sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

O liquaz, o volátil... e o vazio...

Num ensaio intitulado "O homem e as coisas", Sartre, analisando a poesia de Francis Ponge, a propósito da sua obra "Parti pris des choses" (in "Situações I", Publicações Europa América, Lisboa, 1968, pág. pág. 256) cita um texto notável no qual o poeta escreve sobre a água. Diz ele:

"Líquido é por definição o que prefere obedecer ao peso para manter a forma, o que recusa qualquer forma para obedecer ao peso".

Atrevo-me a pensar que, se fizer uma aplicação analógica deste texto ao elemento ar, ficaria encantado em transformar-me nele. Então eu diria (se o ar falasse, claro):

"Volátil é por definição o que prefere desobedecer ao peso para manter a ausência de forma, o que recusa qualquer forma para obedecer à leveza".

Mas, vendo melhor, talvez eu prefira mesmo é fazê-lo a um nível, simultaneamente, mais denso e mais incorpóreo. Um quase vazio...

Quando o vivenciar, em vez de aqui vir escrever o que disso possa ser dito, calar-me-ei: melhor será, e melhor o dirá.

51 comentários:

  1. "se o ar falasse, claro"

    Se não é pelo ar que o homem, pelo que é?
    (Pelo mesmo ar que é a sua essência: que o mantém vivo a todo o momento.)

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  2. os elementos densos têm uma natureza subtil que corresponde a qualidades da própria mente

    por isso o que se passa na mente expressa-se na harmonia ou desordem dos elementos ditos exteriores

    criamos o mundo, bem ou mal, a cada pensamento

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  3. e será parcialmente o (nosso) pensamento que cria o mundo, ou o mundo que a si mesmo se cria, criando-se em matéria e pensamento?

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  4. só o que é infinito se pode auto-criar e isso não se cria

    tudo o que se cria são percepções limitadas disso, pensamentos-mundos

    tudo o que se cria é criação e por isso não existe

    apenas devém

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  5. é possível que o mundo se crie (matéria) infinitamente finito, e em pensamento finitamente infinito

    em termos reais a percepção não é limitada, não tem contorno algum a limitá-la...

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  6. (ainda neste contexto, é o corpo que é limitado porque é ele que o pode ser: visto que se não pensa. e ao não pensar-se é infinito.)

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  7. mundo é sempre uma de-limitação do ilimitado pelas percepções que se imaginam contornos e derivam seres-coisas

    há muitos mundos-percepções

    chamas talvez mundo ao todo, que não há

    o corpo grosseiro não se pensa: é pensado/criado pelo subtil corpo de luz

    és muito naturalista: será natural?

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  8. Não sei, mas pensar se o serei ou não certamente não o é (natural). :)

    Parece-me que vê o mundo sempre de acordo com a percepção humana, o que me parece legítimo, pois só essa nos é dada. Mas então, seria necessário colocarmo-nos na percepção humana primordial. Aquela em que corpo e espírito estão perfeitamente fundidos. Aquela em que o homem É, de novo, plenamente, Natureza. Em que há percepção, mas não percepção da percepção... em que palavra não é senão matéria, em que essência e substância regressam ao que são. Ao Um, Sol. Si-lêncio...

    E aí, aí, a percepção não existe (como sempre acontece) ao ser o que percepciona. Não há percepção fora do que se percepciona.
    O que há primeiro, a percepção ou o que se percepciona? Primeiro, nada, depois, tudo.

    Sim, sou naturalista, sou(-me) o Universo, e o Universo é Tudo.

    Com todo o res-peito.

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  9. passas ao lado

    pois é ao primordial que aponto

    onde não há homem nem percepção de algo por alguém

    rep-ousa

    d-eixa-te

    adeus

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  10. "onde não há homem nem percepção de algo por alguém"

    Mas faz parte da minha natureza estar onde há E não há.

    Sendo assim, vou indo para lá... onde se é e não é.

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  11. "Idiota" (idiota?),

    O que te sobra em jactância, falta-te (ao que parece) em humildade:
    nisso te trais, afinal!

    "Vai"-se à sapiência pela secura, sim, mas a própria, não a relativa ao outro.
    Ela por isso "vai" ao húmido oásis de nenhures, em toda a parte acessível - ali onde se abre a porta da cela, em que porventura nos enclausuremos, imaginando até ser-se o único que lá não esteja. Pobre coisa...

    Só a humidade que a cela transmite à pele das entranhas evita os piores males e seus ilusivos danos.

    (Ademais, é tão fácil desmontar o teu "descoisismo" intelectual...)

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  12. Todos espelhos uns dos outros. Todos iguais na mesma va(n)idade.

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  13. Sem dúvida!
    Havia dúvida?

    Apenas não o terá reparado quem em tudo repare, menos em si... Não será?

    Como diz Paracelso, o Bombastus: "Não são os olhos que fazem ver ao homem, mas ao contrário o homem que faz com que os olhos vejam".

    Obviamente, eles vêem o que querem, de acordo com o ser de seu ver, e o ver do que seja seu ser.

    Quanto ao espelho e a espelhar: no mesmo que diz, caro Anónimo, está a espelhar aquilo em que, espelhada e especuladamente, repara...

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  14. Aliás, nunca imaginei que esta água de Ponge desse tanto leite...

    (Muito deve ele estar a rir-se...)

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  15. Já alguém escreveu...

    «Ah, pobre vaidade de carne e osso chamada homem» Álvaro de Campos

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  16. Partindo então do homem-indivíduo:

    «Há três realidades sociais — o indivíduo, a Nação, a Humanidade. Tudo mais é factício.
    São ficções a Família, a Religião, a Classe. É ficção o Estado. É ficção a Civilização.
    O indivíduo, a Nação, a Humanidade são realidades porque são perfeitamente definidos. Têm contorno e forma. O indivíduo é a realidade suprema porque tem um contorno material e mental — é um corpo vivo e uma alma viva.
    A Nação é também uma realidade, pois a definem o território, ou o idioma, ou a continuidade histórica — um desses elementos, ou todos. O contorno da nação é contudo mais esbatido, mais contingente, quer geograficamente, porque nem sempre as fronteiras são as que deveriam ser; quer linguisticamente, porque largas distâncias no espaço separam países de igual idioma e que naturalmente deveriam formar uma só nação; quer historicamente, porque, por uma parte, critérios diferentes do passado nacional quebram, ou tendem para o quebrar, o vasículo nacional, e, por outra, a continuidade histórica opera diferentemente sobre camadas da população, diferentes por índole, costumes ou cultura.
    A Humanidade é outra realidade social, tão forte como o indivíduo, mais forte ainda que a Nação, porque mais definida do que ela. O indivíduo é, no fundo, um conceito biológico; a Humanidade é, no fundo, um conceito zoológico — nem mais nem menos do que a espécie animal, formada de todos os indivíduos de forma humana. Uma e outra são realidades com raiz. A Nação, sendo uma realidade social, não o é material: é mais um tronco que uma raiz. O Indivíduo e a Humanidade são lugares, a Nação o caminho entre eles. É através da fraternidade patriótica, fácil de sentir a quem não seja degenerado, que gradualmente nos sublimamos, ou sublimaremos, até à fraternidade com todos os homens.
    Segue de aqui que, quanto mais intensamente formos patriotas — desde que saibamos ser patriotas —, mais intensamente nos estaremos preparando, e connosco aos que estão connosco, para um conseguimento humano futuro, que, nem que Deus o faça impossível, deveremos deixar de ter por desejável. A Nação é a escola presente para a super-Nação futura. Cumpre, porém, não esquecer que estamos ainda, e durante séculos estaremos, na escola e só na escola.
    Ser intensamente patriota é três coisas. É, primeiro, valorizar em nós o indivíduo que somos, e fazer o possível por que se valorizem os nossos compatriotas, para que assim a Nação, que é a suma viva dos indivíduos que a compõem, e não o amontoado de pedras e areia que compõem o seu território, ou a colecção de palavras separadas ou ligadas de que se forma o seu léxico ou a sua gramática — possa orgulhar-se de nós, que, porque ela nos criou, somos seus filhos, e seus pais, porque a vamos criando.»
    Fernando Pessoa, Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação (1935)

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  17. O Pessoa, filósofo, só na poesia...

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  18. Há quem consiga ver fronteiras onde não as há.

    Há quem consiga ver a nova terra que haverá.

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  19. Vê o que haverá o cego para o que há.

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  20. Certamente. É o preço dos Amantes. O de só poderem Ver o que É.

    De se não conseguirem separar de Si, para "verem" o que nunca pode estar.

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  21. Por isso o amor é prisão, dourada e dura.

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  22. ... a única prisão liberta-do(u)ra.

    E só unindo-se a prisão à liberdade se É livre:

    Que há a Vida.

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  23. É como nós, aqui, presos neste canto de/o fim do mundo (canto-geográfico e canto-voz; fim do velho mundo-espaço e do velho mundo-tempo), somos nós, contudo, os mais predispostos, os pioneiros, a ver a luz do Princípio, do novo mundo, a viver a li-berdade dessa luz...

    a fundar Lis-boa, a cidade do Homem-Deus.

    [É Poesia, meu Amigo, só na Poesia vive o meu canto - é o Fado de nascer com a Alma deste canto do mundo: do Canto do Mu-n-do.
    Canto loucamente lúcido, é claro.
    Cega, Surda e Muda. E, no entanto, correndo como água mole sobre a pedra dura. A pedra que a é (água), também.
    Até que...
    A Águ(i)a Impe(d)rial se erga... mas isto já é do outro - do Outro, Nós. Gonçalo Annes Bandarra.)

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  24. Digamos que não é algo como "Raça! não ter trazido passado roubado na algibeira" é mais...

    Raça! Não ter trazido o Futuro já comigo!
    E afinal, já... por já, do modo como já o trouxemos... é que, aqui assim se está - ou nem tanto.

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  25. Já que és louca, lê mas é o Raul Leal! O Pessoa ao pé dele é um menino...

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  26. Lá fora chove. Os parvos dentro de casa molham-se.

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  27. Seria interessante analisar, à luz (por exemplo) dos princípios matemáticos dos sistemas adaptativos complexos e da teoria do caos, os pontos onde, no encadeamento sequencial dos comentários e contra-comentários neste e noutros blogs, os padrões "disparam" para o imprevisível evidentemente não previsível,... mas de prever...

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  28. Queres fazer ciência da loucura? Coisa incerta, nada segura.

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  29. Uma certa Inquisição (que ainda as há, se bem que mais subtis) dizia exactamente o mesmo, caro "Umbroso"!

    Células novas, ideias velhas, é?

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  30. Idiota! Como te revelas! Duro que nem uma porta!

    (que prisão essa em que te fechas e queres fechar os outros, a do conceito...)

    Sente, homem, sente! Não há sangue no teu corpo?

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  31. Uma não-resposta não tem resposta (se bem que isto o seja pela metade!)

    Demais, é "sentindo"(bom labirinto!) que se concebe um monte de sentimentos escancarados para o "fruste"(um monte de nada, no vazio de tudo!) - confundes sentir com emover!!


    E que tem a ciência da loucura?
    Preferes a loucura da ciência?

    P.S.
    By the way!
    "Idiota"! Não entendeste mesmo patavina do que escreveu a Anita, não foi?
    Tem ideia, homem, faz uma ideia!

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  32. Da sã ciência louca:

    «Obras inéditas do Padre António Vieira - Tomo I. (...) 1856

    p. 117, diz Solutivo:

    Allá verrá de Lixbona
    Una illustre persona,
    Cuja fama já resona
    Por toda a parte e lado
    En el mundo dará gram brado.»

    «S. Dâmaso Português
    (...)
    1.
    Depois de se ter passado
    Os noventa mais vereis
    Vir aquele desejado
    Que há-de fundar novas leis.

    2.
    Verá o Leão fatal
    Que de Portugal lhe vem
    O que lhe há-de fazer mal,
    Aquele escondido Rei.

    3.
    Aquela manhã chuvosa
    Com névoa muito escura
    Verá de Deus a figura
    Fazer Lisboa ditosa.

    4.
    Névoa já é levantada
    Lá junto do meio-dia;
    Haveis de a ver descoberta
    A oitava maravilha.»

    «(Profecias do monge Rolando — Século XIV, descobertas em 1600 num MS. antigo)

    Povos da Lusitânia, conservai altamente na memória o que os tardios fados dos Deuses vos têm destinado. Quando virdes cunhada em ouro a imagem do Príncipe, isto vos ensina que o Rei, que há-de vir, já não está longe. Quando virdes cortado o Comércio com o Sumo Pontífice e Sagrada Roma, sabei que ele já não poderá estar por muito tempo encoberto. Apenas isto vires, alegra-te ó Lusitânia, e tem por certa a esperança daquela vinda de que se duvidava.
    Apossar-te-ás do Império; dominarás em todo o Orbe e os muros de Jerusalém (?) cairão debaixo dos teus ceptros.»

    «A profecia do monge Napolitano

    Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações, porque há-de vir sem falência tempo em que a tua luz se apagará; ver-te-ás debaixo dos pés dos outros, que te quebrarão, como se fosses um vaso de barro, (e tirarão) tuas riquezas e tesouros; então serás tributária, gemerás, e de todos que te amavam nenhum te consolará. A tua honra será mudada, a tua gente destruída, as tuas cidades tomadas pelos infiéis. Mas então o Pai das misericórdias te porá os olhos, verá o teu opróbrio, e do meio de ti fará surgir o salvador, que te libertará da escravidão alheia. Depois do que mandar-te-á outro, que se reputava morto, e este, que te havia posto em miséria, te restituirá ao teu antigo esplendor, exaltará o teu Império, e dilatará a fé de Cristo, destruirá a casa de Mahomet; então o seu império será eterno, e todo o Povo dirá: Alegra-te ó Lusitânia porque Deus te fez a primeira das Províncias e Dominadora das Nações.»
    Fernando Pessoa, Sobre Portugal

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  33. "onde não há homem nem percepção de algo por alguém"

    Idiota, falas de cor. Não vejo nem sinto Vida nessas palavras, só pele e ossos, aridez de nada, triste ilusão convencida de contente. Não estás morto (quem te dera não existires) mas tens muito de cadáver... Se pelo menos fosses capaz de te ver ao espelho...

    Décadas de pó e terra acumulados encobrem-te a Percepção. A que percepções de referes? Não às tuas, com certeza, pois mostras claramente que já nem sabes o que é isso de "perceber".

    Lapdrey tem toda a razão. Ciência da loucura? Mas para nós és tão previsível como as marés, basta conhecer-te um pouco. Qualquer psicólogo te percebe a brincar, há uma personalidade bem definida e, meu Deus, sistemática, quase até mecânica. «Descoisismo intelectual» de um simples e pobre cérebro, limitado e iludido: é esse o "primordial" para que apontas...

    Também passas ao lado, meu querido, e nós estamos a ver-te, o rei vai nu (vamos todos)...

    Idiota, não há ideias sem sangue. Nada do que dizes é teu, pareces ter esquecido de como se «fazem ideias». Tudo emprestado, tudo emprestado, nada vivido, nada "teu". Pobre papagaio, não percebeste patavina...

    Quem te ensinou essa estranha forma de suicídio?

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  34. Passar a limpo a Matéria
    Repor no seu lugar as cousas que os homens desarrumaram
    Por não perceberem para que serviam
    Endireitar, como uma boa dona de casa da Realidade
    As cortinas nas janelas da Sensação
    E os capachos às portas da Percepção
    Varrer os quartos da observação
    E limpar o pó das ideias simples...
    Eis a minha vida, verso a verso.

    Caeiro, "Poesia", Assírio e Alvim, 2004, p. 102.

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  35. Eterno Menino Caeiro
    em que novo
    dia 8 de Março
    renasces
    em teu povo (?)...

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  36. «A contemplação inerte não pode ser o ar que o espírito do homem pede para respirar! O ar da vida é outro... A vida! no seu voo para o céu, na sua sublime ambição ideal, foi isso que esqueceu ao Cristianismo - a terra, a vida.»
    Antero de Quental, Filosofia

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  37. E já agora:

    VII
    Viver! ser homem! Que mais alta ambição pode um coração conceber?
    Círculo de ilimitado desejo que abraça a terra, o horizonte até onde o olhar se perde, o espaço até onde se some a fantasia!
    São as esperanças do céu e os cuidados da terra. Os ardentes amores do mundo, e as vagas aspirações de além túmulo. O finito deste momento que se sente, e o infinito da duração que se adivinha. O que as Religiões da Natureza podem dar à vida de calor e força, e o que podem inspirar de lânguido e místico as Religiões do Espírito. É pensar, crer, pressentir e amar! Erguer-se para cima, sem por isso desprezar o palmo de terra aonde se firmam os pés. Inclinar a cabeça sobre o brando regaço da realidade, sem esquecer o áspero caminho do ideal por onde tem de se seguir. Aonde há aí lei, religião, código que contenha no abraço ambicioso maior porção de verdade, da vida universal? A certeza do roteiro, que, para guiar-nos, nos dão esses pilotos de mares encobertos some-se, esvai-se na orla do horizonte que abrangem com os olhos. Para lá é o desconhecido; o oceano do possível - e os caminhos estão todos por abrir!
    Uma bússola só, por fatídico condão, aponta o Norte e o Sul. Mas não é a civilização dum ou outro século, a tradição desta ou daquela raça, o absoluto que uns sonham para que outros acordem em face do nada - um código ou uma religião -. É o secreto instinto da vida! a revelação natural! a voz da lei humana! [a verdade: divina]»
    Antero de Quental, Filosofia

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  38. Deixem-me em paz! Prefiro mil vezes o Idiota aos vossos discursos inquisidores de quem está vivo ou não!

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  39. Eh eh! Isto parece uma sala de aula, com os aluninhos à turras, antes de chegar o "setôr" ...

    Há sempre os espertinhos, tipo o Menino Zézinho, o Menino Joãozinho, etc., e, claro, as meninas, uma muito desempertigadita, com os pontinhos nos iii todos, e a outra, que debita a lição "na ponta da unha", não ligando "pêva" às "bocas" que os "madurinhos" lhe lançam...

    Portugal dos Pequeninos (eu incluído), no seu "melhor"!

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  40. Um certo "Idiota" poderia bem ter ido antes "pregar aos carapaus", por exemplo, no post com o texto da "Teoria do Ser e da Verdade", de José Marinho.

    Aí é que seria ver... o que o rapaz vale!!! Valeu?

    (Não é que eu valha alguma coisa, mas, ao menos, não tenho peneirada...!)

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  41. Não!? Olha que não parece... Desde que aqui chegaste opinas sobre tudo e todos, com ares e citações de vã ciência... Parece que fazes parte daqueles que denuncias, convencidos de estarem livres das ilusões de que acusam os outros...
    E a Anita, entende o que escreve?

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  42. Não escrevo para entender o que escrevo. Escrevo para entender-Me.

    Se procuras entender o que lês, nada podes entender. Pois não existe o que se lê, apenas o que lê - ou quem lê.

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  43. Se te queres entender, esquece-te. Deixa de te Maiuscular.

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  44. De acordo, o fim não está em entender o que se é, mas em ser o que se é - o que se entendeu e o que ainda não... (pelo menos, não por este meio de entendimento.)

    M ou m.
    Quem se importa com isso, deixou de saber que o grande já foi pequeno, e que o pequeno será grande. Que não há pequeno nem grande. Há. (Porque tudo é um mesmo.)

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  45. Vocês, moçoilos e moçoilas anonimais, é que, pelos vistos, separam o que eu não divido.
    Discriminar não é dividir, pobres bronquinhos!
    É apenas ver nitidamente o indistinto, em mistério, com a boca tapada de espanto!

    Que queres que faça?
    Que cale o que me manda que fale?

    Que te cales tu, porventura, se entendes que nada pode ser dito!!
    Entendes realmente?
    Não creio! Se não, já te terias emudecido de vez ...

    P.S.
    E... eu não "cheguei" aqui.
    Aqui estou!
    Tal como onde esteja...
    Mais uma vez: quem divide?
    Tenho dito!

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  46. Belíssimo, este rebentar do abcesso de toda a vaidade, presunção e mediocridade que fervilha nas entranhas deste blog! Tão ou mais belo e são que todas as mais belas palavras literárias e filosóficas que lhe doiram as alturas! Decerto mais profundo e libertador!

    Muito sinceramente grata!

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  47. Concordo em absoluto, Joana!
    Se bem que "abcesso" me pareça dizer ainda pouco: havemos de, em silêncio, escutar esse "sem nome"... que nos (des)encontra, trans-libertando...

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  48. Ave!, à "Nova Luz"!...

    «Emana um fumo d'alma o crepitar do lume...
    O incêndio duma flor dá a cinza do perfume.
    E o corpo duma onda é um místico braseiro
    Que exala, numa ânsia, o branco nevoeiro...
    É o incêndio supremo e santo da Matéria,
    Donde sai uma luz anímica e sidérea...
    Tudo o que é material, como a rocha erma e calma,
    Querendo e desejando, é luz, é sonho, é alma!
    A alma é o exterior, o corpo o interior.
    Onde termina um coração, começa o amor...
    Por isso, cada corpo inânime e pesado
    Duma auréola d'infinda luz está banhando.
    E, assim, uma ansiedade ignota, uma quimera,
    Pôs em volta da terra a lúcida atmosfera!...
    A luz envolve a chama e a chama envolve a lenha...
    Sensível musgo cobre uma insensível penha,
    E sobre o musgo paira o aroma espiritual...
    Mistério... Num aroma a pedra é imaterial!
    E todavia são a mesma vida pura
    O claro aroma, o verde musgo, a penha dura!...
    A terra é a mãe da Alma, a terra deu à luz
    O perfume da flor e a alma de Jesus!...
    O lodo é a Piedade, é o Amor infinito.
    É apenas comoção a rocha do granito...
    No Poeta comovido há a loucura do vento;
    A nuvem é um delírio, a água um sentimento...
    A fonte que através dum areal se perde,
    As suas margens vai vestindo de cor verde,
    Lançando nessa terra estéril, ressequida,
    Num beijo sempiterno, a semente da Vida.
    Uma gota d'orvalho é sonho, é ansiedade,
    Quer desça sobre o pó, quer suba à claridade..
    Qualquer terra que a toque acorda deslumbrada,
    E é uma erva, um perfume, uma alma enamorada!
    E é gota d'água, ó astro espiritual, o grande transmissor
    Da voz dos mundos e do seu estranho amor!...

    Todos os robles dão, ardendo, a mesma luz...
    Um tronco sobre um lar é um Cristo numa cruz!
    E é calor que agasalha e facho que alumia
    O que é em Cristo amor, piedade, harmonia...
    E tudo o que é no poeta emoção e delírio
    É luz no sol, canto nas aves, cor no lírio!...
    E tudo o que é em nós Bondade é num rochedo
    Viçoso musgo e santa sombra no arvoredo!...
    E, enquanto dou a um pobre um bocado de pão,
    O sol enche a luz o saco da amplidão!
    E, qual Samaritana, a nuvem religiosa
    Dá de beber a toda a terra sequiosa...
    Um murmúrio de fonte é um Sermão da Montanha
    E a neblina da tarde uma ascensão estranha!...
    E enquanto eu sou a morte, ó velho e frio inverno,
    Peranto o sol - Jesus, és um Lázaro eterno.
    Um promontório é um Cristo altivo, triste e só,
    E o mar divino um poço imenso de Jacob!...
    E as verdes ervas são versículos sagrados
    Que os ribeiros e o sol escrevem sobre os prados...
    E uma pedra contém a história verdadeira
    Do Génesis, da Luz e da Mulher primeira!...
    Ainda hoje, o Dilúvio, o velho avô das fontes,
    Anda na boca das florestas e dos montes!...
    E a mais estéril terra ainda recorda e chora
    O tempo em que beijou teus lábios d'oiro, aurora.
    Pela primeira vez, ardente de paixão!
    Ainda hoje impressiona a terra a sensação
    Que seu corpo diluiu em mística ternura,
    Ao conceber a primitiva criatura!
    E nos olhos da terra ainda fulgura a imagem
    Através da penumbra infinda do Mistério,
    Até desabrochar num coração etéreo!
    Há nos olhos da terra a imagem desse olhar
    Que a saudade transforma, às vezes, em luar...

    Deus disse à luz do sol o segredo da Vida.
    Desvendemos a Luz amada e preferida!...
    Vejamos a razão suprema da existência
    E o que ela tem d'amor, de espírito e de essência,
    O que nela é real, eterno e inconfundível...
    Que o nosso olhar penetre o mundo do invisível,
    Os páramos do Sonho, a amplidão da Quimera,
    Onde já se descobre a etérea Primavera,
    Nebulosa subtil composta dum perfume,
    Dum éter, dum amor, duma luz que resume
    A nova Criação que está para surgir
    Do caos do Amanhã, do beijo do Porvir!...

    O pó que a gente vê sobre os campos, disperso,
    É um caos; nele sonha um místico Universo!
    Apaga-se uma estrela e nela ressuscita
    A sua frágil luz, numa luz infinita...
    Se um homem fecha os roxos olhos, congelado,
    D'olhos eternos ele fica constelado!
    E duns ouvidos transformados em poeira,
    Brota a audição completa, imensa e verdadeira...
    E tudo o que termina e a cinza se reduz,
    Vai acordar em alma e despertar em luz!
    Um mundo auroreal, quimérico germina
    Em cada areia, em cada gota cristalina...
    E a nova Vida, numa onda a resplende,
    Aflora à superfície ideal do novo ser.
    Um novo Apolo vai tocar a nova Lira...
    E na água que se bebe e no ar que se respira,
    Nas nuvens onde dorme a clara luz dos céus,
    Palpita um novo amor, murmura um novo Deus...»
    Teixeira de Pascoaes, "Para a Luz"

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  49. É bom de ver em ti, Anita, tamanho deslumbramento por Pascoaes.
    As melhores coisas, bem parece, em ti ocorrem assim: com esse caudal de lucífluo vulcão!
    Mas... por favor, com o teu ofuscamento não acabes por ofuscar o "pobre tolo" Pascoaes!

    Brinco, jovialmente, contigo, Anita - entende!
    Eu também amo a voz do mais saudoso cantor do Marão e do Tâmega.

    Mas é com igual intensidade que dele me saturo, ciclicamente: é nessas alturas que creio melhor entendê-lo...

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