quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Haiku

Nuas por fora
prenhes de verde por dentro
as árvores esperam.


David Rodrigues
Estações Sentidas. 111 Haiku, 2007
Indícios de Oiro, Edições, Lda


como nos diz o próprio poeta "Talvez a grande sedução do haiku seja o seu carácter conciso. Ainda que sem uma fórmula rígida, espera-se que o haiku tenha aproximadamente cinco sílabas no primeiro verso, sete no segundo e, de novo, cinco no terceiro" (Rodrigues 2007, cit. in Estações Sentidas. 111 Haiku, p. 9)

ainda no dizer do poeta "hacaísta" brasileiro Paulo Franchetti "Haikai não é a síntese, no sentido de dizer o máximo com o mínimo de palavras. É antes a arte de, com o mínimo, obter o suficiente"

Segundo Gonçalo M. Tavares "Se pensarmos com a fita métrica na cabeça diremos que há pouco para ler, no entanto a leitura de um Haiku É muito mais lenta do que o normal. Ler um Haiku é, de certa maneira, voltar de novo à experiência de aprender a ler, de ler como uma criança -letra a letra - como se a visão fosse menos ver do que tocar" (cit. in prefácio Estações Sentidas. 111 Haiku, 2007)

16 comentários:

  1. Cara Liliana Jasmim,

    Gostei deste Haiku, também gosto de outros. Aprecio essa concisão e, simultaneamente, aquele ver por fora e por dentro... a simplicidade do ver. O haiku, normalmente, tem uma parte em que o seu conteúdo recai sobre o vasto ou o pormenor, com a nitidez ou o distânciamento que requer o que se vê e é, para ser em seguida "cortado", acordado, por um ruído, uma parcela da realidade, um som... que desvia, por assim dizer, a mente para o que é, de imediato, o tal-qual-ismo do que é...ou mais ou menos.
    Apesar de gostar de Haikais, tenho tristeza do poema que ontem postou e que também era belo. Seria mesmo de que autor? Faça-me um favor, lembre-me o autor...

    Um abraço, Saudades

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  2. claro,

    o poeta cubano é Emilio Ballagas


    e aqui fica o poema para si


    POEMA IMPACIENTE


    E se você chegar tarde,

    quando minha boca tiver

    sabor seco de cinzas,

    e de terras amargas?


    E se chegar quando

    a terra removida e escura (cega, morta)

    chova sobre meus olhos,

    e desterrado da luz do mundo

    te busque em minha luz,

    na luz interior que eu achava

    que vinha fluindo em mim?

    (Quando talvez descubra

    que nunca tive luz

    e ande tateando dentro de mim mesmo,

    como um cego que tropeça a cada passo

    com lembranças que ferem como cardos.)



    E se chegar quando já o tédio

    ate e tape as mãos; .

    quando não possa abrir os braços

    e fechá-los depois como as valvas

    de uma concha amorosa que defende

    seu mistério, sua carne, seu segredo;

    quando não possa ouvir abrir

    a rosa de seu beijo nem tocar

    (meu tato murcho entre a erva hirta)

    nem sentir que nasce em mim outro perfume

    que lhe responda ao seu,

    nem mostrar a suas rosas

    a cor das minhas?



    E se você chegasse tarde e encontrasse (apenas)

    as cinzas gélidas da espera?


    Emilio Ballagas
    in Sabor eterno, 1939

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  3. Obrigada, Liliana, era isso mesmo...afinal li o que li, e vi o que vi, estou mais tranquila.

    Um abraço, Liliana Jasmim, que sendo de doce perfume, me perfuma o jardim da memória.

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  4. Grato, Liliana, por trazer (com um cheirinho ocidental, embora) esse "modo de olhar" tão peculiar e singelo que é o haiku, onde eu sempre respiro e revisito, de algum modo, aquilo que foi a marca e a estação primeira na minha viagem interior: o Zen.

    Jamais se perde o olhar "zen" sobre as coisas...tal permanece como se da areia dum jardim zen se tratasse.
    Podem mudar as pedras, e o traçado na areia, mas o chão que os sustenta está lá sempre e é de algum modo o "mesmo".

    Não resisto a citar aqui umas significativas palavras de R.H.Blyth (autor de dois clássicos sobre o assunto:

    1."Zen in English Literature and Oriental Classics", The Hokuseido Press, 1942.,

    2."Haiku", monumental edição em 4 volumes, 1949-1952, The Hokuseido Press

    e que se gravaram em mim como um sinete paradoxal, que não deixou qualquer marca, mas que permanece ainda assim indelével em mim.

    Ei-las:

    "Um haiku não é um poema, não é sequer literatura: é uma mão estendida, é uma porta entreaberta, é um espelho que se limpa. É uma via de retorno à natureza, à nossa natureza que é também a da lua, da flor de cerejeira, e da folha morta - numa palavra, de retorno à nossa natureza de Buda. Trata-se de uma linguagem onde a chuva fria de inverno, as andorinhas ao crepúsculo, o calor do dia e o arrastar da noite se tornam coisas vivas, que partilham a nossa existência, falando a sua linguagem própria, a um tempo silenciosa e expressiva".

    (citado in "Le Monde du Zen" antologia organizada por Nancy Wilson Ross, Ed. Stock, 1970, pág. 121)

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  5. Belo poema! Mas não gosto. Tu é que és muita gira. Se fores tu.

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  6. "A flor arde no cimo da retrete"

    - Piassaba, "Dez mil teses sobre o que não existe", Venda das Raparigas, Edições ao Relento, 1978, p.56.

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  7. Caro Papa,
    - nunca me imaginei a falar com o Papa (Mamã, estou a falar com o Papa!!!)

    Saiba vossa "santidade" que dispôs mal os versos do seu haiku.

    (Não aprenda, que eu vivo sempre!)
    É assim que deve fazê-lo.


    belo, mas não poema.
    gosto (tu é que és) muito -
    gira, se fores: tu.



    Caro Xiló (fone?),
    Quanto a si. Deixe ver...


    re (arde)
    trete: da flor -
    o cimo



    Última hora!!!
    Raparigas à venda!!!

    não existe o que pia
    ssaba sobre -
    mil teses: dez


    Só mais um! O último!
    (este dedicado à Liliana)


    estações sentidas
    indícios de liliana:
    jasmim de oiro

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  8. saudadesdofuturo,

    foi uma tentativa de lhe poupar o esforço "mas será que eu afinal vi, li o poema ali?"

    :)

    abraço e continuação de boas leituras.

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  9. Caro Lapdrey,

    nem eu faria melhor comentário

    obrigado pela atitude.


    (é sempre bom andar por blogues a esta hora, dá mesmo para rir um pouco)

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  10. Liliana,

    Ainda corrigi um pouco o "seu" haiku.
    Fica com o narizito mais "lavadito" assim ...



    sentir das estações
    liliana nos indícios:
    oiro de jasmim


    ...
    a vida pode ser (se o quisermos) um haiku realmente interminável
    ...

    (P.S. Ah, pois... em mim, o estado de desperto, na busca do despertar, não tem realmente hora marcada no relógio, que nem uso.

    "É a Hora" é a toda a hora...
    E eu, na verdade, durmo acordado, e acordado sonho...)

    Um abraço bem zen...

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  11. Não conhecia o haiku até há pouco tempo, mas sempre apreciei a simplicidade. Tal como é dito no livro citado "Le Monde du Zen", de uma outra forma também sempre senti que a simplicidade abre portas, a complexidade fecha-as, limita-nos. Grata pelas partilhas.

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  12. Seremos essas árvores, prestes a primaverar?

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  13. Árvores somos,
    hiperbóreas florações vegetais de ser,
    raízes brotando a ocidente
    entre o Hades que nos há
    e as Hespérides que guardam quanto nos seja.
    Ajardinando o peito nu,
    férteis no agora esperante:
    sempre encontramos o que já temos.

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  14. Quanta inspiração caro Lapdrey...

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  15. Liliana, adorei este haikai, gosto mt deles e acho extraordinária a combinação de objectividade/profundidade que é necessária para os conceber, de forma agadável e coerete.

    É um verdadeiro desafio escrever sob esta forma poética.

    Se tiveres mais haikais assim, posta-os aqui ou e teu bog pk gosto mt de os ler :)

    Obrgda

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