domingo, 16 de novembro de 2008

Comunicação


Vê. Que perfume vem do não ter sido

Que alvoradas te semeiam de espanto

No centro do teu peito está a luz

Essa luz que me traz anoitecido


A mesma luz que brilha no meu pranto

tudo em mim transfigura essa luz

Vê. Sempre essa luz alva e dançarina

Sempre sem mácula e alucinante


Tudo é na luz pouco mais que neblina

Uma vaga impressão um breve instante

Vê. O tempo é um voo para além


Não existe o que resiste à mudança

Não há morte. Vê. Que perfume vem

Do Longe que nenhum olhar alcança?


_________

(Para o Luís. Quando eu tinha 16 anos o seu irmão morreu quase sozinho no hospital Pulido Valente. Só lá estava eu e o meu medo sem nome. No sábado passado lembrei-me do olhar vazio do Zé e do sorriso triste do Luís. Minutos depois soube da sua morte. Uma morte do mundo.).

4 comentários:

  1. Paulo,

    É com sentida comoção que leio o sentimento grandioso, enorme que se desprende do belíssimo poema. "...um perfume que vem do longe e que toca as sensíveis cordas do instante. Mágnífico.
    Fecho os olhos e imagino essa "morte do mundo", em luz profunda.

    Um abraço, um aperto no seu braço.

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  2. Tão belo, apesar de triste!

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  3. Paulo, este belo soneto é seu? O mundo sempre morre na morte de quem o percepciona como tal.

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  4. "Tão belo, apesar de triste"... Como pode a beleza não ser triste, neste desterro que somos!?...

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