rumo da Natureza.
Na verdade, se a Vida tem valor moral, tem-no em qualquer circunstância e, desta forma, tudo o que a ela se liga tem valor moral. Porém, enquanto dizemos que o que à Vida se liga tem valor moral devido a essa ligação, dizemos que a Vida tem valor moral por si, o que é o mesmo que dizer que a Vida é sagrada e, com a catástrofe do sofrimento, o templo último vezes sem conta profanado.
"Infelizes também são aqueles que depositam a sua esperança em coisas mortas, e que invocam como deuses as obras de mãos humanas: coisas de ouro e prata, trabalhadas com arte, figuras de animais, ou uma pedra sem valor, obra de mão antiga. Um carpinteiro, por exemplo, serra uma árvore fácil de manejar. Depois tira-lhe cuidadosamente toda a casca, trabalha a madeira com habilidade e fabrica um móvel, útil para as necessidades da vida. Terminado o trabalho, recolhe as sobras da madeira, emprega-as para cozinhar a comida com que fica saciado. Das sobras de tudo, que não servem para nada, madeira retorcida e cheia de nós, vai-a esculpindo nos momentos de lazer. Para se distrair, modela a madeira com arte, e dá-lhe a forma de um homem, ou então o aspecto de algum animal desprezível. Depois pinta o ídolo de vermelho e cobre de massa todos os seus defeitos. A seguir, prepara-lhe um nicho digno dele, e fixa-o na parede com um prego. Toma esses cuidados para que não caia, sabendo que o ídolo não pode cuidar de si mesmo: é apenas uma imagem, e precisa de ajuda. Entretanto, logo em seguida dirige-lhe orações pelos seus bens, casamento e filhos, sem se envergonhar de falar com uma coisa sem vida. Para a saúde, invoca o que é frágil. Para a vida, faz súplicas àquilo que é morto. Para um auxílio, pede ajuda àquilo que não tem experiência. Para uma viagem, dirige-se àquilo que não pode dar um passo. Para os seus negócios, trabalhos e sucesso nos empreendimentos, pede forças a quem não tem força nenhuma nas mãos." Sb 13, 10-19
A ética não pertence exclusivamente ao domínio da racionalidade, da escolha e daquilo que podemos controlar, mas também ao da irracionalidade e do absurdo - isto se considerarmos que não há um génio maligno a guiar o rumo da Natureza.
Se vivêssemos sob o domínio exclusivo da racionalidade, não existiria sequer a possibilidade de reflexão ética, porque as nossas acções se conformariam necessariamente aos correlatos conceituais dos objectos no mundo, de forma que escolheríamos sempre o bem por ser (evidentemente) melhor que o mau.
Porém, neste "domínio terrestre cheio de decepção e dor" (Bob Dylan, When the deal goes down), não sabemos se existe o bem, não sabemos muitas vezes qual a melhor escolha e muitas vezes escolhemos a pior - o que seria absurdo num ser auto-legislado pela racionalidade.
Do mesmo modo, o mundo actua, se é que lhe podemos atribuir esta propriedade, muitas vezes, da pior forma possível para nós, o que significa que para nós, enquanto agente, o mundo não age como um agente auto-legislado pela racionalidade, a menos que o sofrimento que sofremos nos seja devido, isto é, justo.
Se o mundo agisse, se é que lhe podemos atribuir as propriedades de agir e de ser agente, para nós como um agente auto-legislado pela racionalidade, agiria necessariamente de acordo com os correlatos conceituais dos objectos no mundo que eventualmente domina (ventos, marés, órbitas...) e essa necessidade não se verifica.
A ser verdade o que é dito, segue-se que não existe - pelo menos actualmente - um agente racional a gerar os acontecimentos que observamos, e que nos afectam, no mundo, a menos que este seja de facto o melhor dos mundos possíveis, o que não parece ser o caso, já que nesse mundo não teriam acontecido acontecimentos tão maus como o terramoto de Lisboa ou o 11 de Setembro.
A ser um facto que não existe no presente um agente racional a gerar as acções do ou no mundo, não se segue que esse agente não tenha existido no passado nem que não exista uma certa ordem que atribuímos ao mundo, como a regularidade das marés ou das órbitas lunares.
Na verdade, a tentativa de pôr um agente irracional como origem do mundo, é a tentativa de pôr uma vontade bruta como origem do mundo, o que implica, tal como no caso contrário, um agente consciente.
Isto acontece porque é difícil para o nosso entendimento aceitar a existência eterna de algo que existe nem alheado nem não alheado de tudo, na medida em que seria um erro de categoria atribuir-lhe qualquer grau de consciência ou antropomorfizá-lo, e que é no entanto origem de tudo o mais que exista.
Essa dificuldade deve-se ao facto de a resposta à questão da sua existência ser que existe porque existe, o que não constitui explicação e, por isso, não satisfaz o entendimento, que encontra como causa de nós próprios algo porventura inferior a nós, tal como o mais belo dos diamantes é considerado inferior à mais feal vida humana.
E, na medida em que o mundo não pode ser compreendido à luz da razão pura, já que não se adequa necessariamente, isto é, sempre, a conceitos, e dada a necessidade de compreendê-lo, pela questão do seu e do nosso porquê, como compreendê-lo?
Se é verdade que a razão joga com os conceitos na sua sintaxe e o entendimento na sua semântica, isto é, que os relaciona com os objectos no mundo, podendo tomá-lo para si como objecto mental, não é menos verdade, dada a conclusão anterior, que ambas as capacidades são insuficientes para compreendê-lo e, logo, se é sequer possível a sua compreensão, é necessário que entre em jogo outra capacidade.
A imaginação permite-nos, através dos objectos armazenados na memória, criar mentalmente objectos, que eventualmente têm um correlato mundano, ou não. Nada mais faz.
A consciência, por sua vez, permite-nos aceder a tudo a que acedemos, isto é, é nada mais que acesso (o que já é muito e fundamento de toda a identidade ou discriminação).
Resta-nos dois candidatos: as sensações, também chamadas percepções, e os sentimentos ou emoções (embora os especialistas possam considerá-los diferentes, um amador blogger como eu considerá-los-á o mesmo, e nomeá-los-á "sentimentos").
Os primeiros permitem-nos ter um contacto directo com o mundo - o outro e o mesmo - através do corpo, contacto que é, ao contrário do que comummente julgamos das pedras, consciente, que é contacto para alguém. Dão-nos se não todos, pelo menos os primeiros objectos do entendimento que, como conceitos, são depois jogados pela razão nos momentos em que pensamos (se fosse assim tão simples...)
Os segundos, por sua vez, são estranhos e, quiçá, inabarcáveis pela razão, que os não compreende completamente, caso em que seriam racionais mas não sentimentais. São, se é verdade o que foi dito, nesse sentido análogos ao mundo, isto é, como ele incompreensíveis e, por isso, apresentam, se não identidade, semelhança com o mundo.
Porém, poderíamos contrapor que também as outras capacidades apresentam semelhanças com o mundo, já que imaginamos objectos semelhantes aos deste, e o próprio mundo é alheio à contradição, já que não conhecemos objectos mundanos contraditórios, como não conhecemos objectos ideais contraditórios, excepto as próprias contradições, incompreensíveis ao entendimento, diferentemente do mundo, incompreensível à razão.
Essa incompreensibilidade do mundo perante a razão é-a, no entanto, perante a vontade e a consciência, já que existe a vontade consciente de compreender o seu e nosso porquê, e a consciência dessa incompreensibilidade, consciência particular e típica que gera um sentimento particular e típico.
bem, moço :) isto é que é uma festa! lançam-se foguetes, apanha-se as canas! a verdadeira Folia!! grato pelas explosoes globalitárias peculiares ! continue a escrever,e não perca tempo a agradecer, ca estamos para o ler! bom dia e bom trabalho! eu vou aproveitar e dormitar...
não entres na igreja ó cavador, é falsa a religião dessa canalha, os santos são de pau não têm valor, valor dá-se ao homem que trabalha. quadra popular alentejana entoada pelo meu avô. tanta filosofia, para uma conclusão subjectiva.
Traduzindo: uma vida humana, esta, com tudo o que é necessário e suficiente para o ser.
Não procurando os porquês e os para quês, sou esta vida humana. Sou esta desde que sou vida humana, independentemente de o ser ou não ser para mim.
Desde que nasço, chorando e aparentemente inconsciente de mim, sou esta vida humana, porque sou já um corpo particular, aquele que vem a ser este, que deixará de ser, ainda em vida e que finalmente se desagregará.
Tenho no momento presente consciência de que fui eu e não outro, que sou eu e não outro e que serei eu e não outro, apesar de já não o ser e de ainda não o ser.
Este que estupidamente te fala é alguém que veio a ser: é corpo e é mente humanos, com tudo o que isso implica:
Tudo neste mundo, no espaço e no tempo, até que morra, deixe de existir mentalmente, o meu corpo se desagrege e se funda com o solo, e de mim não reste senão uma memória, que desaparecerá, tendo eu então desaparecido por completo.
Pela mesma lógica, existo desde que fui concebido ou mesmo pensado em ser concebido. Sendo portanto também pensamento de outros - Grandes! - o que de resto é implicado pelo caso da memória em outros no futuro.
Antes e depois dos acontecimentos referidos não fui nem serei, não existia nem existirei.
Portanto, alguém que começa e acaba em outros, mas com uma identidade própria, que adquire ao nascer e que desadquire ao morrer ou ao desagregar-se completamente, sendo portanto isto, que é para mim, e aquilo que é para o solo.
"Ai Deus mo deu, ai Deus mo levou, ai Deus mo deu, ai Deus mo levou" José Afonso
"I know I was born and I know that I'll die, but he in between is mine, I am mine" Pearl Jam
E por isso sou algo que é essencial, com características essenciais que o individuam, distinguem dos restantes seres não humanos, e acidental, com uma história de vida, que o individua dos restantes seres humanos.
A menos que tenha de ter todas as propriedades que tenho, o que é sempre uma hipótese, caso em que, como estupidamente sabes, nenhuma delas seria acidental, o que não implicaria que tudo fosse essencial, mas apenas necessário.
O que deseja o impossível: ser.
ResponderEliminarMelhor: o desejo do impossível - ser.
ResponderEliminarSim, como tudo o que existe neste mundo, porventura em nós?, nem é nem não é.
ResponderEliminarBom dia,
ResponderEliminarInformação:
Na próxima quarta-feira, dia 13 de Maio, a partir das 00:01, entrevista com Murilo Hildebrand de Abreu, dos blogues «Palavra de Osho» e «Os nascimentos das palavras» no meu blog «Cova do Urso»
http://cova-do-urso.blogspot.com/
O dia 13 de Maio tem um significado especial para Portugal e Brasil. No nosso país ocorreram as aparições marianas em Fátima e no Brasil, a escravatura foi abolida. Osho, Murilo e eu não poderíamos estar mais sintonizados com uma data tão especial.
Estando você na lista de blogs do Palavras de Osho, talvez queira conhecer o homem que edita um dos blogs mais interessantes da actualidade. Apareça para dar um alô ao Murilo.
Quarta-feira, dia 13 de Maio, a partir das 00:01
Grato
António Rosa
(Apesar de estar a promover a entrevista do editor do Palavras de Osho, fiquei gratamente surpreendiso e apreciei o seu blog, que não conhecia. Parabéns.)
Nem todo o mal moral é causado intencionalmente; tomemos o caso de alguém que atropela outrém, matando-a, sem intenção e até mesmo sem irresponsabilidade. Enquanto a "vítima" sofre mal físico e um mal maior - a morte - podemos até dizer que morreu devido a mal natural, dado que o ser humano é natural e não houve intenção, o agente sofre mal moral, na mais que provável eventualidade de sentir, para o resto dos seus dias?, sentimento de culpa. Assim, e supondo que a vítima não agiu com intenção nem irresponsabilidade, o mal natural pode gerar mal moral. Mas... que é o mal senão o sofrimento ou a morte?
ResponderEliminarE em que medida é a morte um mal, no caso em que é aparentemente preferível à vida, no caso em que esta se tornou tão insuportável, devido a um sofrimento físico ou mental inalienável, que se escolhe a morte? Não será a morte um bem e um direito nesse caso? Ou não?
ResponderEliminarDir-se-ia que há pelo menos 5 momentos éticos: motivação, intenção, escolha, acção e consequências. Que não há acção sem consequências parece-nos evidente. Mas há acções sem motivação nem intenção nem escolha, como quando alguém caminha com todo o cuidado numa ponte repleta de pedregulhos, toca num deles, a pedra cai, bate num automóvel, o automóvel despista-se, há feridos e mortos. É mais um caso em que se gera mal moral - supondo que quem tropeça está alheio aos carros e que um dos condutores fica traumatizado e sente culpa por algo acerca do qual de facto não tem culpa - devido a mal natural. Note-se que podemos supor o caso em que um acidente semelhante se deve a uma trovoada súbita, com as mesmas consequências mentais (no caso, culpabilidade). Serão estas consequências, que são evidentemente mentais, consequências morais? E o sofrimento das famílias da vítima - tristeza, angústia, saudade -, não será um mal moral causado por um mal natural? A ser verdade, a ética não pertence exclusivamente ao domínio da racionalidade, da escolha e daquilo que podemos controlar, mas também ao da irracionalidade e do absurdo - isto se considerarmos que não há um génio maligno a guiar o rumo da Natureza.
ResponderEliminarNa verdade, se a Vida tem valor moral, tem-no em qualquer circunstância e, desta forma, tudo o que a ela se liga tem valor moral. Porém, enquanto dizemos que o que à Vida se liga tem valor moral devido a essa ligação, dizemos que a Vida tem valor moral por si, o que é o mesmo que dizer que a Vida é sagrada e, com a catástrofe do sofrimento, o templo último vezes sem conta profanado.
ResponderEliminar"Infelizes também são aqueles que depositam a sua esperança em coisas mortas, e que invocam como deuses as obras de mãos humanas: coisas de ouro e prata, trabalhadas com arte, figuras de animais, ou uma pedra sem valor, obra de mão antiga. Um carpinteiro, por exemplo, serra uma árvore fácil de manejar. Depois tira-lhe cuidadosamente toda a casca, trabalha a madeira com habilidade e fabrica um móvel, útil para as necessidades da vida. Terminado o trabalho, recolhe as sobras da madeira, emprega-as para cozinhar a comida com que fica saciado. Das sobras de tudo, que não servem para nada, madeira retorcida e cheia de nós, vai-a esculpindo nos momentos de lazer. Para se distrair, modela a madeira com arte, e dá-lhe a forma de um homem, ou então o aspecto de algum animal desprezível. Depois pinta o ídolo de vermelho e cobre de massa todos os seus defeitos. A seguir, prepara-lhe um nicho digno dele, e fixa-o na parede com um prego. Toma esses cuidados para que não caia, sabendo que o ídolo não pode cuidar de si mesmo: é apenas uma imagem, e precisa de ajuda. Entretanto, logo em seguida dirige-lhe orações pelos seus bens, casamento e filhos, sem se envergonhar de falar com uma coisa sem vida. Para a saúde, invoca o que é frágil. Para a vida, faz súplicas àquilo que é morto. Para um auxílio, pede ajuda àquilo que não tem experiência. Para uma viagem, dirige-se àquilo que não pode dar um passo. Para os seus negócios, trabalhos e sucesso nos empreendimentos, pede forças a quem não tem força nenhuma nas mãos." Sb 13, 10-19
ResponderEliminarA ética não pertence exclusivamente ao domínio da racionalidade, da escolha e daquilo que podemos controlar, mas também ao da irracionalidade e do absurdo - isto se considerarmos que não há um génio maligno a guiar o rumo da Natureza.
ResponderEliminarSe vivêssemos sob o domínio exclusivo da racionalidade, não existiria sequer a possibilidade de reflexão ética, porque as nossas acções se conformariam necessariamente aos correlatos conceituais dos objectos no mundo, de forma que escolheríamos sempre o bem por ser (evidentemente) melhor que o mau.
Porém, neste "domínio terrestre cheio de decepção e dor" (Bob Dylan, When the deal goes down), não sabemos se existe o bem, não sabemos muitas vezes qual a melhor escolha e muitas vezes escolhemos a pior - o que seria absurdo num ser auto-legislado pela racionalidade.
Do mesmo modo, o mundo actua, se é que lhe podemos atribuir esta propriedade, muitas vezes, da pior forma possível para nós, o que significa que para nós, enquanto agente, o mundo não age como um agente auto-legislado pela racionalidade, a menos que o sofrimento que sofremos nos seja devido, isto é, justo.
Se o mundo agisse, se é que lhe podemos atribuir as propriedades de agir e de ser agente, para nós como um agente auto-legislado pela racionalidade, agiria necessariamente de acordo com os correlatos conceituais dos objectos no mundo que eventualmente domina (ventos, marés, órbitas...) e essa necessidade não se verifica.
ResponderEliminarA ser verdade o que é dito, segue-se que não existe - pelo menos actualmente - um agente racional a gerar os acontecimentos que observamos, e que nos afectam, no mundo, a menos que este seja de facto o melhor dos mundos possíveis, o que não parece ser o caso, já que nesse mundo não teriam acontecido acontecimentos tão maus como o terramoto de Lisboa ou o 11 de Setembro.
A ser um facto que não existe no presente um agente racional a gerar as acções do ou no mundo, não se segue que esse agente não tenha existido no passado nem que não exista uma certa ordem que atribuímos ao mundo, como a regularidade das marés ou das órbitas lunares.
Na verdade, a tentativa de pôr um agente irracional como origem do mundo, é a tentativa de pôr uma vontade bruta como origem do mundo, o que implica, tal como no caso contrário, um agente consciente.
Isto acontece porque é difícil para o nosso entendimento aceitar a existência eterna de algo que existe nem alheado nem não alheado de tudo, na medida em que seria um erro de categoria atribuir-lhe qualquer grau de consciência ou antropomorfizá-lo, e que é no entanto origem de tudo o mais que exista.
Essa dificuldade deve-se ao facto de a resposta à questão da sua existência ser que existe porque existe, o que não constitui explicação e, por isso, não satisfaz o entendimento, que encontra como causa de nós próprios algo porventura inferior a nós, tal como o mais belo dos diamantes é considerado inferior à mais feal vida humana.
E, na medida em que o mundo não pode ser compreendido à luz da razão pura, já que não se adequa necessariamente, isto é, sempre, a conceitos, e dada a necessidade de compreendê-lo, pela questão do seu e do nosso porquê, como compreendê-lo?
ResponderEliminarSe é verdade que a razão joga com os conceitos na sua sintaxe e o entendimento na sua semântica, isto é, que os relaciona com os objectos no mundo, podendo tomá-lo para si como objecto mental, não é menos verdade, dada a conclusão anterior, que ambas as capacidades são insuficientes para compreendê-lo e, logo, se é sequer possível a sua compreensão, é necessário que entre em jogo outra capacidade.
A imaginação permite-nos, através dos objectos armazenados na memória, criar mentalmente objectos, que eventualmente têm um correlato mundano, ou não. Nada mais faz.
A consciência, por sua vez, permite-nos aceder a tudo a que acedemos, isto é, é nada mais que acesso (o que já é muito e fundamento de toda a identidade ou discriminação).
Resta-nos dois candidatos: as sensações, também chamadas percepções, e os sentimentos ou emoções (embora os especialistas possam considerá-los diferentes, um amador blogger como eu considerá-los-á o mesmo, e nomeá-los-á "sentimentos").
Os primeiros permitem-nos ter um contacto directo com o mundo - o outro e o mesmo - através do corpo, contacto que é, ao contrário do que comummente julgamos das pedras, consciente, que é contacto para alguém. Dão-nos se não todos, pelo menos os primeiros objectos do entendimento que, como conceitos, são depois jogados pela razão nos momentos em que pensamos (se fosse assim tão simples...)
Os segundos, por sua vez, são estranhos e, quiçá, inabarcáveis pela razão, que os não compreende completamente, caso em que seriam racionais mas não sentimentais. São, se é verdade o que foi dito, nesse sentido análogos ao mundo, isto é, como ele incompreensíveis e, por isso, apresentam, se não identidade, semelhança com o mundo.
Porém, poderíamos contrapor que também as outras capacidades apresentam semelhanças com o mundo, já que imaginamos objectos semelhantes aos deste, e o próprio mundo é alheio à contradição, já que não conhecemos objectos mundanos contraditórios, como não conhecemos objectos ideais contraditórios, excepto as próprias contradições, incompreensíveis ao entendimento, diferentemente do mundo, incompreensível à razão.
Essa incompreensibilidade do mundo perante a razão é-a, no entanto, perante a vontade e a consciência, já que existe a vontade consciente de compreender o seu e nosso porquê, e a consciência dessa incompreensibilidade, consciência particular e típica que gera um sentimento particular e típico.
Ouçamo-lo:
http://www.youtube.com/watch?v=E2j-frfK-yg&feature=SeriesPlayList&p=D12951B688DB52DD&index=3
Se morresse agora, morria feliz, na esperança de ter dado algo bom ao mundo. Sensacionalismo blogueiro.
ResponderEliminaraqui o satanaz e a lucidez
ResponderEliminar:) Estou estupidamente contente, mas a impermanência é uma seca e amanhã é dia de trabalho.
ResponderEliminarbem, moço :) isto é que é uma festa! lançam-se foguetes, apanha-se as canas! a verdadeira Folia!!
ResponderEliminargrato pelas explosoes globalitárias peculiares !
continue a escrever,e não perca tempo a agradecer, ca estamos para o ler! bom dia e bom trabalho! eu vou aproveitar e dormitar...
não entres na igreja ó cavador,
ResponderEliminaré falsa a religião dessa canalha,
os santos são de pau não têm valor,
valor dá-se ao homem que trabalha.
quadra popular alentejana entoada pelo meu avô.
tanta filosofia, para uma conclusão subjectiva.
Bonita e crua quadra.
ResponderEliminarSatanás é o rebelde sentado nos ombros da ignorância.
ResponderEliminarSábia reflexão que guardo.
ResponderEliminarQuem és?
ResponderEliminarFilho do Sem Porquê, Vindo do Caos, Nada e Nonada, Ilusório Pai do Ser.
ResponderEliminarTraduzindo: uma vida humana, esta, com tudo o que é necessário e suficiente para o ser.
ResponderEliminarNão procurando os porquês e os para quês, sou esta vida humana. Sou esta desde que sou vida humana, independentemente de o ser ou não ser para mim.
Desde que nasço, chorando e aparentemente inconsciente de mim, sou esta vida humana, porque sou já um corpo particular, aquele que vem a ser este, que deixará de ser, ainda em vida e que finalmente se desagregará.
Tenho no momento presente consciência de que fui eu e não outro, que sou eu e não outro e que serei eu e não outro, apesar de já não o ser e de ainda não o ser.
Este que estupidamente te fala é alguém que veio a ser: é corpo e é mente humanos, com tudo o que isso implica:
Ossos, músculos, gordura, DNA, RNA, sangue, glóbulos brancos e vermelhos, oxigénio, fígado, rins, coração, pulmões, braços, pernas, cabeça, olhos, cabelos, unhas, cérebro..., consciência, percepção, memória, imaginação, sentimento, emoção, raciocínio...
Tudo neste mundo, no espaço e no tempo, até que morra, deixe de existir mentalmente, o meu corpo se desagrege e se funda com o solo, e de mim não reste senão uma memória, que desaparecerá, tendo eu então desaparecido por completo.
Pela mesma lógica, existo desde que fui concebido ou mesmo pensado em ser concebido. Sendo portanto também pensamento de outros - Grandes! - o que de resto é implicado pelo caso da memória em outros no futuro.
Antes e depois dos acontecimentos referidos não fui nem serei, não existia nem existirei.
Portanto, alguém que começa e acaba em outros, mas com uma identidade própria, que adquire ao nascer e que desadquire ao morrer ou ao desagregar-se completamente, sendo portanto isto, que é para mim, e aquilo que é para o solo.
ResponderEliminar"Ai Deus mo deu, ai Deus mo levou, ai Deus mo deu, ai Deus mo levou" José Afonso
"I know I was born and I know that I'll die, but he in between is mine, I am mine" Pearl Jam
E por isso sou algo que é essencial, com características essenciais que o individuam, distinguem dos restantes seres não humanos, e acidental, com uma história de vida, que o individua dos restantes seres humanos.
ResponderEliminarA menos que tenha de ter todas as propriedades que tenho, o que é sempre uma hipótese, caso em que, como estupidamente sabes, nenhuma delas seria acidental, o que não implicaria que tudo fosse essencial, mas apenas necessário.