sexta-feira, 17 de abril de 2009

Saudade

Eis-me de volta: olá a todos. Agradeço desde já a Paulo Borges por me dar a (segunda) oportunidade para escrever neste espaço. Pensei, para este primeiro post, alterar uma letra dos Xutos & Pontapés, de "só sei que amar é querer-me a mim" para "só sei que amar é querer-te a ti". Feito. Agora, interrogo-me catarticamente sobre o que será a saudade, tão falada neste espaço. Pergunto, então: o que é a saudade? E será um sentimento exclusivamente português? Estamos já a avançar que é um sentimento e a resposta à segunda pergunta é: não, a saudade não é um sentimento exclusivamente português. Penso que sente saudade todo aquele que ama, no presente, e que se encontra apartado do "objecto" amado. Posso estar errado, mas julgo que é quase como o ciúme, sentimento possessivo, distinta da melancolia, sentimento difuso que nos aproxima da apatia. E como distingui-la da nostalgia? Não é a nostalgia o rememorar de momentos passados? E, quando nostálgicos, dizemos - ah... saudade! Li, algures, que a saudade é uma mistura de memória e desejo, o que é bastante óbvio - memória do "objecto" amado, desejo de o ter de novo. Penso, sobretudo, que sente saudade quem ama e que essa saudade é a vontade de ter presente o "objecto" ausente que tanto ama. Talvez fosse interessante distinguir entre estes três sentimentos: saudade, nostalgia e melancolia.

9 comentários:

  1. penso que a saudade é essencialmente falta. A questão é não querermos voltar ao que nos falta, a incompletude é constitutiva. A plenitude seria a nossa demissão da condição humana. Somos a saudade.

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  2. Também penso que a saudade é essencialmente falta e amor - falta de algo ou alguém que se ama. "Somos a saudade", somos a falta - "não queremos voltar ao que nos falta": mas somos saudosos... pensamos no "objecto" amado... isso não é um tanto ou quanto sofredor?, ou queremos demitir-nos da condição humana?

    Boa reflexão.

    De qualquer das formas, ia substituir o post por outro mas, entretanto, o computador bloqueou.

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  3. Vivemos na perda...
    Vivemos a perda...

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  4. Porque não nos havíamos de demitir ou libertar da condição humana se esta é uma condição e porventura o que há de mais humano é aspirar ao incondicionado?

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  5. Mas enquanto somos vivos somos condicionados: pela fome, pela dor...

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  6. Enquanto somos vivos, não; enquanto somos ignorantes.

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  7. Olá Nuno,

    gosto dos regressos. Regressar é também uma ideia bonita. Tem uma generosidade que não sei de onde vem. Mas que o envolva, o inspire para os textos e para o diálogo...

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  8. Nuno, mas não será mais verdadeiro, porque irónico, dizer "só sei que amar é querer-me a mim"!?... Não é isto uma denúncia do nosso falso amor comum, que na verdade é muitas vezes apego egocêntrico?

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  9. Nesse sentido de denúncia, sim; mas não parece que seja assim na canção. Parece que é mais o amor como força locomotora - "dá-me o poder de inventar, de conseguir, atravessar um grande rio...".

    Olá Isabel. Obrigado pelas palavras.

    É verdade que muitas vezes há apego egocêntrico, mas penso que tem de haver uma viragem para dentro para haver reflexão. Por exemplo, na ética. Penso que a verdadeira ética é uma reflexão sobre nós mesmos, feita por nós. Daí pensar ter de haver viragem para o ego. E lá dentro encontramos memórias, a imaginação, desejos, atitudes, e assim por diante. Digo "ego" apenas neste sentido, de mente, homem interior, chamemos-lhe o que quisermos.

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