quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Psycheia | borboleta de si


Jacek Yerka, "Pearl Harbor"



Psycheia | borboleta de si

A Isabel Santiago


Qual corola em flor viva de si, abrindo-se
em carne nas pétalas de seu marfir, pelos lábios
da origem deste à luz em ler, como quem a desse
à treva que te quase deste ainda, agora que ausente.

Meus olhos, sem sequer pálpebras há tanto,
da saudade tanta, de não saudir, nem já os visita
a dor de doer, que em mim já não cabe –
ao olhar, tão-só aflora a fonte doce do lacrimescer saudoso.

Na lonjura, que de ti vai até ao imo, há uma lâmina
de um só gume (cortou-me de mim):
de longe tomou-te, Isabel, o que para longe te voara.

No vazio de sufoco que é tua não visita, borboleta de si,
a presença que te me furta te me dá mais do que te dei –
dar-te-ei (hei-de aprendê-lo) o que deixei que levasses.

Donis de Frol Guilhade

12 comentários:

  1. Àqueles - “saudosistas” que se não sabem tais (eu também não) - , do que este blogue haja sido há um ano atrás, lembro (pedindo, para tanto, licença a Paulo Borges) o primeiro, o segundo e o terceiro posts aqui publicados:



    “PROVOCAÇÕES”

    "O ‘eu’ constitui o privilégio apenas daqueles que não vão até ao fim de si mesmos" - Emil Cioran, A Tentação de Existir

    publicada por Paulo Borges às 0:12 a 16/Dez/2007



    “INQUIETAÇÕES”

    "Posso imaginar-me tudo, porque não sou nada. Se fosse alguma coisa, não poderia imaginar" - Bernardo Soares, Livro do Desassossego


    "Para além me volto, para a sacra, a indizível, a misteriosa noite. Longínquo, o mundo jaz - decaído para uma funda cripta - e ermo e solitário é o seu lugar. Nas cordas do peito sopra uma profunda nostalgia. Em gotas de orvalho me quero deixar afundar e misturar-me com a cinza" - Novalis, Os Hinos à Noite



    Deve-se ir ainda além de Deus

    Onde é a minha morada ? Onde eu e tu não estamos.
    Onde é o meu fim último, para o qual devo ir ?
    Aí onde nenhum se encontra. Para onde irei então ?
    Devo ir ainda além de Deus, para um deserto.

    - Angelus Silesius, Peregrino Querubínico, I, 7.
    publicada por Paulo Borges às 1:10 a 16/Dez/2007


    “DESAFORISMOS”
    É o medo que te faz existir. És feito de demissão. E todavia aí mesmo ainda trais o esplendor que a cada instante desertas.
    publicada por Paulo Borges às 1:25 a 16/Dez/2007

    ............

    Amigos!
    Vai (ao mote de Agostinho da Silva) um baralhar e dar de novo?

    (Não haveria, quanto a mim, melhor lugar para lembrar tais e tão altas sementes, na ausente presença de Isabel Santiago e de Paulo Borges: uma, por imperativo da liberdade de ser livre, e de ser livre de ser; o outro, por imperativos da finistérrica liberdade de aceitar ser, na nobreza de ser, servidor do ensinar a aprender, a quem queira aprender a tudo des-aprender, para Nada saber...)

    A todos abraço!

    ResponderEliminar
  2. Mravilhoso blog.

    Tentei estudar o Leonardo Coimbra de A alegria, a dor e a graça e não houve interesse na Universidade de São Paulo, pois só se interessam pelo pensamento francês.

    A EDUEL, Editora da Universidade Estadual de Londrina lança a muitos anos livros sobre as filosofias de Delfim Santos, Antonio Quadros, Leonardo Coimbra e outros da mesma estirpe.
    Porque não lançar lá a Nova Águia e infelizmente lançar na É realizações, berço do neo-fascismo brasileiro?
    É uma pena nunca houve grande interesse no Brasil, pela filosofia de Leonardo Coimbra e discípulos. Mas há nichos como a EDUEL. Eu estudo há seis anos Teixeira Rego, Leonardo Coimbra, Álvaro Ribeiro, Antonio Quadros, José Marinho, Dalila Pereira da Costa, Aarão de Lacerda, comprei praticamente todos os ensaios disponíveis sobre a Obra Leonardiana, Pinharanda Gomes e outros magos do Quinto Império como Francisco Palma Dias, Antonio Telmo, Lima de Freitas, Victor Manuel Adrião, Yvette Kace Centeno, Luis Felipe B. Teixeira, alguns livros sobre a Quinta da Regaleira, Mário Saa, José Manuel Annes, leio Teixeira de Pascoaes e textos Saudosistas.
    Gasto o pouco dinheiro que tenho no sacerdócio de estudar este pensamento místico. O interesse por estes autores no Brasil sempre foi difuso e pouco mas há pessoas que os estudam a sério aqui apesar de não haver interesse acadêmico infelizmente no Brasil.
    E antes que ocorram enganos Vicente Ferreira da Silva segundo sua esposa e poeta Dora era comunista e nada tinha a ver com este neo-fascismo brasileiro, ouvido da própria Dora nas sessões do Grupo Cavalo Azul por mim. Quanto a Dora Ferreira da Silva politicamente de sua própria boca declarou ser anarquista.
    Portanto não "pertence" aos gaiatos da è realizações como eles infelizmente pensam.
    Comprei vosso livro sobre Pacoaes em julho/2008 em Portugal e tenho pelo Sr. grande admiração e pelo que conheço de vosso pensamento sei que é profundamente sério e místico e tenho todo o respeiro assim como aos neo-saudosistas maravilhosos Manuel Candido Pimentel e todos os estudiosos da Saudade.

    com admiração,
    Mauro Jorge Santos

    ResponderEliminar
  3. O post acima é direcionado a Paulo A. E. Borges

    Grato
    Mauro

    ResponderEliminar
  4. Referia-me a um questionamento autêntico, à ousadia intelectual, a um debate sincero , profundo e corajoso, não a meros jogos de palavras vazios e a elogios a um “mestre” que rondam o servilismo.

    ResponderEliminar
  5. Ok, Anónimo!

    Que sugere?
    Questionamento autêntico? Tem? Venha ele.
    Ousadia intelectual? Tem? Venha ela.
    O mesmo em relação a um debate "sincero, profundo e corajoso"...

    Quanto aos "meros jogos de palavras vazios": mania minha, talvez!
    Cada um tem a sua!
    Obrigado por ter reparado!
    Bom proveito!
    Ou indigestão, conforme escolha.

    Em relação a "elogios a um 'mestre' que rondam o servilismo".
    Sugere que se não elogie quem é credor disso?
    Onde ficará depois aquilo de "sincero", que sugere haja no debate, para além de "profundo" e "corajoso"

    Isto de que estamos falando é treta em pó, meu caro, se for precisamente só manifestação de intenções (suas): avaliar e julgar os outros é de borla!

    Quando mostrar aqui ao que vem e sobretudo o que vale, então cada um dos que aqui estão (presumivelmente com déficit de tudo isso de que falou) fará o que entender dever fazer e não seguir um simples "manual de instruções", que é o que está a querer sugerir ou impor: delimitar o que seja ou não seja "cabível" e aceitável aqui - aquilo precisamente que o mentor deste blogue deve estar cansado de dizer e fazer compreender.

    Eu, pela minha parte, e não sou tão antigo como isso por aqui, eu, já quase estou careca de escutar Paulo Borges repetir isso, pacientemente.

    Fazer como sugere, meu caro, seria fazer o mesmo que certas capelinhas e capelanias de (soi-disant) "filosofia portuguesa" (que nada sabem fazer senão papaguear o mesmo de mesmíssimas diferentes maneiras que o fazem há um ror de anos a fio e desfio).
    Essas, sim, são "olha-umbigo" crónico, dogmático e caquético e sei eu lá onde e mais o quê... Eles lá devem adorar esse seu discurso: quanto a respeitá-lo, isso aí são "outros quinhentos"...

    Um espaço de liberdade é isso mesmo, liberdade no espaço, plantado no tempo, e com desejável âncora no não-tempo, no destempo e até no destempero, quando tudo isto seja o que é ser e ser-se livre: tão-só respeitar-se a "Si mesmo", o que é o mesmo que dizer respeitar-se no mais elevado de si.

    Não me venha, meu amigo, é com "béu béu" e "re beu béu" de não saber o que seja isso de "elevado": todo o ser humano sabe o que seja - apenas uns escolhem escutá-lo, outros não o escutar, e outros ainda ou fazer de conta que não ouvem, ou ouvirem de acordo com as conveniências ou asinconveniências.

    A cada um de escolher o que em si mesmo tem em melhor semente, raiz e cepa.

    Apenas assim, alguma coisa poderá dar em boa folha, bela flor e fruto de sumarento e de bom sabor.

    Abraço.

    P.S. Aceitarei falar com base obviamente nos posts de Paulo Borges, que aqui citei, mas não perderei de vista, nem um milímetro, nem um segundo, que este post é o que é, e tem o texto e teor que tem.

    A ele reporto sempre o sentido e sentir de aqui estar, nestes comentários.

    ResponderEliminar
  6. Amigo Lapdrey,

    A beleza da imagem,a ogiva da ponte e da cidade sobre ela construída; a presença do caracol, toda essa leitura me é familiar como se de um conhecimento antigo e de uma memória ancestral me chegasse à lembrança. Chego a ter medo dessa memória que não sei nomear.

    Trocadas rosas e lírios e tomadas pela mão, dançam em roda, uma canção louvor em universo e em verso leèm uma página que ainda não virou a face à obscura luz...
    A flor viva nos nasce em aurora de vozes...

    A ponte de névoa nos reúne a fronte
    onde Isabel sempre bebe e nos penteia, para nos purificar a alma, que é coisa de muito raro dom de ler e nessa leitura re-nascer, como se nunca tivesse existido antes. Disso estamos sempre a tempo e para além dele o transcender e a tudo o que nos diminui ou acrescenta... Menos do que voar, não queremos!Somos criaturas do Ar e também do Mar e da Terra e do Fogo e de Nenhum Lugar de onde ninguém entra nem sai, e se renova, é para mudar de pele, segredos da Serpente...

    Um abraço para si, Laprey, uma vénia de levantar um pouco a saia e curvar ligeiramente a cabeça, mas de olhos fixos em Donis, o trovador "despenteado" (risos)...
    E a Serpente a serpentinar, em Fevereiro, de novo...

    Cíclico, ciclos e anéis de pele renovada pela memória futura que não cessa... Tudo acontece já acontecido...

    Ámen!

    Um abraço a todos!

    ResponderEliminar
  7. Um blog é um sítio onde se perde o tempo que não há.

    ResponderEliminar
  8. Caro Mauro Jorge, grato pelo apreço que manifesta em relação ao blogue, pergunto se não quer nele colaborar. Se me enviar o seu mail, terei todo o gosto em enviar-lhe um convite.
    Quanto aos lançamentos da Nova Águia, têm sido feitos onde nos convidam para tal, o que já tem acontecido nos lugares mais díspares. Desconhecia essa leitura da É-Realizações, mas a Nova Águia é o que é, independentemente dos lugares onde é lançada.

    Saudações

    ResponderEliminar
  9. Afinal tenho pouco para dizer, quase nada: um grande soneto e, mais uma vez, a única forma aceitável, neste momento, de escrever sonetos. Meu Deus, será que reparámos nisso?

    ResponderEliminar
  10. Francisco, saúdo - num abraço cercano que a distância não consegue impedir - o sol a pique das tuas (inesperadas?) palavras.

    O teu olhar, suidado amigo, mais belos "sonetos" lê e me escreve, com o espanto pasmado que os teus passos serenamente sempre atendem, e aqui nos deixam, em brasa...

    Abraço no mesmo de sempre!

    (com tua visita, até o pobre soneto sorriu...)

    ResponderEliminar
  11. Prezado Sr. Prof. Paulo A. E. Borges,

    Fico honrado com o convite e aceito.
    Por alguns dias de diferença em julho/2008 perdi o vosso lançamento na Quinta da Regaleira.
    Agradeço vosso convite meu e-mail é:
    arseniitarkovskii@gmail.com

    Tenho estudos sobre a Mística em Leonardo Coimbra em "A alegria, a dor e a Graça e Adoração que estão praticamente finalizados, mesmo com a total falta de interesse do Departamento de Filosofia em Orientar um Projeto sobre a filosofia Leonardiana, mas que gostaria muito de concluir com cuidado, para lhe enviar.
    Foram Projetos em que 99% fiz e li por minha conta a Bibliografia sem um razoável interesse ou retorno do Orientador, o que me levou a uma grande frustração acadêmica
    Foram infelizmente 10 meses de trabalho, oito horas por dia, quando eu ouvia os Brandeburgueses e me deliciava com Leonardo Coimbra, Leonardo se percebeu bem três estações da vida pelas quais passamos.
    A doçura e a naturalidade, ou sobrenaturalidade com quem Leonardo escreveu sua obra são únicas.
    Leonardo leu os místicos ortodoxos russos, leu Bergson e se tivesse vivido mais um pouco conheceríamos sua leitura de Kierkegaard. É tremendo o que ele alcançou.

    em admiração extensiva
    a toda linhagem Saudosista
    Mauro Jorge Santos

    ResponderEliminar