Percorria, por entre a névoa, o porto da esperança.
Já não sabia se era homem, se tinha um espírito livre, no vento; ou se alguma vez tinha meditado, pois a mente balbuciava-lhe um turbilhão de inquietações, angustiantes. E o corpo, dorido, era fustigado por um cansaço enorme e cada passada, parecia uma chicotada.
Contudo, tinha fé...fé de que poderia ainda chegar a tempo. Dentro de si, uma réstea de luz, um trajecto de vida alicerçado na busca de paz. Pois bem, era o que agora também pretendia, afinal, o que sempre quis: luz e paz, envoltas em sabedoria, na prática da compaixão.
Num pote, sagrado, levava as cinzas de quem fisicamente, amara. Como era possível que o ser humano ficasse assim reduzido? Chorava, por dentro. Emudecido, sentia ainda um nó na garganta provocado pela dor da perda. Queria também morrer, parar de sofrer. Cobardia? Talvez sim... E contrariava, sem dúvida, tudo o que tinha aprendido no mosteiro.
Diante de si, o barco que o levaria, rio fora, até ao oceano gelado, e profundo. Já se poderia imaginar a navegar, quase sem rumo (por que rumo, há sempre - por desconhecido que seja!). Seria a partir de hoje, e sempre, um monge eremita. Isto se não morresse, em corpo.
Precisava parar, do mundo, se afastar... Mas restava-lhe o sonho como bálsamo para a saudade, constantes lembranças que o atordoavam noite, e dia. Seria então um fantasma, coabitando com os seus mais íntimos.
Dura solidão, pura loucura, almejo de felicidade... Este é o trajecto de um homem, na sua senda de verdade.
:)
ResponderEliminarAs cinzas que transportamos em memória são sagradas. A dor é uma abertura por onde os seres se olham em outros níveis e em outras dimensões da compreensão. Saudar a vida e a morte,unir os mundos.
ResponderEliminarCada um de nós é um mosteiro onde os mortos também vivem...
Somos todos fantasmas, porque nascer é morrer.
ResponderEliminare aposto q a desterrada é a isabel santiago..(",)
ResponderEliminarcomentário mt bom, saudades!
agradeço o sorriso, paulo.
Enganas-te: A Desterrada és tu!
ResponderEliminar?????????
ResponderEliminarAo contrário do que tu pensas com tanta convicção, não é a Isabel Santiago. Mas ela, inversamente, como eu e a outra "Desterrada" que por aqui andou sabe que o somos.
ResponderEliminarCara nas asas de um anjo
ResponderEliminarli o seu texto e até estive quase para comentar. Depois sucedeu o que sucedeu e não me lembrei mais do texto nem do ímpeto original para conversar um pouco consigo. Não foi por mal. Foi porque teve que ser assim. É um texto com dimensão literária e terno, penso que a ternura é possível na tristeza e na dor. Penso que a literatura é um poderoso meio para criar sentido, mesmo e sobretudo, pelas fissuras onde sentimos que esse sentido nos escapa.
Quanto à sua aposta, quer acredite ou não, não fui eu. É uma aposta não conseguida. Mas sou - e agradeço à observadora fantasmática, que julgo saber quem é bem como a desterrada - consciente da minha condição: ser desterrada. Conhecem-me bem para saber que sim, que o sou.
Mas, claro está, nas Asas de um Anjo, julga como quiser.
Mas o meu comentário, bem sei, está muito aquém do da desterrada...
Mas ter pensado que fui eu a fazer um comentário tão bom, faz-me enviar-lhe um sorriso. Mas não fui.
De qualquer das formas, obrigada pelo texto.
Dia feliz.
boa tarde a ambas,observadora e isabel !
ResponderEliminarnum outro comentário a um post, li uma afirmação da isabel sobre a condição de "desterrada" e associei p isso, foi só um palpite, nada+.(",)
obrigada e td de bom!