Subia, algo subia, ali, do chão,
quieto, no caule calmo, algo subia,
até que se fez flama em floração
clara e calou sua harmonia.
Floresceu, sem cessar, todo um verão
na árvore obstinada, noite e dia,
e se soube futura doação
diante do espaço que o acolhia.
E quando, enfim, se arredondou, oval,
na plenitude de sua alegria,
dentro da mesma casca que o encobria
volveu ao centro original.
Rilke
(Tradução: Augusto de Campos)
Não está na hora de fechar este blogue, que já deu o que tinha a dar?
ResponderEliminarcamisas a descamisados?
ResponderEliminarEstes anónimos são a minoria ruidosa. Também eles assim volvam ao "centro original"!
ResponderEliminarJá hoje,ao madrugar da noite, de pálpebra repuxada pela vigília obrigada, me caíra no colo este fruto delicado do amado Rilke, Saudades amiga.
ResponderEliminarMas não há palavras, na noite, que falem com amável justeza do que é do dia que se arredonda "oval, na plenitude de sua alegria".
Na verdade, "subia, algo subia" então, por aqui, " no caule" de mim, sim, mas não calmo, como esta voz enorme em todo o afago de dizer e silenciar, que derrama lonjuras que nos são pele e peito de sermos algo que nem saberemos jamais, senão talvez nesse segredo sagrado que palavra alguma nomeia, diz ou fala em nós.
Foi quando vi - ai de mim, que nada vejo, na verdade, e muito menos na verdade vejo -, foi então que se me retirou (alguém retirou) o véu imperceptível que envolve em saudir o tecido que recobre (sempre de um toque que cheira ao noval da terra ao beijar da aurora) a boca e a alma e o voo que lê no transido presente das coisas a dádiva de as beijarmos com o nosso sentido de se nos rasgar o olhar sempre, em como eterno espanto e deleite.
"Floresceu, sem cessar", por aqui, certa Amiga nossa, como "um verão na árvore" em que recostamos a boca para calarmos em nós o inútil e mesmo o que, como amor ou saudade, tudo envolve de si como se desde sempre, em ambos, saudir e amar, não pudesse deixar de morar o que em nós não tem onde recostar a cabeça e o resto, que nos não divida.
E não teve, a Donis, repouso tal. Jorrou-lhe então aquilo que, em psicheia de si, por aqui me pediu, uma vez mais, deixasse em ausência de sua boca sem rosto.
Assim, insone também deste ausir tamanho de tal presença no enorme do logos em seu imparável fluxo, rega de sangue dos dias de alguém que os sente e vive e vê como quem pela primeira vez, que fosse também a derradeira, os visse.
Assim, também, não sei que mais enorme seja: se as palavras em fogo alvo e seu eviterno silentarem-se, se a boca em flor de toda a mais saudada brancura que aqui se calou, falando-nos ainda assim para sempre o que ninguém soube dizer.
Um abraço a si, de Saudades, Amiga como só poeta pode e sabe ser, e um aceno (o de sempre) a quem sabemos... que não tem tamanho: tão-só olhar de sorrir e chorar.
Agora... agora vou sorrir para o dia, e enviar sua alegria a quem o queira...
Amigo Lapdrey,
ResponderEliminarFaz bem em enviar a alegria do seu dia a quem a possa sentir e viver que a nós não, que o coração se nos leva a Saudade para o cimo das folhas do plátano.
E a luz branca, a estrada de Santiago não pode fechar-se ao sonho que nos vamos sendo. Quantas vezes em alegre e suave "engano" e descuido; outras sem nenhum lugar onde repouse a cabeça, o nosso olhar magoado.
Nisso, haverá sempre um jardim...um banco de pedra, uma pedra de sal, uma barca de viajeiros longes e brisas, onde nos encontraremos, com os olhos menos molhados do que agora estão.
O que dormi,acordei-o tarde:
O coração num casulo
antes de ser borboleta
Um escuro novelo adormeceu
no coração e uma voz de leitora
cantava no meu peito uma
ópera imaginada com personagens
de uma irrealidade presente
De uma ausência dorida
De uma fala como uma espada
cravada numa rocha que há-de ser
folha nova...
A voz de Iabel soprada nas asas
do dia, diz-nos que o Sol é também jardineiro e flor de ser
Não para mim, que me esqueci
do canto na janela da alma
Onde uma borboleta me poisa sempre na mão e volta todo o dia
para a casa das gaivotas.
Ai, Lapdrey, como me cobre o olhar essa película fina, que se rompe em lágrima.
Dou-lhe a mão na mão da minha amiga.
E eu, ao ler-vos, acredito nessa magia. Sim. Que lhe chame magia, esse pulsar vibrátil por onde aflora toda a vossa poesia.
ResponderEliminarPor favor, aceitem-na.
Grato, pela vossa existência!
PS - Peço desculpa, mas não tive tempo de ler o poema de Rilke. Lê-lo-ei agora. Entretanto.
“Minoria ruidosa”? Minoria ruidosa é quem continua a escrever aqui. Lembram-se como este blogue era há um ano atrás? Toda a gente que tinha alguma coisa de interessante para debater saiu por conta própria, ou foi enxotada deste espaço.
ResponderEliminardeves ser é parvo
ResponderEliminarBoa lembrança, esta (falo da mensagem original). E a imagem vale por si, também...
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