sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Aquele a quem foi dado ser plenamente

"Aquele a quem foi dado ser plenamente como o em que se nega todo parcial ser, como o que vê e, no ver do que é, infinitamente ultrapassa todo ver e saber finito, esse, no mesmo instante em que frui a mais pura alegria, sabe para sempre toda a verdade"

- José Marinho, Teoria do Ser e da Verdade, Lisboa, Guimarães Editores, 1961, p.19.

10 comentários:

  1. Deste in-stante primordial de toda a visão até à emergência do insubstancial substante – desde o “ ser da verdade na cisão” (pág.113) - "claro mistério e pleno sentido da união suma e inalterada de todo o ser e toda a verdade"(idem), ali onde o espírito, que é a própria liberdade (pág.161),"se conhece e reconhece na plenitude cumulativa da cisão e da visão unívoca" (id.), "ao instante da visão “incessantemente regressamos" (pág. 167), ali onde "tudo é liberto" (id.).

    Se, por um lado, nos há-de ser dado ver "todo o imenso processo do ser como libertação"(id.), por outro, tudo veremos também "imediatamente como já liberto e exultante no mais secreto do seu ser na radiosa comunhão"(id.).

    Se a visão (theoria) do ser e da verdade - "doutrina imperitura do espírito e da verdade no trânsito e recurso da necessidade substancial para a essencial liberdade" (pág. 168)- , que é verdadeira "sabedoria iniciática" ("toda a filosofia é iniciática, viva enquanto a pensamos, fecunda para aqueles a quem é dado repensá-la": pág.15), se a visão, pois, se abre "pela interrogação"(pág. 168) e se o pensar tem sua origem no instante do enigma (id.), "à interrogação cabe explicitamente regressar e ao enigma"(id.) - pois que "o homem é ser de enigma e enigmáticos nele advêm ser e verdade para si"(pág.27), quando "do ser da visão unívoca se separa o espírito", como"o ainda ignorado"(id.).

    É dessa “interrogação insituada, velada ainda e para sempre”(pág.27) que, em enigma, surgem ao homem, a cada e a todo o homem, as duas interrogações fundamentais, referidas em “absoluteidade” ou “minimalidade”, ao ser ou à verdade(id.).

    Assim, se “a todos o encontro foi dado com o absoluto ser da verdade, ou com a imensa plenitude infinitamente aberta, ou com o autêntico sentido do existir consciente” (pág.24), apenas àquele que “solitário medita” (pág.25), ainda que viva na ”raiz e flor da vida”(pág. 16), a esse apoenas é dado verdadeiramente iniciar tal “imensa ou intérmina viagem”(id.).

    Ah, mas quem quererá ainda ser em si mesmo Ulisses, numa tal íntima e perigada odisseia sem garantido destino?

    Gratíssimo, meu caro Paulo, por este sempre fundíssimo Marinho, “culpadíssimo” aliás pelo chamar-se-me ao (quanto possível eu o logre) radicado e extreme pensar.

    Não ousaria postar Marinho antes de quem sempre o faria e fará “melhoríssimamente” do que eu.

    Abraço, pois, nessa “raiz e flor da vida”, de que fala nosso filósofo, onde porventura, desde o mais surpreendente e espantoso mistério, brota essa “mais pura alegria” de que Marinho, por este meu tão sábio quanto taciturnamente meditante amigo, mais uma vez me trouxe segura e acenada notícia!

    (A meu sábio amigo e, claro, a Marinho, peço muito perdão por tais "filosofantes" ousadias e errores ...)

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  2. “Esse, no mesmo instante em que frui a mais pura alegria, sabe para sempre toda a verdade.”

    Junto estas palavras de Tony Ceron.
    “A evidência do Coração.

    As filosofias, as religiões, as ciências, os esoterismos, os saberes e tudo o que vem do espírito, da alma e do corpo, procuram afastam-nos da Fonte Primordial, formidavelmente calorosa e amigável. Tudo o que rodeia esta Fonte nos mostra uma génese, um caminho para possíveis que parecem mais interessantes, quando na verdade não há nada disso, cada instante de presença morrendo para ele próprio, sem método, sem ruído, sem drama, sem tempo, na alegria mais fecunda que há. É a Evidência do Coração; ela é como uma grande ternura.”



    Ternamente.

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  3. Quem é o sujeito desta experiência?

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  4. Será isto um experiência?

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  5. Pergunta ao Lapdrey e ao Borges, que sabem tudo, menos que saber não é nada.

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  6. Finalmente um pensador que pensa a partir do impensável! Os portugueses ignoram este grande nome e preferem andar a repetir as banalidades de Pessoa e outros...

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  7. Alguém falou aqui em saber?
    Não terá sido sabor?
    Hum?

    Uns "confundômetros", é o que é!!

    Roda-pé:
    Seria "bom"(seria?) "saber" (será um saber de nada! ou... o tal nada de e do saber...) o que um certo Onésimo, perdão, Anónimo tem a dizer ou não dizer, calar ou não calar... ou o que quer que seja ... ou não... ou...... ou nada.
    Mas se for nada ... que tal nada se cale de vez.
    E não ande a fazer figura de Sofista trans-pós-moderno da treta - para mais, e o mais certo, sofista sem soldo...

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  8. Sim,
    estou absolutamente rendido
    a este génio anónimo
    que pensa (digo eu)
    a partir o impensável (diz ele)
    o pensável (diz ele)
    do impensável (digo eu)

    José Marinho, se aqui estivesse, acharia a maior das graças, e sair-se-ia com uma, tipo:

    "Só conhecemos o que não sabemos. O que sabemos não carecemos de o conceber. Todo o conceito autêntico radica na razão que evanesce e orienta-se para a ideia que o ultrapassa.
    (...)
    O espaço e o tempo coincidem, tal como o êxtase, com todo o movimento. Um divino mesmo, aquém de Deus, permeia e transmuda subtilmente todo o para nós móvel"

    (in "Grave", catálogo da "Exposição 18 Fotografias de Mariano Piçarra", acompanhadas por outros tantos aforismos de José Marinho, seleccionados e tratados por Jorge Croce Rivera, Lisboa, Set/Out de 1999, acetato entre págs. 36/37, Arquivo Fotográfico da C.M.L.)

    Um amador de conceitos, este Marinho!
    E um coxo da pineal, sem dúvida!
    Enfim, ainda bem que já não há muito "disto": só turvava por cá as águas... do Ponge, por exemplo... aqui ao lado.

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  9. Porque diz "a quem foi dado ser plenamente" e não "a quem é plenamente"?

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  10. Porque foi "antes" do (teu) tiro de revólver, caro Antero!

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